13 de fevereiro é o Dia Internacional do Preservativo

Sífilis, HIV e outras IST’s tem crescimento de casos, principalmente entre os mais jovens; causa pode estar ligado a queda no uso de camisinha
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Em 2023, foram registrados quase 243 mil casos de sífilis e aumento de 4,5% nos casos de HIV em comparação a 2022. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Dia Internacional do Preservativo é comemorado no dia 13 de fevereiro. A data foi criada em 2008 nos Estados Unidos pela AIDS Health Care Foundation. Veja na TVT News.

O objetivo do Dia Internacional do Preservativo é incentivar o uso correto e consistente do preservativo nas relações sexuais. A data também reforça a importância do sexo seguro e do uso do preservativo como uma forma de respeito e amor.

O preservativo é uma forma eficaz de prevenir infecções sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada. No Brasil, o Ministério da Saúde distribui preservativos masculinos e femininos para todo o país. O Ministério também realiza ações que reforçam os efeitos positivos do uso do preservativo na prevenção ao HIV e outras infecções. Leia, no final da reportagem, a nota do Ministério da Saúde.

IST’s aumentam no Brasil com a redução do uso de camisinha

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), cerca de 59% dos brasileiros não usaram preservativo (camisinha) em nenhuma das relações sexuais que tiveram nos 12 meses anteriores ao questionário. A informação foi publicada em 2023. A redução das camisinhas é apontada como principal motivo do aumento de IST’s no Brasil nos últimos anos, como sífilis e herpes genital.

A tendência não é exclusivamente brasileira. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o uso de preservativos caiu de 70% para 61% para meninos de 15 anos com a vida sexual ativa e de 63% para 57% entre meninas da mesma idade, no período de 2014 para 2022 em todo o planeta.

Para que serve a camisinha/preservativo?

Os preservativos, comumente apelidado de camisinha, tem duas funções principais: evitar a gravidez e impedir a propagação de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST`s). 

Em relação a gravidez, a camisinha pode chegar a 98% de eficácia se usada corretamente, segundo Planned Parenthood. Isso porque o preservativo para pessoas com pênis envolve o órgão genital em uma camada de latéx que não permite que os esperma chegue ao útero, o que impede a fecundação. O preservativo para pessoas com útero é feito de poliuretano e funciona como uma bolsa que se coloca dentro da vagina impedindo que o esperma chegue até o ovário.

Para prevenir a gravidez há outros métodos contraceptivos, como: pílulas anticoncepcionais, dispositivo intrauterino (DIU), implante subdérmico, laqueadura e vasectomia, adesivo subcutâneo, diafragma e pílula do dia seguinte.

Para prevenir IST’s, usar preservativo é a melhor forma. Atualmente existem medicamentos que ajudam a evitar a infecção pelo vírus do HIV — iremos falar dele em breve —, mas em relação às demais doenças não há medicamentos eficazes na prevenção, apenas tratamentos após a contração da doença.

Transar sem preservativo é correr o risco de contrair: Aids, cancro mole, condiloma acuminado ou HPV, gonorreia, clamídia, herpes, linfogranuloma venéreo, sífilis, tricomoníase.

De acordo com a médica ginecologista Larissa Pereira, um dos motivos da redução no uso do preservativo está na “conversa sobre sexo girar mais em torno da contracepção do que da prevenção de infecções. Muitas pessoas só associam o risco de IST’s a grupos específicos, como quem tem múltiplos parceiros ou se relaciona com pessoas do mesmo gênero, o que não é verdade”, afirma.

Portanto, pessoas em relacionamento exclusivo com uma único parceiro ainda estão sujeitas a contrair alguma doença, isso porque alguns vírus e bactérias podem levar anos para manifestar sintomas no corpo. Outro fator que deve ser considerado são possíveis traições — mesmo que confie no outro. Também é possível contrair infecções por meio de utensílios infectados em contato com a corrente sanguínea.

Os preservativos para pênis são distribuídos gratuitamente em qualquer unidade de saúde do SUS desde 1994. Os preservativos para úteros também são distribuídos gratuitamente desde 2000. Vale ressaltar que deve ser feito o uso por apenas uma das pessoas, se usar os dois modelos ou duas camisinhas iguais elas podem gerar atrito e rasgar durante o ato sexual.

Veja como usar o preservativo:
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Preservativos são distribuídos em qualquer unidade de saúde pública. Imagem: Ministério da Saúde

Aumento de IST’s

Diferentes infecções sexualmente transmissíveis têm aumentado em todo o país nos últimos anos. O Ministério da Saúde monitora o diagnóstico de novos casos de algumas doenças.

Segundo o painel de monitoramento, o único ano de queda da sífilis foi em 2020, quando o Brasil estava em distanciamento social pela pandemia de covid-19. Ou seja, são números subnotificados já que parte da população evitou visitar hospitais ou unidades básicas de saúde. A queda também pode estar relacionada com a diminuição de encontros entre parceiros devido ao confinamento de prevenção.

Desde o início do monitoramento da doença causada pela bactéria Treponema pallidum em 2010, o número de casos cresceu. Em 2023, foram registrados quase 243 mil casos, um aumento de aproximadamente 25 mil casos em relação a 2022.

Os dados do ministério também demonstram uma melhora no diagnóstico da doença. Em 2010, primeiro ano em que o painel armazena dados, há apenas 4 mil casos registrados.

Sífilis tem três estágios de manifestação. A primeira se manifesta entre 10 e 90 dias após o contágio com uma ferida no local de entrada da bactéria. Já a segunda se manifesta entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial, podendo ocorrer manchas por todo o corpo.

O terceiro estágio pode apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte entre um a 40 anos de contágio. Todos os níveis são tratáveis e curáveis.

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Em 2023, foram registrados quase 243 mil casos, um aumento de aproximadamente 25 mil casos em relação a 2022. Imagem: Ministério da Saúde

Segundo a OMS, cerca de 846 milhões de pessoas entre 15 e 49 anos lidam com infecções por herpes genital. O número equivale a um a cada cinco pessoas do planeta. A doença se manifesta por meio de bolhas acumuladas na região do órgão genital, pode haver coceira e dor.

A herpes genital não tem cura, mas pode ser tratada com antivirais que irão adormecer o vírus para que a pessoa possa ter uma vida sem sintomas. Entretanto, em momentos de estresse ou de imunidade baixa, lesões podem voltar a aparecer.

O HIV, vírus causador da Aids, assolou o mundo entre os anos de 1980 até 2000. A crise da doença foi motivador para o desenvolvimento de políticas públicas para conter as IST’s. O preservativo, por exemplo, entrou no SUS em 1994 para reduzir a incidência do HIV.

Apesar do atual estado de estabilidade da doença, o Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde (Dathi/SVSA) divulgou que em 2023, houve um aumento de 4,5% nos casos de HIV em comparação a 2022. Já em relação a mortalidade, foi de 3,9%, a menor desde 2013.

Os dados apontam que 70,7% dos casos notificados foram em pessoas do sexo masculino em 2023. Desses, 53,6% são de homens que se relacionam com outros homens. O que reforça a tese defendida pela ginecologista Larissa Pereira de que o preservativo é visto como um meio de prevenir a gravidez, mas não como uma proteção contra infecções.

A faixa etária com maior incidência é entre os 20 a 29 anos, com 37,1% dos casos notificados.

Se a camisinha previne, por que estamos deixando de usá-lá?

Muitos fatores podem estar envolvidos na queda no uso de preservativos no mundo e no Brasil. Uma delas é a redução da periculosidade das IST’s com os avanços dos tratamentos. 

Na década dos anos 1990, os preservativos foram difundidos para prevenir o HIV/Aids, na época extremamente mortal. “O avanço dos tratamentos, especialmente a distribuição gratuita do coquetel antirretroviral pelo SUS (PrEP), a AIDS deixou de ser vista como algo fatal e passou a ser tratada como uma condição crônica”, explica a ginecologista Larissa Pereira.

A médica ainda reforça que o uso de medicamentos contra HIV não deve ser visto como forma de prevenção universal. “Então, mesmo que a AIDS esteja mais gerenciável, o uso do preservativo ainda é fundamental para evitar outras doenças que continuam sendo um problema sério”, explica Pereira.

Leia também: Inca investiga maior incidência de câncer de mama agressivo nas brasileiras negras

Outro fator também associado a redução do uso de preservativo é a escolha por mais prazer sexual. “Tem gente que vê a camisinha como uma barreira física e emocional contra o prazer e acaba abrindo mão dela, especialmente em relacionamentos estáveis, confiando apenas nos métodos contraceptivos”, expõe a ginecologista. 

Em relação ao preconceito de que as infecções sexualmente transmissíveis estão ligadas às relações homossexuais ou pessoas que têm vários parceiros, a doutora enfatiza “que IST’s não escolhem tipo de relação, muitas infecções podem ficar anos sem sintomas”.

O machismo é mais um problema apontado. Mulheres relatam dificuldades ao sugerir o uso de preservativos aos homens, “enquanto homens podem sentir pressão para evitar o uso devido a percepções de masculinidade”, disse a ginecologista Larissa Pereira.

Saiba mais sobre os medicamentos específicos para IST’s

Desde de 2018, a PrEP (Profilaxia Pré-Exposição) é distribuída gratuitamente pelo SUS. O medicamento combina dois produtos: tenofovir e entricitabina. Ele é feito para ser usado de forma programada para quando houver exposição de risco ao vírus HIV.

Também existe o PEP (Profilaxia Pós-Exposição) para situações de risco e de urgência. O tratamento deve ser iniciado no máximo em até 72 horas e utilizado por 28 dias. Além de prevenir o HIV, serve para evitar a hepatite B. É utilizado em pessoas que sofreram violência sexual, relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com seu rompimento) e em acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

* Caso você se identifique com qualquer um dos sintomas apontados, procure um médico imediatamente. Especialista em ginecologia e urologista são os ideais, porém qualquer clínico geral pode fazer o acompanhamento inicial. Testes rápidos são distribuídos em todas as unidades de saúde, assim como preservativos.

Ministério da Saúde afirmou em nota para a TVT News que mantém compromisso no combate a IST’s:

“O Ministério da Saúde possui o compromisso com a prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/AIDS e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) no Brasil. O governo garante a oferta gratuita de preservativos, testagem regular e medicamentos antirretrovirais pelo Sistema Único de Saúde (SUS), assegurando acesso universal às estratégias de proteção e cuidado. A distribuição de preservativos internos e externos ocorre em unidades de saúde, escolas e campanhas nacionais, com destaque para o Carnaval e o Dezembro Vermelho, reforçando a importância da prevenção combinada.

Entre os avanços recentes, destaca-se a ampliação do acesso à Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), com um aumento de 50,7 mil usuários em 2022 para 104 mil em 2023. No tratamento, foram investidos R$ 1,9 bilhão em antirretrovirais, com 22 medicamentos disponíveis e a inclusão do fostemsavir, indicado para pacientes com vírus multirresistentes. Para pessoas acima de 60 anos, o governo implementou esquemas de terapia antirretroviral (TARV) com menos medicamentos, reduzindo efeitos colaterais e interações.

O Brasil já certificou 60 municípios e três estados pela eliminação da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B, somando 258 certificações municipais e dez estaduais. Além disso, o Programa Brasil Saudável, que reúne 14 ministérios e parceiros estratégicos, visa eliminar a transmissão vertical do HIV e outras doenças até 2030. Outra iniciativa relevante foi o lançamento do Painel Integrado de Monitoramento do Cuidado do HIV, que reúne indicadores atualizados sobre diagnóstico, tratamento e adesão ao acompanhamento clínico.

Diante dos desafios no uso consistente do preservativo e da adesão à PrEP entre jovens, o Projeto “Fortalece Programa Saúde na Escola” busca ampliar o acesso à informação sobre saúde sexual e reprodutiva, promovendo um diálogo intersetorial com escolas e comunidades. A meta é alcançar a adesão de 100% das escolas ao Programa Saúde na Escola (PSE) até 2026, com foco especial em populações indígenas, quilombolas e outras comunidades prioritárias.

Com essas ações, o Ministério da Saúde segue avançando no combate ao HIV/AIDS, garantindo prevenção, diagnóstico e tratamento de qualidade para toda a população. O compromisso do governo é fortalecer políticas públicas baseadas em ciência, ampliando o acesso a tecnologias de saúde e promovendo o respeito aos direitos humanos.”

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