“Horror: Cláudio Castro impõe necroestado à população do RJ”

Entidades das áreas da ciência, saúde, religião, bioética, entre outras, repudiam a violência extrema no RJ. Confira
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Essa guerra no RJ é travada em nome do enfrentamento ao narcotráfico, resultado da criminalização das drogas, com a consequente humilhação de pessoas moradoras da periferia — negras Foto: Pablo Porciúncula / AFP

Em nota, grupo de entidades da sociedade civil reunidas na Frente pela Vida classifica ação do governo estadual do RJ comandado pelo bolsonarista Cláudio Castro como “horror’, “chacina” e “necroestado”. Os números divergem, mas as polícias do Rio de Janeiro deixaram mais de 120 mortos em uma ação de suposto combate ao Comando Vermelho. Ação cercada de violência e denúncias de torturas e execuções, inclusive de inocentes. Castro comemorou o resultado como “sucesso”. Mas o fato é que este tipo de operação historicamente nada resolve; não vai atrás dos verdadeiros comandantes nem estrangula o financiamento do crime. Então, o crime rapidamente se reorganiza e o ciclo de violência cresce e se repete.

Confira na TVT News a nota das entidades, entre elas a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB),o Conselho Nacional de Saúde (CNS), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes), a Sociedade Brasileira de Bioética (SBB).

Frente pela Vida repudia a violência e cobra transparência nas investigações das ações de segurança no RJ

Horror. É o que o “necroestado” comandado por Cláudio Castro impôs à população do Rio de Janeiro neste 28 de outubro de 2025 — data que entrou para a história como o dia em que uma operação policial do governo do estado desencadeou verdadeiro massacre de cidadãos cariocas moradores de periferia da cidade.

Essa guerra é travada em nome do enfrentamento ao narcotráfico, resultado da criminalização das drogas, com a consequente humilhação de pessoas moradoras da periferia — negras —, execução da juventude negra e desespero de suas mães e familiares.

Chacina. É o que caracteriza a operação com mais de 114 mortos informados até agora, número que tende a aumentar, e 81 presos. Uma repetição de ações contra os moradores dos territórios das favelas, marcadas pela violência extrema dos órgãos de segurança do estado, orientados por um modelo de segurança pública sustentado na lógica bélica, marcadamente racista, que despreza a vida e o sofrimento alheio das pessoas moradoras nesses territórios.

Tragédia. Não há palavras para traduzir tamanho pavor, expresso nas faces aterrorizadas de mães que buscavam identificar seus filhos entre os corpos inertes nas ruas. Assim como o pânico vivido por milhões de pessoas, obrigadas a voltar a pé para suas casas no meio da tarde, sob o informe do estado de guerra na cidade e a redução dos transportes públicos que as pudesse atender.

Mais de 2.000 policiais fortemente armados construíram esta cena, que é a repetição de muitas outras que, ao longo da história, somam ao terror estatal e à ausência de políticas públicas robustas que levem amparo digno às milhares de famílias que habitam nesses lugares. Uma tragédia à qual é preciso dizer um forte e uníssono BASTA.

Há importantes iniciativas de enfrentamento do terror estatal contra a população, como a Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental 635 (ADPF das Favelas), que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2019 e conta com o protagonismo de organizações de favelas e movimentos de mães e familiares de vítimas do terrorismo de Estado.

Esta ação constitucional busca ampliar o controle social, político e jurídico sobre as forças de segurança do Estado — o que é um dos requisitos para podermos falar em uma democracia. Infelizmente, uma tramitação morosa diante da urgência que os fatos reclamam, mas que poderá ter um impulso com a mobilização social necessária, que se deve criar desde já.

A Frente pela Vida:

  • repudia fortemente a violência perpetrada à população a mando do governador do estado do Rio de Janeiro;
  • se solidariza aos familiares dos mortos e cobra de forma veemente total transparência nas investigações, com identificação das vítimas, publicização das circunstâncias das mortes e apoio aos familiares;
  • reivindica a célere tramitação da ADPF das Favelas e outras medidas que levem ao controle social das ações da segurança pública;
  • reivindica que o conceito institucional de combate às drogas e à violência resgate o vínculo estruturante destes fenômenos como problemas sociais e de saúde pública;
  • propõe que o governo do estado do Rio de Janeiro seja denunciado à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), pelos crimes que tem cometido contra os direitos humanos.

Brasília, 29 de outubro de 2025.

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