Neste 26 de setembro de 2025, Gal Costa completaria 80 anos. Nascida Maria da Graça Costa Penna Burgos, em Salvador, em 1945, a artista atravessou mais de cinco décadas de carreira reinventando-se musicalmente e consolidando-se como uma das vozes mais potentes e plurais da MPB. Sua morte, em novembro de 2022, deixou um vazio irreparável, mas um longo legado de uma artista que desafiou as normas, quebrou barreiras e inspirou gerações. Relembre a carreira de Gal na TVT News.
O começo: das raízes baianas ao encontro com a Bossa Nova
Criada pela mãe, Mariah Costa Penna, após a morte precoce do pai, Gal teve contato com a música ainda no ventre, quando Mariah ouvia peças de música clássica para estimular a filha. Na adolescência, trabalhando em uma loja de discos, mergulhou na Bossa Nova e teve a vida transformada ao ouvir Chega de Saudade, de João Gilberto. Mais tarde, receberia do próprio João um reconhecimento precoce que moldou sua trajetória: “Você será a maior cantora do Brasil”.
Foi também na juventude que conheceu, através de Dedé Gadelha, os parceiros que mudariam sua vida e a história da música brasileira: Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia. Anos depois, Gal se juntaria com os três amigos e formariam o grupo Os Doces Bárbaros.
O Tropicalismo e a contracultura
Sua estreia profissional ocorreu em 1964, no espetáculo Nós, por exemplo. Dois anos depois, já estava gravando ao lado de Bethânia e, em 1967, lançou Domingo em parceria com Caetano. Mas foi em 1968, ao participar do álbum-manifesto Tropicália ou Panis et Circensis, que Gal virou protagonista na música brasileira.
Seu primeiro álbum solo foi Gal Costa, em 1969, onde uniu MPB e rock psicodélico com canções como Divino Maravilhoso e Não Identificado. A ousadia de suas performances, os cabelos volumosos e a sensualidade desafiadora tornaram-se símbolos de resistência num país marcado pela censura e pela repressão militar. Com Caetano e Gil exilados, Gal assumiu a linha de frente do movimento, sendo comparada por críticos internacionais a Janis Joplin pela intensidade e liberdade no palco.
Em 1971, Gal realizou o show Fa-Tal: Gal a Todo Vapor, que se tornou um marco, imortalizando interpretações como Vapor Barato e Pérola Negra. Em 1973, enfrentou a censura com o álbum Índia, cuja capa foi proibida. A consagração veio mesmo com Gal Tropical, de 1979, disco que vendeu mais de 1 milhão de cópias.

Diálogo com novas gerações
Gal nunca se acomodou. Nos anos 1990 e 2000, continuou a transitar entre projetos de releitura e novas sonoridades, mas foi em 2011 que surpreendeu novamente com Recanto, álbum produzido por Caetano e Moreno Veloso. Apostando em bases eletrônicas e experimentações, o disco conquistou novos públicos e reforçou sua disposição em se reinventar.
Nos últimos anos de carreira, Gal intensificou o diálogo com a nova geração da música brasileira. Dividiu o microfone com nomes como Criolo, Marília Mendonça e Tim Bernardes, que definiu a experiência como “uma honra impossível de explicar”.
O último ato
A última vez que Gal subiu ao palco foi em setembro de 2022, no Coala Festival, em São Paulo, como parte da turnê As Várias Pontas de uma Estrela. Pouco depois, interrompeu a agenda para uma cirurgia e morreu em 9 de novembro daquele ano, aos 77 anos. A notícia gerou comoção nacional.
Apesar das polêmicas trazidas à tona pela imprensa sobre dificuldades financeiras e a divisão do espólio da cantora, o Brasil nunca esqueceu de sua “maior cantora”, título dado por Caetano.
Em 2025, o lançamento póstumo do álbum As Várias Pontas de uma Estrela (Ao Vivo no Coala) devolveu aos fãs uma pontinha da intensidade de sua última performance, deixando registrado para sempre sua estrondosa carreira e seu amor pela música, em uma última despedida.
Oito décadas após seu nascimento, Gal permanece presente nos discos, nas homenagens e na memória de quem tem a chance de ouvir suas canções. Sua voz, como escreveu Caetano, “não passa”. Gal Costa é, e continuará sendo, para sempre, um dos maiores patrimônios da cultura brasileira.