As águas que alagaram o Jardim Pantanal, na Zona Leste de São Paulo, baixaram, mas a população segue na luta pela limpeza das casas, recuperação dos bens perdidos e pressiona a Prefeitura para que a situação não se repita. Leia a reportagem do estudante de Jornalismo da USP Guilherme Farpa, sob supervisão do jornalista da TVT News, Alexandre Barbosa.
Moradores do Jardim Pantanal limpam suas casas e relatam prejuízos após enchentes
Na tarde da última quinta-feira (6), famílias residentes do bairro Jardim Pantanal passaram a realizar a limpeza da lama deixada pelas águas. Localizado na Zona Leste da cidade de São Paulo, o bairro do Jardim Pantanal fica nas margens de parte do Rio Tietê, e sofre com enchentes desde seu surgimento, na década de 1980.
Do início de 2025 até o momento, as enchentes e alagamentos deixaram 18 vítimas fatais apenas no Estado de São Paulo, além de milhares de afetados em regiões de risco, como no Jardim Pantanal.
Segundo Áquila Ferreira, cabeleireiro na região, as chuvas se intensificaram na madrugada do dia 1º de fevereiro. “A gente via um movimento que não era comum na madrugada, muitas pessoas andando na água, carregando colchões e móveis… o bairro aqui tá esquecido, não parece que a gente tá na cidade mais rica do Brasil”.
Seis dias depois, o Jardim Pantanal continua debaixo d’água. Dona Cecília, permanece com parte de sua casa submersa, e relata: “eu levantei de madrugada pra ir ao banheiro e já pisei na água. No começo, era só o esgoto transbordando, mas logo depois também começou a entrar água da rua… aí eu perdi guarda-roupa, sofá, tudo.”
Após a última enchente, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, foi à público sugerir que a prefeitura deveria “incentivar as pessoas a saírem dali” e fornecer uma espécie de ajuda de custo (cerca de R$40mil/família).
Acusado pela população de “fugir de suas responsabilidades” de tentar “expulsar” os moradores da região, Nunes recuou, e outros planos de readequação do bairro foram apresentados pela prefeitura e pelo governo do estado. “Eles dão dinheiro, como se o problema fosse individual e não social”, também relata Áquila.

Ele conta que o poder público conhece os riscos da área desde o início da sua ocupação, na década de 1980, mas nunca realizou um planejamento urbano para evitar desastres na região. Segundo estudos da própria prefeitura, as obras de contenção da chuva custariam quase metade do valor da remoção das famílias sugerida por Nunes, que caso ocorresse, custaria cerca de R$1,9 bilhão.
A prefeitura organizou tendas de cadastro para distribuição de auxílios e mantimentos, que segundo as testemunhas, têm sido insuficientes para acolher todas as famílias afetadas e reagiu violentamente diante de protestos por melhor atendimento, com balas de borracha e bombas de efeito moral.
Lama e destruição no Jardim Pantanal
Para os moradores, as cozinhas solidárias, organizadas voluntariamente pelos moradores, têm suprido muito mais as demandas dos afetados, como conta Raílda dos Santos: “A gente saiu pra trabalhar e tava alagado já, aí chamei meus irmãos e começamos o movimento de fazer marmitas para entregar aqui”.

A água do bairro também foi contaminada, adoecendo centenas de moradores que agora dependem da água potável que está sendo distribuída por cozinhas como a que Raílda ajuda a coordenar. Ela conta que sua irmã também se contaminou e encontra-se em recuperação.
Eduardo Silva mora no bairro há mais de 10 anos e, assim como os outros moradores, ele e seu filho usavam pás, baldes e carrinhos de mão para limpar a lama no andar térreo de sua casa, na tarde de quinta-feira (08) após os primeiros sinais de escoamento da água.
Eduardo, que já trabalhou na construção dos chamados “piscinões” da prefeitura de São Paulo nos entornos da Avenida Aricanduva (em um bairro próximo), demonstra insatisfação: “Lá que tem shopping e tudo, não pode alagar, mas por que eles não dão atenção e fazem um piscinão aqui? É culpa dos governantes”, desabafa o morador do Jardim Pantanal.
O mesmo diz José Oliveira, fortemente atingido pela chuva. Ele e sua esposa contam que pediram para as equipes de reportagem entrarem em sua casa para denunciar o “descaso com as famílias” e que “os nossos governantes não fizeram nada para impedir”.
Nos últimos 10 anos, apenas 8 dos 125 projetos aprovados no Plano Diretor de Drenagem foram concluídos pela prefeitura, Dois dentre os que não foram concluídos ficam na região do Jardim Pantanal, diretamente afetada pelas chuvas.
Agora a Prefeitura de São Paulo estuda junto com o governo do estado possíveis soluções para região, além da remoção sugerida por Nunes, duas outras alternativas foram apresentadas propondo projetos de macrodrenagem, incluindo a construção de canais, reservatórios, diques e reversões temporárias de trechos do Rio Tietê.

Colaboração de Guilherme Farpa, sob orientação de Alexandre Barbosa