Artistas do Teatro de Contêiner Mungunzá e membros da ONG Tem Sentimento foram alvo de violência policial da Guarda Civil Metropolitana (GCM) de São Paulo nesta terça-feira (19). Agentes utilizaram spray de pimenta para retirar os integrantes do coletivo artístico de um prédio anexo ao teatro, na região da Cracolândia, no centro da capital paulista. Saiba mais em TVT News.
A cultura na região está sob ataque desde 28 de maio, quando uma notificação extrajudicial da Prefeitura de São Paulo informou aos artistas e integrantes do Teatro de Contêiner Mungunzá que eles tinham que desocupar a área municipal onde estão instalados no centro de São Paulo. O prazo para a saída definitiva termina nesta quinta-feira (21).
Apesar do prazo não ter chegado ao fim, artistas e outros trabalhadores da cultura foram retirados à força de um prédio anexo ao teatro, onde eram guardados equipamentos, nesta terça-feira. O Teatro de Contêiner pediu a prorrogação do prazo por mais 120 dias, mas teve o pedido negado pela gestão de Ricardo Nunes (MDB). Além da expulsão, a companhia sofre com outros problemas, como o corte no fornecimento de água.
O espaço é usado como sede da Cia Mungunzá desde 2016. Até então, o terreno de 295 metros quadrados entre as ruas General Couto Magalhães, dos Gusmões e dos Protestantes estava desocupado. O espaço ocioso, que pertence à Prefeitura, foi transformado com recursos próprios da companhia em um equipamento de promoção de cidadania e cultura.
O Teatro de Contêiner é importante para a promoção de atividades socioculturais para as pessoas em situação de vulnerabilidade que vivem na região. O ambiente com paredes de vidro recebe apresentações teatrais e tem um jardim-horta e uma sala pedagógica. A arquitetura inovadora com 11 contêineres tem reconhecimento internacional.
A ONG Tem Sentimento faz parte do mesmo projeto. Trata-se de um ateliê de corte e costura que trabalha com geração de renda e capacitação de mulheres cis e trans. As peças são vendidas em eventos, feiras, bazares ou oficinas.
A reintegração de posse violenta ocorreu nesta terça, porque prefeitura deseja demolir o teatro e construir “habitações e área de lazer”. O desepejo é uma estratégia política de enfraquecimento de políticas sociais e culturais.
As negociações para despejo do equipamento cultural começaram em agosto de 2024. Os membros da Cia Mungunzá afirmam que, na região, há muitos terrenos baldios e sem finalidade pública que poderiam ser utilizados em vez do perímetro do Teatro de Contêiner.
Os terrenos oferecidos pela gestão Nunes para realocação da Cia Mungunzá não tem as especificações técnicas para receber a infraestrutura, afirmam membros da companhia. Após quinta-feira (21), o destino do Teatro de Contêiner é incerto, porque não possível fazer uma realocação imediata da estrutura. Até o fim do ano, estão planejadas 60 apresentações teatrais.
MinC e Funarte repudiam violência policial contra Teatro de Contêiner
Em nota divulgada nesta terça-feira (19), o Ministério da Cultura (MinC) e a Fundação Nacional de Artes (Funarte) manifestam repúdio contra a ação policial da GCM para retirar os artistas do Teatro de Contêiner e membros da ONG Tem Sentimento do prédio anexo ao terreno onde ficava o muro que cercava a Cracolândia, no centro de São Paulo.
Um ofício do MinC e da Funarte foi enviado ao prefeito Ricardo Nunes solicitando aumento do prazo para despejo do coletivo artístico por mais 180 dias, mas não houve resposta até o momento. Os órgãos federais reconhecem o “papel relevante junto à comunidade do centro da capital paulista” do Teatro de Contêiner, da Cia Mungunzá e da ONG Tem Sentimento e lamentam o uso da força contra as organizações.
Leia a nota do Ministério da Cultura e da Funarte na íntegra:
Ministério da Cultura e a Funarte manifestam veemente repúdio à ação policial empreendida pela Guarda Civil Metropolitana de São Paulo para retirar artistas do Teatro de Contêiner e membros da ONG Tem Sentimento de um prédio anexo ao terreno onde ficava o muro que cercava a Cracolândia, na Luz, região central de São Paulo, na tarde desta terça-feira (19).
Em ofício, até agora sem resposta, enviado ao prefeito Ricardo Nunes pela ministra da Cultura Margareth Menezes e pela presidenta da Funarte Maria Marighella, foi solicitada a ampliação do prazo dado pela Prefeitura para o despejo do coletivo artístico de sua sede, de modo a permitir que os entendimentos iniciados junto à Superintendência do Patrimônio da União para a busca de um novo terreno pudessem resultar positivamente. Lamentamos que o uso da força tenha substituído a continuidade do diálogo em prol da arte e da cultura, que cumprem papel relevante junto à comunidade do centro da capital paulista por meio da atuação do Teatro de Contêiner, da Cia Mungunzá e da ONG Tem Sentimento.
Reforçamos nosso apelo para que o prazo seja ampliado e a negociação pacífica retomada com a maior brevidade possível.