O número de jovens brasileiros de 14 a 29 anos que não trabalham nem estudam, popularmente conhecidos como “nem-nem”, caiu para 8,9 milhões no segundo trimestre de 2025. É o menor patamar registrado nos últimos dez anos. O dado foi divulgado nesta quinta-feira (2) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em boletim. Entenda na TVT News.
De acordo com o levantamento, essa parcela corresponde a 17,9% da população jovem, estimada em 49,5 milhões de pessoas. A queda acompanha a melhora geral dos indicadores do mercado de trabalho, puxada pela expansão da atividade econômica. A taxa de desemprego juvenil também registrou recorde histórico de baixa: 10,2% no período, menos da metade do pico de 24,4% analisado em 2020, durante a crise da pandemia.

Jovens “sem-sem” em queda. Arte: Dieese
Na realidade, “sem sem”
Contudo, o Dieese faz uma ressalva: o rótulo “nem-nem” não reflete adequadamente a realidade da juventude brasileira. O termo sugere inatividade e falta de perspectiva, mas a pesquisa mostra que cerca de 60% dos jovens nessa condição estão, na verdade, engajados em outras atividades.
Entre eles, 34% dos homens disseram estar em busca de trabalho, enquanto 42% das mulheres se dedicam a afazeres domésticos e ao cuidado de familiares. Outros 8% frequentam cursos não regulares, como pré-vestibulares ou treinamentos. Apenas 2% afirmaram não querer trabalhar.
Para os pesquisadores, a designação “sem-sem”, de jovens sem trabalho e sem estudo formal, é mais precisa, já que a maior parte está ativa e enfrenta barreiras estruturais que dificultam sua inserção no mercado de trabalho e sua permanência na escola ou na universidade.

Jovens sem trabalho e sem estudar, mas ativos. Arte: Dieese
Desigualdade persiste
A redução do desemprego e do número de jovens fora da escola e do trabalho representa um avanço, mas não elimina os desafios. O estudo aponta desigualdades de gênero e raça que permanecem significativas. Entre as jovens negras, por exemplo, a taxa de desocupação chega a 12,7%, acima da média geral da juventude.
Além disso, fatores socioeconômicos têm peso decisivo. Jovens de famílias mais pobres tendem a enfrentar maior rotatividade em empregos precários e dificuldades para conciliar estudo e trabalho. Para muitos, o período de estar “sem-sem” é transitório, mas marcado por obstáculos que vão além da vontade individual.
Ocupação x qualidade do emprego
Outro aspecto que chama atenção no relatório é a qualidade das vagas ocupadas pelos jovens. Apesar de quase metade (47%) estar empregada com carteira assinada, a informalidade ainda atinge 39,5% dos trabalhadores de 14 a 29 anos, acima da média entre os adultos mais velhos.
A remuneração também evidencia a disparidade. O rendimento médio dos jovens é de R$ 2.314, valor 38% inferior ao dos trabalhadores com 30 anos ou mais. Entre os mais novos, a desigualdade é ainda maior: adolescentes de 14 a 17 anos recebem, em média, R$ 992, valor abaixo do salário mínimo nacional, atualmente em R$ 1.518.
No geral, 43% dos jovens empregados ganham até um salário mínimo. Além disso, 41% cumprem jornadas superiores a 40 horas semanais, o que dificulta a conciliação com os estudos e reduz as chances de qualificação profissional.

Mais jovens trabalhando. Arte: Dieese
Concentração em postos de baixa qualificação
As ocupações mais comuns entre os jovens também revelam um padrão de inserção profissional de baixa exigência. Balconistas, vendedores de lojas, escriturários e trabalhadores da construção civil estão entre os postos mais ocupados. Nenhuma das 20 ocupações mais frequentes para esse grupo exige nível técnico ou superior.
Essa concentração em funções de baixa qualificação limita as possibilidades de ascensão profissional e aprofunda o ciclo de desigualdade, já que a falta de experiência em áreas especializadas dificulta a construção de carreiras mais estáveis e bem remuneradas.
Avanços e desafios
Para o Dieese, os números de 2025 refletem avanços significativos no mercado de trabalho para os jovens, especialmente quando comparados ao período crítico da pandemia. A combinação entre crescimento econômico e políticas públicas de estímulo à ocupação ajudou a reduzir a vulnerabilidade de milhões de jovens.
No entanto, os pesquisadores alertam que a superação do problema não se restringe ao número de vagas. O desafio é transformar essa melhora quantitativa em qualidade do emprego, garantindo salários dignos, estabilidade e condições que permitam a conciliação entre trabalho e estudo.
Desta forma, embora o Brasil tenha conseguido reduzir de forma expressiva o contingente de jovens “sem-sem”, o futuro dessa geração ainda depende de políticas estruturantes capazes de enfrentar a precariedade, a desigualdade e a falta de oportunidades de qualificação.