A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, afirmou que o Brasil buscará desenvolver seus próprios modelos de inteligência artificial (IA), inspirando-se em iniciativas como a chinesa DeepSeek. Durante entrevista à CNN, ela ressaltou que a experiência chinesa demonstra que países emergentes podem competir no setor mesmo com menos recursos.
“A gente quer desenvolver nossos próprios modelos. Mas é óbvio que a gente bebe na fonte daquilo que é mais avançado, até para ter agilidade no desenvolvimento”, disse a ministra. Segundo ela, a DeepSeek conseguiu obter resultados comparáveis a soluções como o ChatGPT, reforçando a viabilidade da estratégia brasileira.
O governo acredita que, alinhando as capacidades já existentes no Brasil com incentivos adequados, o país tem condições de avançar na tecnologia. Luciana Santos também destacou que o Brasil possui vantagens comparativas, como abundância de energia limpa e disponibilidade de água, fatores fundamentais para infraestrutura de IA.
Investimentos em IA
Antes disso, o MCTI já havia anunciado um plano de investimentos de R$ 23 bilhões em IA para o período de 2024 a 2028. Desse montante, R$ 14 bilhões serão destinados a projetos de inovação empresarial e mais de R$ 5 bilhões serão aplicados em infraestrutura e desenvolvimento da tecnologia.
Durante o seminário internacional “Inteligência Artificial e Mudança do Clima: tecnologia a favor do desenvolvimento sustentável e de uma transição justa”, realizado em Brasília no ano passado, a ministra ressaltou o papel da IA no combate às mudanças climáticas. “Devemos usar as ferramentas de Inteligência Artificial como aliadas no processo de mitigação e adaptação”, afirmou.
O evento reuniu autoridades como os ministros Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Marina Silva (Meio Ambiente), além de especialistas em tecnologia e política ambiental. Os participantes discutiram o impacto da IA na redução de emissões de gases de efeito estufa e na previsão de desastres naturais.
Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA)
O governo federal apresentou oficialmente o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que prevê investimentos em cinco eixos principais:
- R$ 13,79 bilhões para inovação empresarial;
- R$ 5,79 bilhões para infraestrutura e desenvolvimento de IA;
- R$ 1,76 bilhão para melhorias nos serviços públicos;
- R$ 1,15 bilhão para difusão e capacitação em IA;
- R$ 435,04 milhões para “ações de impacto imediato”, metade dos quais serão direcionados à saúde.
Luciana Santos também destacou a iniciativa de uma “nuvem soberana”, que visa proteger dados nacionais e garantir maior integração entre órgãos estatais. Esse projeto busca utilizar a IA para otimizar políticas públicas, como o cruzamento de informações do Bolsa Família com dados do Ministério do Trabalho, facilitando a inserção dos beneficiários no mercado de trabalho.
Regulamentação da IA
A ministra também defende a regulamentação da IA, destacando o projeto de lei 2.338/2023, em tramitação no Senado. A proposta prevê classificação de riscos e medidas para evitar o uso indevido da tecnologia, como na disseminação de fake news.
“A IA é uma oportunidade, mas também uma ameaça. Precisamos regulamentar para proteger direitos fundamentais e garantir seu uso ético”, afirmou Luciana Santos.
O senador Izalci Lucas (PL-DF) ressaltou a necessidade de integração dos dados entre estados e municípios, especialmente na área da saúde, para melhor planejamento e controle de gastos públicos.
Chips e semicondutores: Brasil na rota da produção
Outro ponto abordado foi a retomada do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), estatal brasileira de semicondutores. A ministra afirmou que a empresa será adaptada para atender às demandas da transição energética e do setor automotivo, reduzindo a dependência de importação desses componentes.
Conecta e Capacita: expandindo a inclusão digital
Para ampliar a conectividade no Brasil, o governo lançou o programa Conecta e Capacita, que prevê a instalação de 41 mil quilômetros de fibra óptica em escolas e hospitais, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
“Internet de qualidade é essencial para educação e saúde. Queremos garantir acesso estável e eficiente a quem mais precisa”, concluiu a ministra.
Com esses avanços, o Brasil busca se posicionar como um dos líderes globais na inteligência artificial, promovendo inovação, segurança e desenvolvimento sustentável.