A experiência das Comunidades Eclesiais de Base na cidade de Embu das Artes virou livro – Fé e Política (Ed. Vozes) – que serviu de base para um documentário. A obra audiovisual tem previsão de lançamento em novembro. A partir do Concílio Vaticano II, inspirada na Teologia da Libertação e impulsionados pelo arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns, a Igreja Católica abraçou o povo humilde das periferias gerando amplos movimentos de fé cristã e de mobilização social, com reflexos na política e na cultura.
Os organizadores do livro – Dalila Pedrini, Maria Isabel Correa e Wagner Correa – optaram por depoimentos direto dos participantes realizados na primeira pessoa, ora do singular, ora do coletivo, o que mantém a vibração de testemunhos. São 26 depoimentos sem a intermediação de terceiros, o que dá muita energia nas falas do tipo eu estava lá e fui o protagonista desta história.
Em seu depoimento, o padre Jaime Crowe, de origem irlandesa, lembra que as CEBs, assim como a Teologia da Libertação, “foram ideias que fomos descobrindo e construindo, os Círculos Bíblicos foram crescendo e ajudando na organização da vida do povo”.
Dalila Pedrini é categórica em relacionar que os clubes de mães eram verdadeiras escolas de educação popular, de emancipação feminina e autonomia das mulheres”. “Eu aprendi muito no Embu, com o povo e as comunidades” afirma o padre Eduardo McGetreick. Também irlandês, ele foi para Embu logo após a ordenação.
As mobilizações entrelaçaram religião e a política, energizadas pela fé na crença cristã e na capacidade de transformar pessoas, famílias, bairros e da própria cidado. Os reflexos ainda estão presentes, com Eleição de vereadores, prefeito e deputados.
Documentário vai além
A forma de comando da liderança religiosa fez a diferença. As vias-sacras acompanhavam a realidade do País que resultou na elaboração de propostas para a constituição de 1988. Lá faltava tudo, as ruas eram de barro. Até a igreja foi construída pela comunidade, onde os santinhos eram feitos no mimeógrafo a álcool, as reuniões eram embaixo de um pé de manga, um fusquinha era a ambulância do bairro. Houve enfrentamento com a polícia da ditadura, o que não intimidava os padres e os militantes.
Assim, a diretora do documentário Isabelle Gomes, da produtora CRIAR Brasil, diz que o vídeo tem como base o livro no sentido do tema e das personagens. Mas avança um pouco com a análise do que “significou aquele momento, legados e avaliação sobre novas formas de agregar as bases.”
O livro e o documentário trazem uma preciosidade, que é o prefácio do ex-ministro de Direitos Humanos Paulo Vannuchi. Ele costura os fatos com a conjuntura política daquele momento inserindo-a no retrovisor da história sob a ditadura de 64. Ao mesmo tempo, faz lupa para a extrema direita bolsonarista dos dias de hoje e questiona onde está o trabalho de base. Mais que isso, ele faz uma breve autobiografia. Expos-se, a si próprio, desde tempos de coroinha em São Joaquim da Barra, sobre a parentada católica e a longa trajetória dos tempos de prisão ao retorno ao trabalho de base nas periferias.
Interessados podem adquirir o livro na loja virtual da Editora Vozes. O lançamento do documentário será em 9 de novembro em Embu das Artes e em 11 de novembro na Câmara Municipal de São Paulo.
Por Paulo Salvador