Israel rebaixa relações com o Brasil enquanto segue com genocídio

Em 2024, o governo Netanyahu humilhou o então embaixador do Brasil em Tel Aviv
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Ao menos 1.857 palestinos foram mortos por Israel enquanto buscavam comida. Foto: Unicef/Mohammed Nateel

O Ministério das Relações Exteriores de Israel “rebaixou” as relações com o Brasil, após a indicação de um novo embaixador não ser respondida. A reação do Itamaraty é uma resposta ao tratamento recebido pelo ex-embaixador do Brasil, que foi repreendido publicamente como forma de humilhar o governo brasileiro em fevereiro de 2024. Entenda em TVT News.

Em janeiro, Israel indicou Gali Dagan para assumir a embaixada em Brasília. A indicação não foi recusada, mas o Itamaraty também não concedeu o “agrément”, o que, na prática, é uma recusa. Segundo Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, o pedido foi deixado sem resposta em reação ao que o governo de Benjamin Netanyahu fez com Frederico Meyer, então embaixador do Brasil em Tel Aviv, em 2024.

Meyer foi repreendido publicamente pelo chanceler israelense, Israel Katz, no Museu do Holocausto, em Jerusálem, após o presidente Lula (PT) comparar o genocídio cometido por Israel em Gaza ao holocausto judeu — o mandatário é considerado “persona non grata” pelo governo Netanyahu desde então.

A tentativa de constranger o governo brasileiro por se posicionar contra o massacre de palestinos foi vista como humilhação por diplomatas brasileiros. “Nós queremos ter uma boa relação com Israel. Mas não podemos aceitar um genocídio, que é o que está acontecendo. É uma barbaridade. Nós não somos contra Israel. Somos contra o que o governo Netanyahu está fazendo”, disse Celso Amorim.

O rebaixamento da relação diplomática foi anunciado pelo jornal Times of Israel. Com a falta de resposta do Brasil, um novo nome não deve ser indicado. O cargo de representação diplomática israelense no Brasil está vago desde 12 de agosto, após Daniel Zonshine se aposentar.

O governo brasileiro tem se distanciado do governo Netanyahu e adotado medidas contra o estado em retaliação ao que classifica como crimes de guerra, violações “intoleráveis” dos direitos humanos e indícios “críveis” de genocídio contra a população palestina na Faixa de Gaza.

Uma das medidas é a ingressão formal do Brasil na ação contra Israel por genocídio na Palestina na Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas (ONU). Na ocasião, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) voltou a condenar as violações de direitos humanos e disse que os direitos dos palestinos podem estar sendo “irreversivelmente prejudicados”.

Israel ataca hospital

Israel bombardeou o hospital Nasser, em Khan Yunis, o único funcional no sul de Gaza, nesta segunda-feira (25). O ataque matou pelo menos 20 palestinos, entre os quais cinco eram jornalistas. Em todo o território palestino, hospitais são atingidos sob pretexto de ataque a pessoas ligadas ao Hamas. As FDI, no entanto, não apresentam provas das acusações. No início de agosto, as Forças de Defesa de Israel (FDI) já haviam assassinado cinco profissionais de imprensa da Al Jazeera.

Houve um ataque no quarto andar do hospital e outro quando ambulâncias chegavam para prestar socorro e jornalistas para registrar a situação. Segundo Marcos Feres, secretário de Comunicação da Federação Árabe Palestina (Fepal), essa estratégia de ataque foi é chamada de “douple tap strike”. O bombardeio duplo causa uma cena de caos inicial que atrai jornalistas e trabalhadores humanitários para então realizar um segundo ataque e potencializar a matança, explica Feres.

O ataque foi condenado pelo Itamaraty, em nota divulgada nesta segunda. Segundo o MRE, “o ataque “o bombardeio contra o hospital Nasser soma-se a um padrão reiterado de violações perpetradas pelo governo de Israel contra a população palestina”. A pasta considera que “a responsabilização por tais atos é condição essencial para evitar sua repetição e assegurar justiça às vítimas”.

“Ao reiterar apelo por cessar-fogo imediato, o Brasil insta o governo de Israel a interromper os ataques contra a população civil de Gaza, a assegurar aos jornalistas o direito de desempenhar livremente e em segurança seu trabalho e a levantar restrições vigentes à entrada de profissionais da imprensa internacional e de ajuda humanitária naquele território”, afirma o Itamaraty.

De acordo com o Ministério da Saúde local, mais de 60 mil palestinos foram assassinados desde outubro de 2023. Até o momento, 1.857 pessoas foram mortas enquanto buscavam comida na Fundação Humanitária de Gaza, um esquema militarizado de distribuição de ajuda apoiado pelos Estados Unidos e Israel, segundo a ONU. O governo de Benjamin Netanyahu diz que seguirá atacando Gaza “sem trégua”.

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