O Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota oficial nesta segunda-feira (31) para desmentir a participação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma suposta operação hacker contra o governo paraguaio. A ação de espionagem foi iniciada ainda durante o governo de Jair Bolsonaro, mas teria continuado sob a autorização do atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, conforme apontam investigações da Polícia Federal. Confira mais em TVT News.
Em nota, a pasta reiterou o “compromisso com o respeito e o diálogo transparente como elementos fundamentais nas relações diplomáticas com o Paraguai e com todos seus parceiros na região e no mundo”, afirmou o Itamaraty.
O episódio está sendo investigado pela PF no âmbito do inquérito que investiga a chamada “Abin Paralela”, um suposto esquema de espionagem ilegal conduzido sob a gestão do ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, vinculado ao governo Bolsonaro. As investigações indicam que a operação ocorreu meses antes de o Brasil negociar um novo acordo sobre os valores pagos relacionados às tarifas da usina hidrelétrica de Itaipu, tema que há anos é motivo de disputas entre Brasil e Paraguai.
De acordo com informações obtidas pela PF por meio de depoimentos de dois servidores da agência de inteligência, as ações foram formalmente aprovadas tanto pelo atual diretor Luiz Fernando Corrêa quanto pelo interino Saulo de Cunha Moura. Contudo, o governo brasileiro afirmou, em nota, que “A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato. O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”, justificou o Itamaraty.

Como funcionava a operação
Segundo os servidores ouvidos pela PF, os ataques não partiram diretamente do Brasil. A operação teria sido realizada a partir de países como Chile e Panamá, onde foram instalados usuários virtuais para mascarar a origem das atividades. Esse tipo de estratégia é frequentemente empregado em operações cibernéticas para dificultar o rastreamento.
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Os investigadores tentam agora esclarecer se o atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, tinha conhecimento prévio e consentiu com a continuidade da operação após assumir o cargo.
O caso ganha relevância adicional devido ao histórico de tensões diplomáticas entre Brasil e Paraguai, principalmente em questões relacionadas à usina de Itaipu. A hidrelétrica, administrada conjuntamente pelos dois países, tem sido alvo de disputas sobre a divisão dos lucros e a definição das tarifas energéticas. Nesse contexto, qualquer indício de interferência externa pode agravar as relações bilaterais.
Repercussões locais e internacionais
O episódio pode minar a confiança entre os dois países em um momento sensível das negociações sobre Itaipu. Além disso, dentro do Brasil, a polêmica reacende críticas sobre a conduta da Abin sob diferentes gestões e questionamentos sobre a eficácia dos mecanismos de controle sobre agências de inteligência.
Enquanto a Polícia Federal prossegue com as investigações, resta aguardar os próximos desdobramentos do caso. A decisão final sobre o envolvimento do atual diretor-geral da Abin e a extensão de suas responsabilidades poderá ter implicações tanto para a política interna quanto para as relações diplomáticas do Brasil com seus vizinhos sul-americanos.