A isenção do Imposto de Renda (IR) anunciada pelo ministro da Fazenda do governo Lula, Fernando Haddad, beneficiará mais de 35 milhões de brasileiros. Com a proposta que isenta a faixa salarial até R$ 5 mil por mês, mais de 80% dos trabalhadores CLT do país não pagarão o imposto. A medida deve entrar em vigor em 2026. Ela é benéfica para ampla maioria. Porém, algumas categorias não sentirão o impacto. Ao contrário. Para o topo da pirâmide, categorias típicas da elite, o imposto sofrerá ligeiro aumento.
Essa correção para os mais ricos não deve abalar poder de compra. Porém, na base da pirâmide, os mais pobres e a grande massa da classe média (que representa quase metade dos brasileiros) sairão ganhando. Trata-se, portanto, de uma medida de justiça fiscal e tributária que busca corrigir um dos problemas crônicos que mais afetam o Brasil: a desigualdade.
Para entender o abismo entre classes e profissões, a TVT News coletou informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), além de entidades do setor privado, sobre o salário dos brasileiros. Então é possível, a partir destes dados, entender também o impacto de uma medida que tira um pouco o peso tributário da classe média, esmagada por um sistema regressivo onde quanto mais pobre, mais paga imposto proporcionalmente.
Salário e isenção do IR
O Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) dá uma visão geral dos salários praticados no país. O registro analisa e divulga as médias salariais no período de admissão por categoria, função e também por região do país e Unidade da Federação.
Os dados do Caged revelam o tamanho do abismo da desigualdade. São poucas as categorias que, de saída, entram na faixa de contribuintes do IR. E passam longe da isenção. Vale lembrar que estes dados excluem trabalhadores informais, empresários e servidores públicos; contemplam apenas os registrados em regime celetista (CLT).
Por atividade
O salário médio real de admissão em outubro de 2024 foi de R$ 2.153,18. Esses números variam em relação ao setor de atuação destes novos profissionais. Construção e Indústria possuem resultados significativamente superiores ao Comércio, Serviços e Agropecuária. Na média, Construção e Indústria oferecem salário inicial em torno dos R$ 2.300, enquanto o Comércio crava em R$ 1.900. Após medidas do governo Lula, trabalhadores de todas estas médias já entrariam na faixa de isenção que hoje é R$ 2.824.
Categorias privilegiadas
Esses números são médios e os dados a seguir deixam explícitos como a massa de trabalhadores é mal remunerada no Brasil. Os médicos, por exemplo, ostentam salário inicial, um recém-formado, de R$ 13.690,80 para trabalhar 36 horas semanais. Para estes, não há de se falar em isenção ou perda do poder de compra pelo Imposto de Renda.
Trata-se de um retorno a um investimento. Exceto para bolsistas ou formados em universidades públicas, cursos de medicina pelo país superam facilmente os R$ 10 mil mensais. Sendo assim, boa parte das vagas da categoria acabam reservada às elites.
A Federação Nacional dos Médicos (FENAM), em 2022, estabeleceu um piso para médicos de R$ 17.742,78 para 20 horas de trabalho. Com plantões e especialidades estes salários mais do que dobram. Contudo, existem variações de estado para estado. O Pará, por exemplo, tem a menor média desses profisionais novos, com cerca de R$ 8 mil mensais.
Mais privilégios
Medicina é uma profissão clássica, com salários elevados. Contudo, não está no topo dos cargos mais bem pagos do país. Estes, ainda segundo o Caged, são exclusivos de diretoria. Pelo menos os 18 mais bem pagos do país. Lidera o ranking Diretor de Crédito (não imobiliário), com salário inicial de suntuosos R$ 47.725,21. Neste topo, existe uma hegemonia de cargos ligados ao mercado financeiro. Confira alguns números de cargos:
E os super-ricos?
Esses números sofrem variações fortes dependendo do estado ou cidade. Ainda ficaram de fora categorias bem remuneradas relacionadas ao mercado financeiro ou mesmo às engenharias. Também vale ressaltar que, mesmo estes altos salários médios não representam de fato a elite do país. Este seleto grupo realmente rico, que concentra maior parte das riquezas do país, são muito poucos. Quando se fala em tributar super-ricos, por exemplo, estes salários não entrariam na conta. Mas sim grupos que, de acordo com a própria Fazenda, são composto de menos de 4 mil pessoas que acumulam milhões e sequer é possível falar em salário. Vivem de renda e nada produzem através do trabalho.