Israel usa fome como arma de guerra em Gaza, alertam entidades

Médicos Sem Fronteiras e outras 115 organizações corroboram com a denúncia
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Uma em cada cinco pessoas passa fome, em Gaza, diz ONU. Foto: ONU

A Faixa de Gaza está mergulhada em uma crise humanitária de proporções revoltantes, com a fome e a desnutrição alcançando níveis sem precedentes. O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou que a situação vivida pelos palestinos é um “show de horror” onde a “inanição está batendo em todas as portas”. Os números de mortes por desnutrição são cada vez mais alarmantes, e a distribuição de ajuda humanitária é dificultada por restrições e violência. A Médicos Sem Fronteiras (MSF) em conjunto com mais 115 organizações assinou um manifesto que denuncia a fome como uma das armas de guerra empregadas por Israel aos palestinos do território de Gaza e arredores. Saiba mais na TVT News.

Nos últimos dias, a tragédia da fome se intensificou, com relatos de 111 pessoas, incluindo 80 crianças, sucumbindo à inanição. Mais especificamente, fontes indicam entre 10 e 15 mortes por inanição nas últimas 24 horas, incluindo quatro crianças. Desde o início do conflito em outubro de 2023, pelo menos 76 crianças e 10 adultos morreram de desnutrição, sendo a maioria dessas mortes registradas após o endurecimento do bloqueio israelense no início de março. Casos como o de Razan Abu Zaher, uma menina de quatro anos, ilustram a dolorosa realidade de mortes evitáveis.

Hospitais em Gaza relatam um fluxo constante de casos de inanição, com médicos observando taxas recordes de desnutrição aguda, especialmente entre crianças e idosos. O diretor do Complexo Médico Al-Shifa alertou que 900.000 crianças em Gaza sofrem atualmente de fome, e 70.000 delas já progrediram para o estágio de desnutrição.

Mais de 100 organizações humanitárias, como Médicos Sem Fronteiras, Oxfam e Save the Children, assinaram um manifesto urgente denunciando a “fome em massa que se espalha pela Faixa de Gaza” devido ao cerco imposto por Israel. Toneladas de suprimentos vitais – incluindo alimentos, água potável, medicamentos e combustível – permanecem retidas em depósitos. A distribuição de ajuda está restrita a uma média de 28 caminhões por dia, uma quantidade considerada insuficiente para a população de mais de 2 milhões de pessoas.

O fluxo de ajuda foi severamente reduzido desde o início de março, quando as autoridades israelenses proibiram a entrada de comboios. A Organização Mundial da Saúde (OMS) relatou que sua residência e seu principal armazém em Deir al-Balah foram atacados pelos militares israelenses.

Violência obstrui a ajuda humanitária em Gaza

A busca por alimentos em Gaza transformou-se em um risco mortal. A ONU registrou que mais de mil palestinos foram mortos pelos militares israelenses enquanto tentavam acessar alimentos entre 27 de maio e 21 de julho. Segundo a denúncia das entidades, os massacres em locais de distribuição de alimentos ocorrem “quase diariamente”. 

Enquanto funcionários palestinos e testemunhas culpam as forças israelenses pela maioria dessas mortes, Israel nega a responsabilidade por alguns incidentes, alegando reorganização de rotas e acusando o Hamas de disparar contra civis, sem apresentar provas.

Os ataques não poupam nem a Fundação Humanitária de Gaza (GHF), empresa apoiada por Israel e pelos EUA que administra pontos de distribuição de alimentos. A fundação tem sido alvo de fortes críticas de organizações humanitárias e da ONU por sua suposta falta de neutralidade.

Como potência ocupante, Israel tem a obrigação de garantir o fornecimento de itens essenciais e permitir a entrada incondicional de ajuda humanitária, diz o chefe de direitos humanos das Nações Unidas, Volker Türk. No entanto, Israel nega ser responsável pela escassez de alimentos e afirma que suas ações visam evitar o desvio de suprimentos pelo Hamas.

25 países europeus e 5 outras nações proeminentes (Reino Unido, França, Japão, Austrália e Suíça) elaboraram um documento pedindo o fim da guerra e acusando Israel de negar assistência humanitária essencial. As mais de 100 organizações signatárias do manifesto apelam aos governos para que exijam o fim de todas as restrições burocráticas e administrativas, a abertura de todas as passagens terrestres e a retomada plena da entrada de suprimentos por um mecanismo baseado em princípios e liderado pela ONU. Há também um clamor por um cessar-fogo imediato e permanente, além de um apelo para que os EUA tomem medidas concretas para acabar com o cerco, incluindo a suspensão do fornecimento de armas e munições a Israel.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, instou a comunidade internacional a “permanecer unida” contra a “brutalidade” israelense, e a alta representante da União Europeia para Assuntos Exteriores e Política de Segurança declarou que os militares israelenses “devem parar de matar pessoas” que buscam ajuda em Gaza.

As negociações para um cessar-fogo e a libertação de reféns continuam, com mediadores aguardando a resposta da liderança do Hamas em Gaza. Os EUA indicam que podem retirar garantias caso o Hamas não concorde rapidamente com um acordo.

Com CNN Mundo e Assessoria de Imprensa

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