Globo de Ouro para os que defendem a democracia

Quem comemora a vitória no Globo de Ouro também celebra a defesa de democracia e a reparação dos crimes da ditadura militar
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Fernanda Torres cita a mãe, Fernanda Montenegro, e Eunice Paiva no agradecimento. Imagem: Reprodução/TNT

A conquista do Globo de Ouro pela artista Fernanda Torres é vitória da cultura brasileira e também dos que defendem a democracia. Veja artigo da Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região, Neiva Ribeiro.

Brasil comemora ser premiado e faz da alegria um alerta de resistência

Por Neiva Ribeiro

Presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região

O Globo de Ouro conquistado pela atriz Fernanda Torres representa uma vitória de todos nós. Ou alguns de nós.

O filme Ainda Estou Aqui conta a história de Eunice Paiva, que lutou durante sua vida pela memória e a verdade de seu marido, o deputado cassado e morto pela ditadura militar. Rubens Paiva, deputado federal pelo PTB, foi cassado logo após o golpe de 1964 e acabou desaparecido (e posteriormente reconhecido como morto) enquanto estava sob custódia dos órgãos de repressão em 1971.

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Cena de Ainda Estou Aqui: resistência e memória de Eunice Paiva marcam a história Foto: Reprodução Sony Pictures Brasil

Desde então, Eunice passou a vida lutando pela busca de respostas sobre o destino de Rubens e pela memória dos que foram perseguidos pelo regime e se tornou símbolo das campanhas pela abertura de arquivos sobre vítimas do regime militar.

A luta pela abertura dos arquivos oficiais é fundamental para que a sociedade tenha conhecimento pleno dessas violações e para que se possa, de fato, honrar a memória das vítimas. E saber o que de fato aconteceu com os que foram mortos, perseguidos e os responsáveis por esses crimes.

  • Vídeo: Em 1989, na campanha para Presidente, Lula já defendia
    a investigação da morte de Rubens Paiva

Importante lembrar que a Lei da Anistia no Brasil (Lei nº 6.683/1979) foi promulgada durante o governo do general João Baptista Figueiredo, no contexto de abertura “lenta, gradual e segura” que marcou os últimos anos da ditadura militar (1964–1985). A lei resultou de pressões internas e externas para a redemocratização do país e teve como objetivo principal conceder anistia a crimes de natureza política cometidos entre 1961 e 1979.

Anistia para quem? Para os agentes de Estado que torturaram e mataram? O filme faz um importante alerta para os que (ainda) defendem a ditadura. E, infelizmente, são muitos no Brasil.

Nos últimos anos vivemos uma disputa ideológica desigual preocupante após grande investimento da extrema direita em narrativas mentirosas, em uma estrutura financiada com um objetivo político que ameaça o Estado democrático de direito. São milícias organizadas, patrocinadas por empresas e grandes grupos corporativos.

O crescimento de redes de desinformação e a disseminação de narrativas falsas representam um desafio real para as democracias em diversas partes do mundo. No contexto brasileiro, o investimento na construção de discursos extremados e na circulação de “fake news” faz parte de um fenômeno global que ganhou força com a hiperconexão das redes sociais e a facilidade de se produzir e compartilhar conteúdo sem checagem de fatos.

A preocupação principal está no potencial de tais estratégias para influenciar significativamente o debate público e, em casos extremos, fragilizar a confiança nas instituições, chegando a ameaçar a própria estabilidade democrática. As consequências podem incluir desde polarização social até atos antidemocráticos mais graves.

Por tudo isso, é uma vitória do nosso cinema, da nossa cultura, dos nossos artistas, afinal além da talentosíssima Fernanda Torres, que faz justiça a sua mãe, Fernanda Montenegro, que há 26 anos concorreu ao mesmo prêmio, e trouxe a estatueta de melhor filme para Central do Brasil, destaca-se o talentosíssimo Selton Mello, o diretor Walter Salles e o autor do livro que deu origem ao filme, Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado morto pela ditadura.

O Brasil comemora ser premiado e faz de sua alegria um alerta de resistência para nunca mais permitir que esse período nefasto retorne ao país.

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Fernanda Torres vence Globo de Ouro na categoria melhor atriz em filme de drama. Imagem: Reprodução/TNT

Sobre a autora

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Neiva Ribeiro, presidente do Sindicato dos Bancários

Neiva Ribeiro é a atual presidenta do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região. É formada em Letras pela Universidade Guarulhos, pós-graduada em Gestão Pública pela Fesp-SP, e em Gestão Universitária pela Unisal. É funcionária do Bradesco desde 1989. Ingressou na direção do Sindicato em 2000.

Foi diretora-geral da Faculdade 28 de Agosto de Ensino e Pesquisa, secretária de Formação e secretária-geral da entidade. 

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