Nove dias após o início do acordo de cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, a Faixa de Gaza voltou a ser atacada. O frágil “acordo de paz”, firmado entre Israel e o Hamas, enfrentou seu primeiro grande teste no último domingo (19), quando o exército israelense atacou novamente civis palestinos. A nova investida ocorreu depois de Israel acusar o Hamas de supostamente violar a trégua ao atacar tropas israelenses em Rafah, no sul de Gaza. Entenda na TVT News.
O Hamas negou ter rompido o cessar-fogo e acusou Israel de “fabricar pretextos fracos para justificar crimes contra civis”. O grupo afirmou seguir comprometido com o acordo, mediado por Washington, enquanto o governo israelense sustenta que enfrenta provocações contínuas.
Escalada militar e aumento do número de vítimas
A ofensiva israelense teve consequências devastadoras para a população palestina. De acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, ao menos 45 palestinos morreram nas últimas 24 horas, elevando para 68.216 o número total de mortos desde o início do conflito atual, em 7 de outubro de 2023. Outros 170.361 ficaram feridos.
O Gabinete de Mídia do Governo de Gaza afirmou que Israel violou o acordo de trégua 80 vezes desde sua assinatura, incluindo 21 incidentes apenas no domingo. Segundo a Al Jazeera, desde o início do cessar-fogo, 97 palestinos foram mortos e 230 ficaram feridos. Entre as vítimas mais recentes estão 11 membros de uma mesma família, incluindo sete crianças, mortos após cruzarem uma área de retirada controlada por Israel.
Grande parte dos confrontos se concentrou ao longo da chamada “Linha Amarela”, fronteira delimitada pelo acordo para a retirada parcial das forças israelenses. O limite, que deveria representar uma zona de segurança, se transformou em palco de tiroteios e confusão.
Moradores palestinos relatam que a linha é praticamente invisível e só pode ser vista em mapas online. “Quando eu ou as crianças saímos, as balas vêm na nossa direção”, contou Hala Obaid à BBC News, uma deslocada que vive em uma tenda próxima à região de Shujaiya. O exército israelense afirmou que disparou contra “indivíduos armados” que cruzaram a Linha Amarela, alegando ameaça imediata.
Ajuda humanitária limitada e travessias bloqueadas
Após suspender o envio de ajuda no domingo, Israel reabriu dois pontos de passagem, Kerem Shalom e Kissufim, para a entrada de caminhões com suprimentos. A passagem de Rafah, que liga Gaza ao Egito, permanece fechada “até novo aviso”.
A Agência das Nações Unidas para Refugiados Palestinos (UNRWA) alertou que o volume de ajuda “está muito abaixo do necessário”. O diretor interino da agência, Sam Rose, afirmou que as restrições impostas por Israel têm atrasado a distribuição de alimentos, medicamentos e materiais para abrigo temporário.
Pressão dos EUA
Em meio à escalada da violência, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que a trégua “permanece em vigor” e prometeu lidar com as violações “de forma rigorosa, mas adequada”.
Seus enviados especiais, Jared Kushner e Steve Witkoff, chegaram a Israel no domingo (19), para tentar salvar o acordo e avançar para a chamada “fase dois” do plano de paz norte-americano: que prevê a retirada das tropas israelenses, o desarmamento do Hamas e a criação de um governo palestino transitório com apoio internacional. O vice-presidente JD Vance deve chegar ao país nos próximos dias para se reunir com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Enquanto os bombardeios continuam apesar do “acordo de paz”, civis palestinos enfrentam mais uma vez o medo, a escassez e a incerteza do futuro. “Queremos apenas paz de espírito, sem medo”, disse Hala Obaid, ecoando um sentimento que parece distante de se concretizar em Gaza.
Com informações da BBC News