Itamaraty convoca diplomata dos EUA após apoio a Bolsonaro

Rompendo protocolo, embaixada norte-americana acusou "perseguição política" do Judiciário a Bolsonaro
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Ministério considerou a nota “grave” e anormal. Foto: Embaixada EUA

O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores brasileiro) decidiu nesta quarta-feira (9) convocar o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimentos formais. A medida foi motivada pela divulgação, nas primeiras horas, de uma nota oficial da representação diplomática que endossa críticas ao Judiciário brasileiro e manifesta apoio ao ex‑presidente Jair Bolsonaro (PL). Leia em TVT News.

No texto, considerado uma interferência sem precedentes nos assuntos internos do Brasil, os Estados Unidos afirmam que “a perseguição política contra [Bolsonaro], sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil”, além de “reiterar a declaração do presidente Trump”.

A nota americana chega em meio à reiteração de Donald Trump, que nos últimos dias usou sua rede social, a Truth Social, para acusar o governo brasileiro de perseguir Bolsonaro, definindo a situação como “caça às bruxas”.

A Embaixada complementou: “Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação. Não comentamos sobre as próximas ações do Departamento de Estado em relação a casos específicos.”

Itamaraty vê interferência dos EUA no Brasil

O Itamaraty considerou a nota “grave” e anormal, destacando que a manifestação diplomática extrapolou o protocolo. O governo brasileiro entende que esse posicionamento fere o princípio da não interferência nos assuntos internos e a soberania nacional.

Em relação às declarações de Trump, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu em nota oficial, afirmando que o Brasil “não aceita tutela ou interferência externa” e reforçou que a defesa da democracia e o cumprimento da lei são responsabilidade exclusiva dos brasileiros. “Temos instituições sólidas e independentes. Ninguém está acima da lei — sobretudo aqueles que atentam contra o Estado de Direito”

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Itamaraty, o Ministério das Relações Exteriores. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABR

Bolsonaro é atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF), acusado de liderar uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, além de ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral por abuso de poder. O apoio externo reforça um embate entre o governo Lula e setores da direita nacional e internacional.

A postura do Itamaraty — liderado pelo chanceler Mauro Vieira — evidencia a disposição do governo em não admitir interferências no Judiciário e nos processos internos. A convocação de Escobar representa um gesto claro de insatisfação diplomática, ainda que não configurar ruptura nas relações bilaterais.

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