“Guerras comerciais não têm vencedores”, diz Lula

Presidente do Brasil defendeu maior união entre países e candidatura unificada de uma mulher para a ONU, na Reunião da Cúpula da Celac
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Presidente Lula fala a líderes da região durante encontro de cúpula em Honduras. Foto: Agência Gov

O presidente Lula, reforçou a necessidade de harmonia entre os países da America Latina e do Caribe, nesta quarta-feira (09), durante a abertura da 9ª Reunião da Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos — a CELAC. A cerimônia, que ocorreu em Tegucigalpa, capital de Honduras, tratou de temas prioritários para a região com o objetivo de reforçar a integração regional. Saiba mais em TVT News.

Em seu discurso, Lula enfatizou que “guerras comerciais não têm vencedores e que “tarifas arbitrárias desestabilizam a economia internacional”. A declaração é uma resposta ao presidente americano Donald Trump, que realizou um “tarifaço” na última semana.

“Tentativas de restaurar antigas hegemonias pairam sobre nossa região. A liberdade e a autodeterminação são as primeiras vítimas de um mundo sem regras multilateralmente acordadas. Imigrantes são criminalizados e deportados sob condições degradantes“, disse Lula.

Tarifas arbitrárias desestabilizam a economia nacional e elevam os preços. A história nos ensina que guerras comerciais não tem vencedores. Se seguimos separados lati-americana e caribenha corre o risco de regressar a condição de zona de influência em uma nova divisão do globo entre super potências“, concluiu.

Lula também defendeu a democracia, cobrou cooperação entre os países da CELAC e afirmou que “nenhum país pode impor seu sistema político a outro.”

“Nenhum país pode impor seu sistema político a outro. Mas foi nos períodos democráticos que o Brasil mais avançou na superação de seus desafios sociais e econômicos.

Assistimos nos últimos anos à erosão da confiança na política, o que abriu espaço para projetos autoritários. A desinformação, o ódio e o extremismo se disseminam nas plataformas virtuais, deturpando e deformando a liberdade de expressão.

Negacionistas desprezam a ciência e a cultura e atacam até as universidades. Indivíduos e empresas poderosas, que se consideram acima da lei, investem contra a soberania de nossos países.

É trágico que tentativas de golpe de Estado voltem a fazer parte do nosso cotidiano. Nossos países só estarão seguros se forem capazes de erradicar a fome, gerar bem-estar e garantir oportunidades para todos”, acrescentou Lula.

O líder brasileiro falou ainda sobre a necessidade de fortalecer a união dos países da América Latina e Caribe diante do risco de retornar à condição de zona de influência, com a liberdade e a autodeterminação sendo os primeiros elementos a serem atingidos. Lula citou o preparo de outras regiões em resposta às transformações em curso, como a Ásia, com a ASEAN, e a União Europeia, com a reorganização da OTAN.

“É imperativo que a América Latina e o Caribe redefinam o seu lugar na nova ordem global que se discute. Nossa inserção internacional não deve se orientar apenas por interesses defensivos. Precisamos de um programa de ação estruturado em torno de três temas que demandam ação coletiva”, afirmou Lula.

Liderança feminina na ONU

Lula também defendeu a candidatura unificada da região para o cargo de secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), diante do fim do mandato do atual chefe António Guterres, programado para o ano que vem.

“A CELAC pode contribuir para resgatar a credibilidade da ONU elegendo a primeira mulher Secretária-Geral da organização”, declarou Lula. O Brasil sugeriu uma declaração especial sobre o tema para ser apreciada durante o encontro.

Tentativa de veto

Lula criticou a postura de países que tentaram barrar a aprovação da declaração final. Na assembleia de chefes de Estado e de governo, as delegações de Paraguai e Argentina tentaram vetar o texto final, mas ele foi aprovado com a indicação de contrariedade dos dois países.

“É muito importante que a gente distribua sempre a ideia do consenso, mas o consenso não pode ser o direito de veto. Você não pode ter 40 países e um só decidir que não gosta de alguma coisa e não assinar um documento. É melhor você assinar o documento e colocar no rodapé que tal país não quis assinar. É mais democrático e as coisas andam, evoluem”, declarou o presidente brasileiro.  

“Negociação individual é fim do multilateralismo”

Em entrevista a jornalistas brasileiros, após participação na CELAC, Lula voltou a se dizer preocupado com as decisões unilaterais dos Estados Unidos de aplicar tarifas em produtos de todos os parceiros comerciais do planeta e apontou riscos de um “efeito devastador” na economia mundial.

“Nós não sabemos qual vai ser o efeito devastador disso na economia. É preciso saber quanto vai custar isso do ponto de vista do preço dos produtos, da relação multilateral”, criticou o presidente.

O presidente observou a nova decisão do presidente dos EUA, que aumentou ainda mais as tarifas contra a China, ao mesmo tempo em que reduziu as cobranças adicionais para outros 75 países. Para Lula, o método sinaliza a intenção de um confronto direto com os asiáticos e põe em xeque a sustentabilidade do multilateralismo e equilíbrio entre os países  

“Me parece que tá ficando cada vez mais visível que é uma briga pessoal [de Trump] com a China. Ora, querer fazer negociação individual é colocar fim no multilateralismo. E o multilateralismo é muito importante para a tranquilidade econômica que o mundo precisa. Não é aceitável a hegemonia deum país, nem militar, nem cultural, nem industrial, nem tecnológica e nem econômica sobre os outros”, apontou.

Sobre a postura do governo brasileiro frente a essa pressão, Lula disse que haverá reciprocidade, caso, ao final das negociações, as tarifas se mantenham.

“Vamos utilizar todas as palavras de negociação que o dicionário permitir. Depois que acabar, nós vamos tomar as decisões que entendermos serem cabíveis”, garantiu.

Cúpula da CELAC

Fundada em 2010, a CELAC é o único mecanismo de diálogo e de concertação intergovernamental que reúne, de maneira autônoma, o conjunto dos países em desenvolvimento do continente americano: é integrada por todos os 33 países latino-americanos e caribenhos que abrangem uma área de mais de 22 milhões de km², o que equivale a cinco vezes o território da União Europeia. A população total somada, de 670 milhões, é o dobro do número de habitantes dos Estados Unidos.

Desde sua fundação, a CELAC já foi capaz de gerar consensos em torno de questões de interesse para o conjunto da região, como o problema mundial das drogas, o direito dos Imigrantes, a erradicação da fome e da pobreza, a segurança alimentar, os direitos humanos, bem como outros temas das agendas regional e global. Nas cúpulas, são discutidas pautas prioritárias do bloco, como a integração regional, o combate às mudanças climáticas e a segurança alimentar.

Após a Cúpula, Lula retornou ao Brasil, onde desembarcou na madrugada desta quinta-feira (10), em Brasília.

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