Fortuna do 1% mais rico poderia erradicar a pobreza 22 vezes

Desde 2015, os mais ricos do mundo acumularam, no mínimo, 33,9 trilhões de dólares
fortuna-mais-ricos-mundo-erradicar-pobreza-global-oxfam-marcello-casal-agencia-brasil-tvt-news
Dados são do documento Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia, da Oxfam. Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

O desenvolvimento global está em um rumo “desastrosamente fora do curso”, com a extrema concentração de riqueza minando os esforços para erradicar a pobreza. O alerta foi feito pela Oxfam em um relatório divulgado às vésperas da 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento, que acontecerá de 30 de junho a 3 de julho em Sevilha, na Espanha. Saiba mais na TVT News.

O documento Do Lucro Privado ao Poder Público: Financiando o Desenvolvimento, Não a Oligarquia revela dados chocantes sobre a disparidade econômica global. Desde 2015, a riqueza do 1% mais rico do mundo cresceu mais de 33,9 trilhões de dólares em termos reais. De acordo com a Oxfam, essa quantia colossal seria suficiente para eliminar a pobreza global 22 vezes, considerando o limite de 8,30 dólares por dia do Banco Mundial.

No mesmo período, a fortuna de apenas 3.000 bilionários disparou em 6,5 trilhões de dólares, o que representa 14,6% do Produto Interno Bruto (PIB) global. O relatório aponta que a riqueza privada global cresceu oito vezes mais que a pública entre 1995 e 2023, levando a uma diminuição da participação da riqueza pública. Atualmente, os 1% mais ricos detêm impressionantes 43% de todos os ativos globais. 

Modelo de desenvolvimento em colapso

A Oxfam critica o modelo de desenvolvimento atual, que privilegia investidores privados na esperança de mobilizar recursos. Essa estratégia, descrita pelo Banco Mundial como uma mudança de “bilhões para trilhões”, falhou em financiar o desenvolvimento e resultou em uma “tomada de poder pelo setor financeiro privado”, que prioriza lucros em vez do combate à pobreza. 

O diretor-executivo da Oxfam Internacional, Amitabh Behar, é categórico: “O desenvolvimento global está falhando porque os interesses de uma minoria super-rica são priorizados.”

A crise é agravada por políticas de austeridade e cortes na ajuda humanitária. Os países do G7, grupo das nações mais ricas do planeta (Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido), responsáveis por cerca de três quartos da ajuda oficial, planejam reduzir seus repasses em 28% até 2026, marcando os maiores cortes desde 1960.

Simultaneamente, a crise da dívida sufoca governos de baixa renda, com 60% deles gastando mais com credores do que com serviços essenciais como saúde e educação. A Oxfam destaca o papel dos credores, que detêm mais da metade da dívida desses países e impõem condições abusivas. Como consequência, apenas 16% das metas dos ODS estão no caminho certo para serem alcançadas até 2030.

Brasil é reflexo da desigualdade

O Brasil é citado no relatório como um “retrato escancarado do fracasso do atual modelo”, devido à sua extrema concentração de riqueza, impulsionada por um sistema tributário injusto e regressivo que aprofunda desigualdades históricas de raça e gênero. A diretora-executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, ressalta que as mulheres negras, indígenas e periféricas são as mais afetadas.

Ações propostas pela Oxfam

do-lucro-privado-ao-poder-publico-oxfam-pobreza-desigualdade-tvt-news

Para reverter o cenário, a Oxfam propõe uma série de medidas radicais, pedindo aos governos que abandonem o “Consenso de Wall Street” e adotem uma abordagem “público primeiro”, investindo em ações de desenvolvimento formuladas pelo Estado. Além disso, os países devem: 

  • Tributar os super-ricos: A organização defende a taxação dos mais ricos para financiar serviços públicos e ações climáticas. Uma pesquisa global indica que 9 em cada 10 pessoas em 13 países, incluindo o Brasil, apoiam a medida;
  • Revitalizar a ajuda humanitária: Doadores do Norte Global devem reverter os cortes na ajuda e cumprir a meta mínima de 0,7% da Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (AOD);
  • Reformar a arquitetura da dívida: A Oxfam propõe uma nova convenção da ONU sobre dívida;
  • Investir em serviços públicos: A organização sugere que os governos invistam em desenvolvimento liderado pelo Estado, garantindo serviços universais de saúde e educação de alta qualidade;
  • Criar novas alianças: Países como Brasil, África do Sul e Espanha devem liderar coalizões internacionais para combater a desigualdade.


Amitabh Behar conclui o texto com um apelo aos governos: “Trilhões de dólares existem para cumprir as metas globais, mas estão trancados nas contas dos super-ricos. É hora de colocar o setor público no comando.” O desafio agora é se a comunidade internacional irá atender a esse chamado urgente.

Com informações da Oxfam

Leia mais notícias na TVT News

Assuntos Relacionados