IPCA-15: carne bovina, frutas, legumes, arroz e feijão tiveram quedas nos últimos meses

Queda generalizada dos alimentos alivia a inflação e o bolso dos brasileiros
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Sequência de queda nos preços dos alimentos completa três meses e deve continuar. Foto: Antonio Cruz/ABr

Os índices de inflação divulgados pelo IBGE nesta semana revelam uma redução generalizada nos preços dos alimentos, com destaque para quedas nos grupos de carne bovina, frutas, legumes, arroz e feijão. A prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) também confirmou esse movimento, e os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apontam tendência similar nos últimos três meses.

Segundo o IBGE, o IPCA-15 de agosto registrou uma deflação de -0,14%, após alta de 0,33% em julho. Trata-se da menor variação desde setembro de 2022 (-0,37%) e a primeira taxa negativa desde julho de 2023 (-0,07%). No acumulado do ano, o índice marca +3,26%, e acumula +4,95% nos últimos 12 meses, abaixo dos 5,30% observados nos 12 meses anteriores.

No segmento de Alimentação e bebidas, a deflação foi de -0,53%, contribuindo com -0,12 pontos percentuais para o índice geral. Entre os alimentos que registraram reduções de preços nos últimos meses estão a carne bovina, frutas, legumes, arroz e feijão. Outros grupos que também apresentaram queda foram Habitação (-1,13%) e Transportes (-0,47%), com impactos de -0,17 p.p. e -0,10 p.p., respectivamente, em agosto.

Essa sequência de queda nos preços dos alimentos, agora observada há pelo menos três meses nos índices IPCA-15 e IPCA, é atribuída por analistas a fatores como supersafra, condições climáticas favoráveis e sazonalidade, até mesmo sugerindo que a deflação em agosto — quando divulgada oficialmente no IPCA — deverá ser a quinta consecutiva caso confirmada.

Tarifaço de Trump

No início de agosto de 2025, o governo dos Estados Unidos, sob a presidência de Donald Trump, impôs tarifas elevadas — de até 50% — sobre produtos brasileiros, incluindo alimentos como carne e café. Essas medidas foram justificadas como resposta a processos políticos internos do Brasil e marcadas por forte caráter político e punitivo..

No setor da carne bovina, importantes exportadores como JBS, Marfrig e Minerva previam impactos relevantes sobre suas receitas — estimativas apontam queda de até 5% na receita líquida anual.

No caso do café, o país enfrenta um cenário duplo: embora os preços no varejo tenham caído recentemente (de cerca de R$ 70,00/kg em maio para R$ 58,99/kg em agosto), os custos com matéria-prima dispararam — o preço do arábica subiu cerca de 25% no Brasil e passou de +30% nos futuros internacionais, diante da incidência das tarifa.

Essas tarifas já estão provocando reconfiguração nos destinos da exportação brasileira: no caso da carne bovina, o México superou os Estados Unidos como segundo principal importador brasileiro em agosto (exportando 10.200 toneladas para o México, contra 7.800 para os EUA entre os dias 1º e 25), num movimento que indica realinhamento dos fluxos comerciais

Assim a combinação de redução nos preços internos dos alimentos, impulsionada por safra e sazonalidade, com o tarifaço americano, pode intensificar ainda mais a competição doméstica e pressionar os preços brasileiros de produtos exportados.

Por um lado, os produtores brasileiros que não conseguem direcionar seus produtos ao mercado exportador — especialmente carne e café — poderão oferecer mais oferta no mercado interno, reforçando o movimento de queda nos preços ao consumidor. Isso pode prolongar os efeitos observados no IPCA-15 e IPCA nos próximos meses.

A prevalência de queda nos preços dos alimentos no último trimestre é uma boa notícia para o bolso do consumidor brasileiro, refletindo uma combinação entre oferta favorável e dinâmica sazonal. No entanto, a imposição do “tarifaço” de Donald Trump — especialmente sobre carne, café e outros produtos agrícolas — coloca pressão adicional sobre setores exportadores. Se parte desse volume não for escoado internacionalmente, é possível que essa sobra acabe pressionando ainda mais o mercado interno, prolongando, por enquanto, a deflação alimentar.

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