O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) fez duras críticas ao governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), ao comentar a oitiva marcada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que cobra explicações sobre a operação policial que deixou ao menos 119 mortos nos complexos do Alemão e da Penha. Em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição, Braga classificou o governador como “criminoso em série” e defendeu sua responsabilização política e judicial. Leia em TVT News.
“Não dá para fazer mediações com aquilo que ele realizou. Se trata de um criminoso, um criminoso em série, que utilizou de uma operação para fortalecer o seu poder político e para se livrar dos processos que existem contra ele”, disse o deputado.
Braga lembrou que Castro enfrentava julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e aparecia mal posicionado em pesquisas de intenção de voto para o Senado, o que, segundo ele, teria motivado o uso político da operação.
“Ele precisava se blindar das acusações, e faz isso através de uma matança”, afirmou.
A declaração foi dada no mesmo dia em que o governador e a cúpula de segurança do estado vão prestar esclarecimentos ao Supremo. Moraes quer detalhes sobre o planejamento, o número de mortos, presos, agentes envolvidos e medidas adotadas para preservar as cenas do crime.
Chacina no Rio: “Não há enfrentamento ao crime”
Durante a entrevista, Glauber Braga sustentou que não existe combate real à criminalidade no estado e que o governo de Cláudio Castro atua de forma seletiva em disputas territoriais entre milícias e facções.
“Alguém no Rio de Janeiro tem alguma dúvida de que há uma disputa por território entre Comando Vermelho e milícia, e que o governo do estado toma uma posição nessa disputa?”, questionou.
“Não tem absolutamente nada a ver com enfrentamento ao crime, porque o crime de colarinho branco almoça e janta com o governador do estado do Rio de Janeiro de maneira cotidiana.”
Braga denunciou o que chamou de “terceirização do poder político” nas comunidades, afirmando que milicianos e grupos armados garantem votos e domínio eleitoral em territórios controlados por aliados do governo.
Ele lembrou ainda que Flávio Bolsonaro (PL-RJ) chegou a visitar a Maré em 2018 e reivindicou apoio eleitoral em áreas de domínio miliciano, o que, para o deputado, expõe a hipocrisia do discurso da extrema direita sobre segurança.
“Operação criminosa e eleitoreira”
O parlamentar insistiu que a operação que resultou em mais de cem mortos não teve como objetivo reduzir a violência, mas sim fortalecer o palanque eleitoral de Castro e de governadores aliados.
“As ações colocadas em prática por Cláudio Castro, para além de não serem legítimas, são criminosas e têm como objetivo protegê-lo politicamente e ampliar o seu poder político, econômico e eleitoral.”
“Essa história de chegar atirando, de chegar matando, não resolve absolutamente nada. É a multiplicação do que a gente já tem no estado do Rio desde sempre.”
O deputado também avaliou que a extrema direita tenta usar a matança como nova bandeira política, após perder os discursos de “soberania nacional” e de “anticorrupção”:
“Eles precisavam de uma terceira bandeira, e encontraram na buquelização da política brasileira — tomando El Salvador como modelo — o espaço para reorganizar seu projeto autoritário.”
“A esquerda precisa disputar a narrativa”
Braga defendeu que a esquerda não se omita do debate sobre segurança pública, propondo uma disputa política e emocional com a população.
“A batalha perdida é aquela que você tomou a decisão de antemão de não entrar no campo para jogar”, afirmou.
“Nós temos que fazer essa disputa. Se a esquerda ficar com medo, a gente vai perder de goleada.”
Para o deputado, as soluções reais passam por políticas sociais, e não por repressão. Ele citou o abandono dos CIEPs criados por Leonel Brizola, o alto índice de desemprego juvenil (20,5% entre 18 e 24 anos) e a ausência de um plano estadual de redução de homicídios como causas estruturais da violência.
“O estado do Rio de Janeiro não tem um plano de redução de homicídios, nem investimento maciço em ações sociais que garantam direitos básicos nos territórios historicamente excluídos.”
“Questão de sobrevivência”
Braga encerrou alertando que, se o governo federal e a sociedade não reagirem, a política de extermínio pode se expandir para toda a Baixada Fluminense.
“É uma questão de sobrevivência pros moradores do Rio de Janeiro, porque senão essa política de matança se expande ainda mais para outras regiões — Queimados, Belford Roxo, Seropédica.”
Enquanto o STF cobra respostas de Cláudio Castro, organizações de direitos humanos denunciam execuções sumárias e famílias buscam desaparecidos em meio a denúncias de manipulação de cenas do crime. A TVT News segue acompanhando o caso, as respostas do governador ao Supremo e os desdobramentos jurídicos e políticos da maior chacina da história recente do Rio de Janeiro.
				