Lula 80 anos: momentos em que a emoção dividiu espaço com a política

Além da defesa incansável dos mais pobres e da democracia, a trajetória do presidente é marcada por discursos que levaram o próprio às lagrimas. Relembre com a TVT
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva emocionado durante cerimônia de posse, no Palácio do Planalto. em 2023 Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O carisma e a oratória de Luiz Ínácio Lula da Silva são características que marcam sua trajetória política. De lembranças da infância quando passou fome até a indignação por situações mundiais, como o genocídio em Gaza, não raro o presidente faz discursos carregados de emoção em que nem ele consegue segurar as lágrimas. No aniversário de 80 anos do chefe do Planalto, relembre momentos em que ele se emocionou e comoveu o público com a TVT News.

Desigualdade social, herança de Jair Bolsonaro, leva Lula às lágrimas em 2022

Quando recebeu a faixa presidencial após as eleições de 2022, em 1º de janeiro de 2023, Lula chorou e teve que interromper seu discurso em frente ao Palácio do Planalto ao falar da fome e da desigualdade social.

“Nestes últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo. Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas”, disse Lula ao relatar o histórico de retrocessos e tragédias que ocorreram durante o governo de Jair Bolsonaro

Lula citou pessoas pedindo dinheiro com cartazes, fazendo filas para comprar ossos, crianças pedindo esmola e famílias em situação de rua e, com a voz embargada, precisou parar para se recompor e continuar a leitura do discurso.

“Crianças vendendo bala ou pedindo esmola, quando deveriam estar na escola, vivendo plenamente a infância a que têm direito. Trabalhadoras e trabalhadores desempregados exibindo, nos semáforos, cartazes de papelão com a frase que nos envergonha a todos: ‘Por favor, me ajuda’”, disse o presidente ao se emocionar com a calamidade social que Bolsonaro legou ao Brasil.

Na ocasião do discurso, o presidente prometeu atenção especial para a população pobre e para a questão da fome. Dois anos mais tarde, em julho de 2025, o Brasil voltou a sair do Mapa da Fome e Lula comemorou: “Uma conquista histórica que mostra que com políticas públicas sérias e compromisso com o povo, é possível construir um país mais justo e solidário”.

Lula chora ao lembrar de quando passava fome 

Lula passou fome na infância, não à toa a erradicação da insegurança alimentar e a garantia de que todos os brasileiros tenham acesso a refeições nutritivas e de qualidade são duas de suas obsessões políticas. 

“A fome não dói, a fome vai corroendo você por dentro”, disse o presidente em uma reunião do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) em agosto deste ano. O presidente se emocionou ao lembrar de quando trabalhava em uma fábrica na década de 1960 e não tinha o que comer no almoço com os colegas.

O presidente relembrou uma ocasião em que não levou marmita e foi para o refeitório com os amigos, que perguntavam se ele estava com fome e Lula insistia que não, porque sentia vergonha de sua situação. Entre lágrimas, Lula interrompeu a fala sobre o episódio e foi aplaudido, mas logo voltou a se emocionar ao contar que comeu pão pela primeira vez aos sete anos. 

“Qual é a alma de um ser humano que quando vai discutir o orçamento e se discute dinheiro para acabar com a fome diz ‘não pode gastar’?”, questionou Lula. Faz parte da agenda do presidente reconhecer a fome como “escolha política” e defender políticas públicas e a responsabilização do Estado para combater a insegurança alimentar.

Lula em lágrimas durante diplomação após vitória em 2022

Lula se tornou o primeiro presidente brasileiro sem formação universitária em 2002, quando chorou na cerimônia para receber o diploma como 37º presidente da República. “Se havia alguém no Brasil que duvidava que um torneiro mecânico, saído de uma fábrica chegasse à Presidência da República, 2002 provou exatamente o contrário”, disse o chefe do Planalto quando foi diplomado pela primeira vez. 

“Eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho como meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país”, continuou Lula enquanto chorava na ocasião. Dez anos depois, a cena se repetiu em sua diplomação em 2022 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para seu terceiro mandato.

Na cerimônia, Lula defendeu a democracia, o sistema eleitoral e relembrou a “ousadia do povo brasileiro” ao eleger alguém sem diploma universitário para o cargo de Presidência da República e foi aplaudido quando se rendeu às lágrimas. 

“Quero pedir desculpas a vocês pela emoção, porque quem passou o que eu passei nos meus últimos anos, estar aqui agora é a certeza de que Deus existe e de que o povo brasileiro é maior do que qualquer pessoa que tentar o arbítrio nesse país”, continuou Lula. 

Antes de chegar à Presidência pela terceira vez, Lula enfrentou a perda de sua esposa, Marisa Letícia, e a prisão em 7 de abril de 2018. O presidente sairia apenas 580 dias depois da cela na Polícia Federal de Curitiba (PR), quando as acusações da Lava Jato foram anuladas. Enquanto esteve preso, seu irmão, Vavá, e o neto de sete anos, Arthur, faleceram.

Catástrofe humanitária imposta por Israel em Gaza emociona Lula

Quando recebeu artistas e políticos no Palácio do Planalto para a exibicação do filme O Agente Secreto, que representa o Brasil no Oscar, em agosto deste ano, Lula se emocionou ao comentar a crise humanitária na Faixa de Gaza e o genocídio cometido por Israel

“Hoje, nessa alegria que estamos aqui, nós não sabemos quantas crianças morreram na Faixa de Gaza”, lamentou Lula. Até o momento, pelo menos 64 mil crianças foram mortas ou feridas na Palestina por Israel, de acordo com levantamento da Unicef divulgado em 8 de outubro. O governo de Benjamin Netanyahu usa a fome como arma de guerra, impõe um cerco humanitário na região e bombardeia diariamente alvos civis. 

Com a voz embargada, o presidente continuou: “nós não temos informação de quantas crianças vão morrer indo na fila buscar alimentos. Porque agora nós chegamos à cretinice de dar comida e água para as crianças e matá-las antes deles pegarem a comida”, disse o presidente, com a voz embargada.

Antes disso, em junho, o presidente já havia se emocionado ao comentar a catástrofe humanitária em Gaza durante uma coletiva de imprensa na França ao lado do presidente Emmanuel Macron. O brasileiro negou que o que está acontecendo na Faixa de Gaza seja guerra: “o que está acontecendo é um genocídio de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças”, disse categoricamente.

“Não podemos tratar os palestinos como cidadãos de segunda ou terceira categoria. São seres humanos”, disse Lula emocionado com a falta de solidariedade com as mortes na Faixa de Gaza. O presidente clamou por “um basta” nos ataques de Israel e afirmou que as potências mundiais precisavam agir para cessar o genocídio. Lula pediu desculpas pela emoção, mas justificou: “no dia em que eu perder a capacidade de me indignar, eu não mereço ser dirigente do meu país”

Prisão injusta durante 580 dias e apoio da militância em acampamento comovem Lula

Lula se lembrou de sua injusta prisão e agradeceu aos militantes que não o abandonaram durante os 580 dias em que ficou preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR). O presidente foi às lágrimas ao mencionar a Vigília Lula Livre, que se estendeu de 7 de abril de 2018, quando foi preso, até sua libertação em 8 de novembro de 2019.

“Todo santo dia, durante 580 dias, fazendo frio, calor ou chovendo, domingo ou feriado, eu via da cela que eu estava todo dia, o pessoal cantar, cantar parabéns, comemorar aniversário, aquilo marcou minha vida”, desabafou Lula comovido. 

Em 2017, Lula foi condenado em primeira instância. No ano seguinte, já como favorito na corrida presidencial, o presidente foi julgado culpado em segunda instância e tornou-se inelegível em um processo viciado e sem provas.

Em 7 de abril de 2018, Moro decretou a prisão de Lula, que se entregou à Polícia Federal. Após 1 ano, 7 meses e 1 dia (580 dias) encarcerado na sede da Polícia Federal em Curitiba (PR), Lula foi solto, após o STF proibir prisões antes do “trânsito em julgado”, quando não cabe mais recurso. Os direitos políticos de Lula foram restaurados em março de 2021, com a anulação de todas as condenações.

A fala ocorreu em cerimônia para retomada das operações de uma fábrica de fertilizantes em Curitiba (PR) em agosto deste ano. Na ocasião, o presidente também chorou ao falar da Petrobrás, cuja reputação “tentaram destruir”, disse o presidente. 

O presidente lamentou a criação do imaginário de que todos que trabalham na Petrobrás são corruptos. “Muitas vezes eu ficava deprimido e chorava quando eu ficava sabendo da notícia de que companheiros trabalhadores da Petrobrás entravam em um restaurante para comer, ou entrava no bar, e muitas vezes eram chamados de ladrão”.

Lula se solidariza com população em vulnerabilidade e afirma compromissos sociais

Durante a campanha presidencial para as eleições de 2022, Lula afirmou seu compromisso com as causas dos mais pobres, as políticas de moradia, educação, saúde e o combate à fome. 

O presidente declarou que os brasileiros têm aspirações e dever do governo dar condições para que elas possam ser atingidas. “As pessoas não são peão de fábrica porque escolheram, são porque não tem profissão. As pessoas estão catando material reciclável porque não tiveram chance de estudar para ser outra coisa”, lamentou Lula.

O presidente se emocionou ao dizer que entende a situação de vulnerabilidade de parte da população. “Eu morei num quarto e cozinha com 13 pessoas, então eu tenho consciência do que esse povo tá passando”, desabafou. 

Lula afirmou seus compromissos caso fosse eleito: “Eu não posso mentir, eu não posso ganhar ao 76 anos e falar ‘gente, eu ganhei mas não dá para fazer as coisas, desculpa eu tenho que atender o mercado, a Faria Lima, preciso ter responsabilidade fiscal, manter o teto de gastos'”, declarou o petista, que questionou “e o teto de comida, emprego, salário e saúde quem é que vai devolver para esse povo?”, questionou.

Papel do Brasil no mundo emociona Lula

Ao participar pela primeira vez da Cúpula do G7, em junho de 2003, em Évian-les-Bains, na França, o presidente, um metalúrgico recém-eleito, se encontrou em um ambiente cercado por figuras que só via na televisão, sem intérprete e sem saber falar ou entender inglês.

A partir do episódio, Lula se emocionou ao repassar para o público a lição que aprendeu naquele momento: “não esquecer o que vocês são, o que vocês querem, porque a gente não compra nem honra e nem caráter em shopping, a gente traz de família, a gente traz de berço”. 

Cercado de autoridades políticas, Lula se perguntou quantos daqueles presidentes já viveram desempregados, trabalharam em chão de fábrica, moraram em bairros que sofriam com enchentes, passaram fome ou moraram na periferia de suas cidades e concluiu, com orgulho, que isso o diferenciava deles. 

“Nunca me senti tão à vontade na vida, porque eu tinha definido antes de qualquer coisa que eu não era inferior a eles, que eu não era menor, que eu representava o Brasil e que, portanto, eu tinha que ter orgulho.”

Lula faz 80 anos; no aniversário do presidente Lula, relembre a trajetória

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