Jogador do Talleres acusa Bobadilla, do São Paulo, de xenofobia em partida da Libertadores

Episódio gerou confusão em campo; polícia apura o caso
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Navarro, jogador do Talleres. Foto: Reprodução/Redes Sociais

O jogo entre São Paulo e Talleres, válido pela Libertadores nesta terça-feira (27), no MorumbiS, foi marcado por uma polêmica envolvendo o lateral-esquerdo venezuelano Miguel Navarro, do Talleres, e o meia paraguaio Damián Bobadilla, da equipe paulista. Navarro acusou o adversário de xenofobia. Entenda mais em TVT News.

Nos minutos finais do segundo tempo da partida (vencida por 2 a 1 pelo São Paulo), o lateral venezuelano acusou Bobadilla de tê-lo ofendido. O jogador encarou o paraguaio, e a situação provocou uma grande confusão em campo. Abalado, Navarro chorou e chegou a ameaçar deixar a partida, mas foi impedido pelo árbitro chileno Piero Maza.

Segundo relatado por Navarro à Polícia Militar (PM-SP), Bobadilla teria o chamado de “venezuelano morto de fome”.

Inicialmente, na saída do campo, o jogador da equipe argentina não quis falar sobre o assunto, mas disse que se sentiu ofendido e que o atleta do Tricolor “sabe o que disse”. O atleta ainda ressaltou que o seu único desejo era “voltar para casa”.

“Não quero falar disso (discussão), são coisas que ficam por aqui, ele (Bobadilla) sabe o que disse. Não quero falar de nada, quero ir para casa. Sim (foi com o Bobadilla), ele sabe o que disse. Sim (me senti ofendido)”, disse.

Após o jogo, na zona mista, Navarro confirmou que o paraguaio o chamou de “venezuelano morto de fome”. Ele fez boletim de ocorrência contra o são-paulino.

“Eu estava dizendo ao árbitro para se apressar, porque precisávamos jogar. Aí, do nada, Bobadilla veio e me disse ‘venezuelano morto de fome’. Eu quis sair do jogo, mas, infelizmente, não tínhamos mais substituições. Não quis deixar meu time com um jogador a menos. Minha cabeça não estava mais lá naquele momento. A justiça deve ser feita, isso não pode continuar acontecendo”, disse Navarro.

Navarro foi à Polícia e ao Jecrim (Juizado Especial Criminal) ainda dentro do Morumbis registrar um Boletim de Ocorrência contra Bobadilla. A Polícia chegou a buscar o paraguaio no vestiário são-paulino, mas ele já havia deixado o estádio.

O jogador são-paulino é aguardado pela Polícia para prestar depoimento sobre o caso.

Em suas redes sociais, após o jogo, Navarro publicou um texto comentando sobre a situação:

“Queria eu poder solucionar o problema da fome no meu país. Espero que Deus me dê abundância para que eu possa ajudar. Não creio que posso fazer muito contra a pobreza material. Nunca me envergonharei das minhas raízes, irei às últimas consequências diante do ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil, das mãos de Damian Bobadilla. Não há espaço para discursos de ódio no futebol.”

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Desabafo de Miguel Navarro, do Talleres, contra Bobadilla, do São Paulo. Foto: Reprodução/Redes Sociais

O Talleres também se posicionou em uma nota:

“Nos solidarizamos profundamente com Miguel e com sua família neste momento. Como instituição, levantamos a voz contra qualquer forma de discriminação. Não há lugar para o ódio no futebol. O futebol é uma ferramenta de integração, respeito e união entre as culturas. Seguiremos trabalhando para que esses valores prevaleçam dentro e fora do gramado. Miguel, estamos orgulhosos de você e de suas origens. Todos do Talleres estão com você”.

O que diz o São Paulo?

O São Paulo se posicionou nesta quarta-feira (28), após o ocorrido. O clube informou que “está acompanhando atentamente a apuração dos fatos” e que Bobadilla será “devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance”.

Leia a nota na íntegra:

“O São Paulo Futebol Clube, por meio desta nota oficial, reafirma seu compromisso com os princípios de respeito, igualdade e inclusão, pilares fundamentais que norteiam suas atividades esportivas e institucionais.

Em face dos acontecimentos ocorridos durante a partida contra o Club Atlético Talleres, válida pela CONMEBOL Libertadores, o Clube informa que está acompanhando atentamente a apuração dos fatos pelas autoridades competentes, colaborando integralmente com as investigações em curso.

O São Paulo FC reitera que repudia veementemente qualquer manifestação de discriminação, preconceito ou intolerância, seja ela de natureza racial, étnica, nacional ou de qualquer outra forma.

O Clube permanece à disposição das autoridades e das entidades esportivas para quaisquer esclarecimentos adicionais e reforça seu compromisso contínuo com a promoção de um ambiente esportivo pautado pelo respeito mútuo e pela dignidade humana.

Em relação ao nosso atleta Bobadilla, que, ao longo de sua carreira, não apresentou histórico de conduta disciplinar negativa – ao contrário, sempre pautou sua trajetória pelo profissionalismo – entendemos ser fundamental que o Clube ofereça suporte institucional. O Clube providenciará que ele seja devidamente orientado por meio de medidas educativas que serão conduzidas pela área de compliance.”

Pronunciamento de Bobadilla

Bobadilha se também se posicionou nas redes sociais, ele admitiu que a tensão do jogo pesou e reconheceu ter se exaltado durante a discussão com o adversário nos minutos finais. No vídeo, o paraguaio não cita o nome de Navarro em nenhum momento e alega ter sido ofendido primeiro.

“Olá a todos. Estou aqui para falar sobre o que aconteceu ontem à noite. Foi um jogo muito quente, um clima tenso durante todo o jogo. Depois do nosso segundo gol, tive uma troca de palavras com o jogador do Talleres onde fui ofendido primeiro, ele também me tratou com um pouco desprezo. Nunca tive a intenção de discriminar ninguém, mas durante aquele momento quente acabei reagindo mal. Queria me desculpar publicamente e pedirei desculpa se encontrá-lo pessoalmente. Desculpas e abraço a todos”, declarou meio campista.

O que diz a Conmebol?

Diante do episódio, a Conmebol abriu, nesta quarta-feira (28), uma investigação sobre a acusação e pretende reunir provas por meio de imagens e entrevistas para analisar o caso e decidir se abrirá um processo contra o atleta.

A investigação não pressupõe culpa, mas indica que o caso será examinado com base em elementos suficientes para instaurar um procedimento disciplinar.

Bobadilla pode ser punido?

Segundo o artigo 15 do regulamento da Conmebol, o meio-campista paraguaio pode ser suspenso por quatro meses caso seja comprovado que cometeu ato de xenofobia contra o venezuelano Miguel Navarro.

“Qualquer jogador ou oficial que insultar o atentar contra a dignidade humana de outra pessoa ou grupo de pessoas, por qualquer meio, tendo como motivos a cor da pele, raça, sexo ou orientação sexual, etnia, idioma, credo ou origem, será suspenso por pelo menos dez (10) partidas ou por um período mínimo de quatro (4) meses”, diz o trecho.

“Em caso de reincidência, podem ser penalizados com a proibição de exercício atividades relacionadas ao futebol por cinco (5) anos, ou qualquer outra sanção adicionais estabelecidos no artigo 6º deste Código”, conclui.

A punição já foi aplicada neste ano, após outro caso de xenofobia na Libertadores. Pablo Ceppelini, do Alianz Lima, foi suspenso por quatro meses depois de usar o termo “bolivianos” de forma pejorativa para ofender torcedores do Boca Juniors, durante a rodada de volta da fase preliminar do torneio, em Buenos Aires.

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