Objetivo da Universidade de São Paulo é valorizar obras de autoras mulheres, muitas delas pouco conhecidas pelo público
A Fuvest, fundação responsável pelo vestibular que dá acesso à Universidade de São Paulo (USP), divulgou a lista de obras literárias que os candidatos deverão ler para a prova entre 2026 e 2029. Desta vez, a seleção é composta exclusivamente por autoras mulheres, com o objetivo de destacar a produção literária feminina, tanto de escritoras consagradas quanto de nomes menos conhecidos pelo grande público. Entre as autoras escolhidas estão Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Lygia Fagundes Telles e Rachel de Queiroz, além de outras como Djaimilia Pereira de Almeida, Julia Lopes de Almeida e Nísia Floresta. A iniciativa busca não apenas valorizar personagens femininas, mas também a autoria de mulheres na literatura. Confira mais em TVT News.
A partir de 2029, a lista deve retornar ao formato tradicional, incluindo autores clássicos como Machado de Assis, Erico Veríssimo e Luís Bernardo Honwana, além de quatro obras escritas por autores negros. Em entrevista ao Jornal da USP, Gustavo Ferraz de Campos Monaco, diretor executivo da Fuvest, destacou que a medida visa promover a diversidade e a representatividade na literatura, ampliando o repertório cultural dos estudantes. Por muitos anos, as mulheres foram silenciadas na literatura, relegadas às prateleiras esquecidas, assim como sua contribuição para a educação e a cultura.
No entanto, esse cenário começou a mudar, especialmente a partir do século XX, com marcos como a indicação de Rachel de Queiroz à Academia Brasileira de Letras. Ela foi a primeira mulher a ocupar uma cadeira na instituição, rompendo barreiras e abrindo caminho para outras escritoras. Posteriormente, novas iniciativas surgiram para ampliar a visibilidade das autoras, como a criação de coletivos literários dedicados a promover escritoras independentes, como o Coletivo Marianas e o Mulherio das Letras, que têm desempenhado um papel crucial na divulgação e valorização da produção literária feminina.
A iniciativa da Fuvest reforça a importância da representatividade feminina na literatura e abre espaço para a discussão sobre o papel das mulheres na construção da cultura e da história brasileira.
Conheça algumas das autoras e obras que serão cobradas a partir de 2026:
1. Opúsculo Humanitário (1853), de Nísia Floresta
Coletânea de 62 artigos que abordam temas como educação feminina, igualdade de gênero, escravidão e direitos dos povos indígenas. Nísia Floresta Brasileira Augusta (1810-1885), nascida Dionísia Gonçalves Pinto, foi uma das primeiras feministas do Brasil, além de educadora e jornalista. Sua obra é marcada pela defesa dos direitos humanos, denunciando a opressão contra mulheres, negros escravizados e indígenas.
2. Nebulosas (1872), de Narcisa Amália
Publicada em 1872, a obra reúne 44 poemas que exploram temas como a condição da mulher, a natureza e a crítica social abolicionista. Narcisa Amália (1852-1924) foi uma das pioneiras do jornalismo brasileiro e defensora do abolicionismo e do ideal republicano. Sua produção literária recebeu elogios de figuras como Machado de Assis e do imperador Dom Pedro II.
3. Memórias de Martha (1899), de Julia Lopes de Almeida
Nesta autobiografia ficcional, Julia Lopes de Almeida narra, sob o pseudônimo de Martha, a vida em um cortiço carioca no final do século XIX. A obra retrata as dificuldades enfrentadas por uma mãe solo para sustentar a filha e defende o acesso das mulheres à educação como forma de conquistar novas oportunidades.
Os livros Opúsculo Humanitário e Memórias de Martha estão disponíveis para leitura gratuita na internet.
Confira a lista completa dos livros que serão cobrados pela Fuvest entre 2026 e 2029
2026
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- O Cristo Cigano (1961) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- As meninas (1973) – Lygia Fagundes Telles
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2027
- Opúsculo Humanitário (1853) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida
- Caminho de pedras (1937) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2028
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- Memórias de Martha (1899) – Julia Lopes de Almeida
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- A paixão segundo G. H. (1964) – Clarice Lispector
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Balada de amor ao vento (1990) – Paulina Chiziane
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida
2029
- Conselhos à minha filha (1842) – Nísia Floresta
- Nebulosas (1872) – Narcisa Amália
- D. Casmurro (1899) – Machado de Assis
- João Miguel (1932) – Rachel de Queiroz
- Nós matamos o cão tinhoso! (1964) – Luís Bernardo Honwana
- Geografia (1967) – Sophia de Mello Breyner Andresen
- Incidente em Antares (1970) – Erico Verissimo
- Canção para ninar menino grande (2018) – Conceição Evaristo
- A visão das plantas (2019) – Djaimilia Pereira de Almeida