Especial Lula 80 anos: os encontros que moldaram a diplomacia brasileira

Lula garantiu política externa altiva e ativa. Ao longo de seus mandatos, dialogou e conseguiu simpatia de potências, além de benefícios ao país
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Aos 80 anos, Lula já colecionou encontros que ajudaram a desenhar uma narrativa internacional em que o Brasil se coloca como ponte entre Norte e Sul, mediador em crises, e interlocutor imprescindível. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Quando Luiz Inácio Lula da Silva desembarcou pela primeira vez nos grandes palcos internacionais, no começo dos anos 2000, trazia consigo mais do que a trajetória de líder sindical convertido em presidente: trazia uma visão clara de país protagonista para o Brasil, e um estilo pessoal de diplomacia feito de conversas longas, gestos calorosos e um repertório de alianças que ia do vizinho caribenho ao chefe de Estado europeu. Confira na TVT News.

Aos 80 anos, Lula já colecionou encontros que ajudaram a desenhar uma narrativa internacional em que o Brasil se coloca como ponte entre Norte e Sul, mediador em crises, e interlocutor imprescindível em negociações sobre clima, comércio e governança global.

A seguir, uma longa viagem pelos encontros, os gestos, as declarações e, sobretudo, os arranjos políticos, que transformaram viagens presidenciais em capítulos da história diplomática brasileira.

Lula faz 80 anos; no aniversário do presidente Lula, relembre a trajetória

A Química entre Lula e Trump

Em julho de 2024, quando Trump impôs o tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros exportados para os EUA, a relação entre Lula e Trump parecia não ter solução. Porém, ao longo dos 80 anos de Lula, o que o presidente mais soube fazer é negociar. Desde as greves à frente dos metalúrgicos nos anos 70, passando pela Constituinte e ao longo dos três mandatos, Lula sempre foi um grande negociador.

A reaproximação entre Lula e Trump começou durante a 80ª geral da ONU, quando Trump disse que pintou uma “química” entre ele e Lula num rápido encontro dos dois entre os discursos.

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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a Conferência Internacional de Alto Nível para a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados. Sede das Nações Unidas, Salão da Assembleia Geral – Nova York (EUA). Foto: Ricardo Stuckert / PR

Depois dessa primeira aproximação, as diplomacias atuaram até que o encontro finalmente aconteceu em Kuala Lampur, em outubro, um dia antes do aniversário do presidente. Trump elogiou a carreira política de Lula e sinalizou que o tarifaço possa ter uma rápida solução.

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26.10.2025 – Encontro com o Presidente dos Estados Unidos. Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, durante Encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante o 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático – ASEAN em Kuala Lampur, Malásia. Fotos: Ricardo Stuckert / PR

Obama e o “that’s my man”

Foi numa temporada de tempestade global, a crise financeira de 2008/2009, que a figura de Lula ganhou um instante viral. No G20 em Londres, em 2009, o então presidente dos EUA, Barack Obama, apontou para Lula diante de líderes do mundo e, entre risos, disse: “That’s my man right here. I love this guy.” A frase, reproduzida por jornais e colunistas desde então, virou metáfora: não só um gesto de empatia pessoal, mas o reconhecimento de que Lula ocupava (naquele momento) um lugar de liderança carismática no concerto internacional. Registros oficiais e reportagens da época documentam a cordialidade entre os dois e a associação, já naquele encontro, entre carisma pessoal e capital diplomático.

O episódio resumiu uma característica recorrente da diplomacia lulista: o uso da presença pessoal e da empatia como instrumento político, um estilo que abriu portas e gerou percepção de peso internacional ao Brasil.

No G20 em Londres, em 2009, o então presidente dos EUA, Barack Obama, apontou para Lula diante de líderes do mundo e, entre risos, disse: “That’s my man right here. I love this guy.”. Foto: Ricardo Stuckert/PR
No G20 em Londres, em 2009, o então presidente dos EUA, Barack Obama, apontou para Lula diante de líderes do mundo e, entre risos, disse: “That’s my man right here. I love this guy.”. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Fidel Castro, Cuba e a aposta na América Latina

Os abraços com Fidel Castro não foram apenas fotografia simbólica: foram parte de uma estratégia ativa de integração regional. Lula manteve relações próximas com Cuba, visitas oficiais, projetos de cooperação (créditos do BNDES, contratos de empresas brasileiras em infraestrutura) e iniciativas de saúde pública (como o programa “Mais Médicos”, que viria a ganhar repercussão regional). Em fevereiro de 2010, uma visita a Havana foi descrita pela imprensa como “emocional”: conversas longas, fotografias com os dois líderes sorrindo e a reafirmação de laços políticos e econômicos entre Brasília e Havana. Reportagens daquela viagem mostram não somente afeto pessoal, mas decisões concretas de cooperação.

A relação com Cuba simbolizou, para Lula, a capacidade do Brasil de atuar como polo de cooperação no continente, inclusive com regimes que, no discurso ocidental, eram tratados com cautela. Essa escolha trouxe ganhos políticos no Sul, ao mesmo tempo em que gerou críticas em certas frentes internacionais.

A relação com Cuba simbolizou, para Lula, a capacidade do Brasil de atuar como polo de cooperação no continente. Foto: Ricardo Stuckert/PR
A relação com Cuba simbolizou, para Lula, a capacidade do Brasil de atuar como polo de cooperação no continente. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O “bromance” franco-brasileiro: Macron e Lula na Amazõnia

Nos anos recentes, a aproximação entre Lula e Emmanuel Macron ganhou contornos públicos e substância prática. Em março de 2024, Macron veio ao Brasil e participou de cerimônias que iam do lançamento de um submarino construído com tecnologia francesa a anúncios conjuntos sobre um programa de investimento de €1 bilhão para proteção da Amazônia. Foram gestos que buscaram transformar afinidade pessoal em política pública e em cooperação tecnológica e financeira. A imagem de Lula e Macron em Belem, ou a cerimônia do estaleiro em Itaguaí, virou símbolo de uma reaproximação franco-brasileira após anos de atrito.

Além do simbolismo do “bom relacionamento”, essa aliança rendeu compromissos práticos, recursos, tecnologia e projetos que acoplam interesses estratégicos (defesa e preservação ambiental) com vantagens econômicas e diplomáticas.

Nos anos recentes, a aproximação entre Lula e Emmanuel Macron ganhou contornos públicos e substância prática. Foto: Ricardo Stuckert/PRlula-faz-80-anos-e-esta-pronto-para-o-4-mandato-lula-faz-80-anos-em-27-de-outubro-no-aniversario-do-presidente-relembre-a-trajetoria-foto-ricardo-stuckert-pr-tvt-news-lula-80-anos
Nos anos recentes, a aproximação entre Lula e Emmanuel Macron ganhou contornos públicos e substância prática. Foto: Ricardo Stuckert/PR

China, comércio, investimento e mediação

A relação de Lula com a China é, desde os primeiros mandatos, estrutural: o gigante asiático é parceiro comercial e ator central nos esforços brasileiros de diversificar mercados. Em abril de 2023, a visita de Lula a Pequim e o encontro com Xi Jinping renovaram esse eixo e abriram espaço para uma ambição diplomática: Lula chegou a anunciar que proporia uma iniciativa de mediação para tentar baixar a tensão entre Rússia e Ucrânia, aproveitando canais de diálogo com Moscou e Pequim. A ideia, controversa, mostrou um traço recorrente na estratégia externa lulista: usar a posição de interlocutor do Sul para intermediar grandes crises globais.

A diplomacia com a China é a coluna vertebral do comércio brasileiro. Ao tentar agregar Pequim a propostas de paz, Lula buscou converter essa influência econômica em influência política global.

O reagrupamento com os Estados Unidos através do trabalhismo

A reaproximação com os EUA, especialmente a partir de 2023, teve tom estratégico e pragmático: em fevereiro de 2023 Lula foi recebido na Casa Branca por Joe Biden, e em setembro ambos anunciaram, em Nova York, a “Partnership for Workers’ Rights”, uma iniciativa conjunta sobre direitos dos trabalhadores lançada às margens da Assembleia Geral da ONU. Ao dialogar com Washington, Lula procurou conciliar diferenças (especialmente sobre temas de geopolítica) e capitalizar convergências (clima, democracia, direitos laborais). A postura sinalizou a busca por um equilíbrio entre a diplomacia sulista e a relação com as potências ocidentais.

Demonstra a capacidade de Lula de transitar entre agendas, negociar com o Norte sem abandonar projetos de liderança no Sul.

Encontros no tabuleiro multipolar: BRICS, Putin e a Rússia

Lula sempre desempenhou papel ativo nos fóruns que reúnem países em desenvolvimento. As cúpulas do BRICS e encontros bilaterais com Vladimir Putin ilustram um esforço contínuo de equilibrar interesses: cooperação em energia, tecnologia militar e infraestrutura, ao mesmo tempo em que o tema Ucrânia e o posicionamento diante de sanções sempre complicaram a equação. Em visitas recentes, incluindo a agenda de 2025, Lula e Putin trataram de trade, parcerias em ciência e tecnologia e da intenção brasileira de ampliar o diálogo sul-sul. A presença de Lula em Moscou e a participação em fóruns com a Rússia mostram essa ambição de manter canais com todos os polos.

A relação com a Rússia traduz para Brasília a busca por autonomia estratégica e o desafio de não antagonizar demais parceiros ocidentais.

A relação de Lula com a China é, desde os primeiros mandatos, estrutural. Foto: Ricardo Stuckert/PR
A relação de Lula com a China é, desde os primeiros mandatos, estrutural. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Lula, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos no Brasil

Lula, um apaixonado por futebol, deu especial atenção ao esporte nos 3 mandatos.

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26.10.2025 – Encontro com o Presidente da Fifa |Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Encontro da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Gianni Infantino, na Malásia. Fotos: Ricardo Stuckert / PR

Cultura, música, diplomacia e soft power

A presença de artistas brasileiros em palcos internacionais é um capítulo subestimado da estratégia externa. Em setembro de 2003, Gilberto Gil, já então ministro da Cultura no governo Lula, apresentou-se na Assembleia Geral da ONU num concerto em homenagem e como gesto de “soft power”: era a projeção de um Brasil que, além de commodities, exporta cultura e imagens sedutoras. O uso da música e da cultura ajudou a compor, em eventos, recepções e visitas, a marca de um país atraente e reconhecido pela criatividade.

O soft power cultural fortaleceu a receptividade a agendas políticas e econômicas do Brasil, abrindo espaço para conversações em que a imagem pública tornou-se moeda diplomática.

Chávez, o Foro de Porto Alegre e a política latino-regional

A relação entre Lula e Hugo Chávez foi tanto política quanto simbólica. Nos anos 2000, encontros em fóruns regionais como o Fórum Social Mundial em Porto Alegre, e visitas oficiais consolidaram uma aliança pragmática e ideológica. A parceria teve impactos concretos: acordos energéticos, cooperação em infraestrutura e alinhamentos em pautas regionais. Mas a relação também suscitou polêmicas e críticas internas e externas sobre o alcance do “aperto de mãos” ideológico. Foi um capítulo da política externa que afirmou o protagonismo regional do Brasil, com ganhos e riscos políticos.

Zelensky e a tentativa brasileira de mediação

A tentativa de Brasil e China, em conjunto, de apresentar um texto para uma conferência de paz envolvendo Rússia e Ucrânia, e o posterior receio de Kiev em aceitar um plano que não incluísse suas demandas, expõe a fragilidade da posição de “mediador” quando as partes em conflito discordam frontalmente dos termos. O encontro de Lula com Volodymyr Zelensky na ONU (2023) foi cauteloso: houve diálogo, mas também críticas públicas aos formatos propostos por Brasil e China. A história revela que a ideia de “mediação” depende tanto de capital diplomático quanto de aceitação dos atores principais.

O caso mostra os limites do papel de ponte do Brasil em crises onde as assimetrias de poder e méritos políticos de cada lado são enormes.

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Encontro de Lula com o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Brasil e Benin: a ponte da ancestralidade

A relação entre o Brasil e o Benin é uma das mais simbólicas da diplomacia africana de Lula. O pequeno país da costa ocidental da África, berço do antigo Reino do Daomé, foi uma das principais origens dos povos escravizados levados ao Brasil durante mais de três séculos de tráfico transatlântico. Quando Lula desembarcou em Cotonou, capital beninense, em 2006, a visita teve uma dimensão que ultrapassava os protocolos: era um gesto de reparação histórica. Em discursos públicos, o presidente brasileiro lembrou que “os africanos não vieram para o Brasil como turistas, mas construíram com seu sangue a nossa nação”. O governo beninense, então presidido por Mathieu Kérékou, reconheceu na presença de Lula um retorno simbólico dos descendentes, “o reencontro dos filhos com a casa de seus ancestrais”, como registrou a BBC Africa à época.

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Esta é a segunda visita de Talon ao Brasil em pouco mais de um ano. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Durante os governos petistas, o Brasil fortaleceu laços com o continente africano como raramente se viu. O número de embaixadas brasileiras na África saltou de 18 para 37 entre 2003 e 2010, com o Benin em posição central dessa política. A diplomacia brasileira estimulou acordos de cooperação técnica, investimentos em agricultura e educação, e parcerias entre universidades.

Um dos marcos mais emblemáticos foi a oferta de cidadania honorária do Benin a afrodescendentes brasileiros, especialmente àqueles ligados a comunidades tradicionais e culturais do Recôncavo Baiano, uma iniciativa simbólica de “retorno à terra-mãe”, apoiada politicamente por Brasília. Segundo reportagens da Deutsche Welle e da Agência Brasil, Lula considerava a concessão uma “restituição moral” e um “laço espiritual entre povos que nunca deveriam ter sido separados”.

Nos últimos anos, já sob o governo de Patrice Talon, o Benin tem buscado modernizar sua economia e reaproximar-se de parceiros latino-americanos. Em 2023, a reabertura de diálogos diretos entre o Itamaraty e o Ministério das Relações Exteriores beninense reativou projetos nas áreas de saúde pública e formação profissional. Lula tem mencionado o continente africano, e Benin em particular, como prioridades em sua “diplomacia da justiça histórica”, expressão usada em discurso na Cúpula do G77 em Havana. A retomada da cooperação com países africanos não é apenas política: envolve reconhecimento mútuo de trajetórias de resistência, de cultura e de fé.

Ao longo de décadas, a presença brasileira em Benin também foi marcada pela ação cultural e religiosa. As trocas entre Salvador e Ouidah, cidade símbolo do culto vodum e da memória da escravidão, tornaram-se rituais de diplomacia popular, com caravanas afro-brasileiras e delegações oficiais brasileiras visitando o “Portão do Não Retorno”, monumento erguido em homenagem aos africanos levados para as Américas. Como destacou o próprio Lula em discurso de 2006, “é olhando para Ouidah que o Brasil encontra o espelho de si mesmo”. Essa política de aproximação, somada à nova fase de diálogo com Patrice Talon, recoloca o Benin como um dos vértices do triângulo afetivo e político entre o Brasil, a África e a diáspora negra.

Com Lula, o Brasil fortaleceu laços com o continente africano como raramente se viu. Foto: Ricardo Stuckert
Com Lula, o Brasil fortaleceu laços com o continente africano como raramente se viu. Foto: Ricardo Stuckert

Pequenas histórias que ilustram um estilo

  • O riso com Fidel: a descrição, em fotos e relatos, de encontros “emocionais” entre Lula e Fidel (Havana, 2010), além do conteúdo de acordos, alimentou a ideia de que a diplomacia do presidente se faz também por empatia.
  • O aperto com Macron em Belém: na beira do rio e num estaleiro, gestos e protocolos foram transformados em anúncios que uniram meio ambiente e segurança industrial (Amazonia + submarino).
  • O piano silencioso das cúpulas: em G20, BRICS e ONU, Lula procurou sempre usar as falas públicas para delinear interesses do Sul global e os encontros bilaterais para traduzir essas falas em cooperação concreta (financiamento, acordos, memorandos).

Tensões, críticas e contradições: o balanço inevitável

A diplomacia de Lula não foi isenta de problemas: aproximações com regimes autoritários, críticas de governos europeus sobre escolhas ambientais, resistências internas a acordos com potências rivais e a complexidade de conciliar o comércio com metas climáticas. Ao mesmo tempo, a habilidade de transitar por diferentes palcos, de Washington a Pequim, de Havana a Moscou, virou marca. Observadores internacionais destacam que a construção de uma “voz do Sul” depende agora de transformar retórica em instrumentos financeiros e institucionais (por exemplo, fundos climáticos e reformas de governança global).

O legado em viagem: um país novamente visível e com desafios

Ao completar 80 anos, a trajetória internacional de Lula revela um Brasil que voltou a disputar narrativas globais: a defesa do Sul, a aposta em mediação, a reabertura de canais com potências e o uso do soft power cultural. Mas também expõe limites práticos: a dificuldade de transformar carisma em compromissos duradouros e de equilibrar interesses econômicos com compromissos ambientais e de direitos humanos.

Dez encontros: Lula e o mundo

Barack Obama (G20, Londres, 2 abr 2009)

O episódio: Em abril de 2009, no auge da crise financeira global, a imagem simpática do encontro entre Lula e o então presidente dos EUA, Barack Obama, ganhou a imprensa: colunistas reproduziram a reação de Obama — “That’s my man right there” — que entrou para a cultura política como símbolo de reconhecimento pessoal e diplomático.
Contexto: O G20 daquele ano discutia respostas coordenadas à recessão global; Lula, líder de uma economia emergente com forte voz no G20, buscou projetar o Brasil como ator-chave nas soluções multilaterais.
Por que marcou: além do carisma, a cena ajudou a consolidar a percepção internacional de Lula como interlocutor imprescindível das economias emergentes.
Efeito concreto: reforço da capacidade de Brasília em moldar agendas financeiras multilaterais e maior visibilidade para demandas do Sul.

Gilberto Gil / ONU (19 set 2003)

O episódio: Gilberto Gil, então ministro da Cultura, subiu ao palco na Assembleia-Geral da ONU para um tributo às vítimas do ataque à sede da ONU em Bagdá; Kofi Annan chegou a tocar atabaque no final. A cerimônia projetou a cultura brasileira como elemento de soft power.
Contexto: No início do primeiro mandato de Lula, a equipe buscou combinar diplomacia política com projeção cultural — usar música, cinema e imagem para abrir portas.
Por que marcou: o gesto de unir arte e política nas Nações Unidas deu ao Brasil capital simbólico em arenas onde tradicionalmente só o poder econômico tem voz.
Efeito concreto: atenuou resistência em certos fóruns e criou canais informais para trocas culturais e parcerias.

Fidel Castro (Havana, 24 fev 2010)

O episódio: Um encontro descrito como “emocional” por agências; fotografias e relatos destacaram o afeto e a cordialidade entre os ex-presidentes, sinalizando continuidade de um relacionamento estreito.
Contexto: Durante e após os mandatos de Lula, Brasília buscou um papel ativo na integração latino-americana, inclusive com países cuja relação com o Ocidente era tensa.
Por que marcou: simbolizou a aposta do Brasil em prestar cooperação técnica e econômica independente do alinhamento político-ideológico.
Efeito concreto: fortaleceu acordos de cooperação técnica, saúde e créditos do BNDES para projetos na ilha.

Hugo Chávez (Caracas, 14 fev 2005 e encontros regionais)

O episódio: A relação foi marcada por encontros em Caracas e fóruns como o Foro de São Paulo e o Fórum Social Mundial; acordos em energia, infraestrutura e programas sociais foram celebrados.
Contexto: No início dos anos 2000, a aliança com líderes como Chávez foi parte de uma estratégia para reconfigurar o penacho político regional, a favor de maior autonomia frente aos EUA.
Por que marcou: alavancou iniciativas de cooperação Sul-Sul e consolidou uma frente política em algumas questões regionais.
Efeito concreto: acordos e projetos bilaterais, mas também críticas internas e internacionais sobre escolhas ideológicas.

Xi Jinping (Pequim, abril de 2023)

O episódio: Na visita a Pequim, Lula anunciou a intenção de submeter uma proposta de mediação entre Rússia e Ucrânia — um movimento de alto risco diplomático que tentou converter laços econômicos (com a China) em influência política.
Contexto: A China é parceira comercial estratégica; Lula tentou usar essa relação para iniciativas de paz, buscando neutralidade ativa do Sul.
Por que marcou: mostrou ambição brasileira de agir como mediador em crises de segurança internacional.
Efeito concreto: a proposta teve recepção mista — alguns líderes elogiaram a iniciativa; outros, incluindo Kiev, mostraram ceticismo.

Separe todas palavras da frase abaixo com um hífen (-), coloque tudo em minúsculo e sem acento, transforme os dois pontos (:) em hífen (-) e também transforme os espaçadores ( | ) em hífen (-) Em meio às tarifas dos EUA, Lula e Xi Jinping conversam por telefone sobre cooperação | Xi Jinping disse que a China está disposta a trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global. Foto: Ricardo Stuckert/PR | TVT News Ao final, dê apenas a frase sem acentos e separada com hífen, sem comentários.
Xi Jinping disse que a China está disposta a trabalhar com o Brasil para estabelecer um exemplo de unidade e autossuficiência entre os principais países do Sul Global. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Joe Biden (Casa Branca, 10 fev 2023; e bilateral na ONU, 20 set 2023)

O episódio: Em fevereiro de 2023, encontro formal na Casa Branca com anúncio de compromissos sobre democracia e direitos; em setembro, bilaterais ampliaram a agenda sobre clima, trabalho e governança.
Contexto: A normalização e o pragmatismo na relação com os EUA foram essenciais após anos de tensão com o governo anterior.
Por que marcou: reforçou confiança nas grandes democracias e abriu espaço para cooperações em tecnologia, clima e direitos trabalhistas.
Efeito concreto: readaptação de canais diplomáticos e cooperações multissetoriais.

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Entre os líderes do G20 recepcionados estão os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Volodymyr Zelensky (NYC, UNGA, set 2023)

O episódio: O encontro, em setembro de 2023, foi tenso: Zelensky rejeitou alguns formatos de paz percebidos como insuficientes; ainda assim, os dois conversaram na ONU. A tentativa brasileira de propor um formato negociado com China e outros atores encontrou resistência.
Contexto: A crise Rússia-Ucrânia colocou o Brasil numa posição difícil: tentar mediar sem perder credibilidade com vítimas do conflito.
Por que marcou: revelou os limites práticos da mediação quando as partes discordam dos termos.
Efeito concreto: diplomacia brasileira ficou exposta ao escrutínio internacional sobre neutralidade e eficácia.

Emmanuel Macron (Belém/Itaguaí/Brasília, mar 2024)

O episódio: Macron viajou ao Brasil em março de 2024; os dois anunciaram um pacote de €1 bilhão para proteção da Amazônia e participaram da cerimônia do submarino em Itaguaí.
Contexto: A França buscou reforçar parceria com o Brasil em clima e defesa (Itaguaí) enquanto o Brasil buscou investimentos e tecnologia.
Por que marcou: transformou afinidade pessoal em compromissos financeiros e tecnológicos.
Efeito concreto: compromissos de investimento, maior diálogo bilateral em defesa e clima.

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“Não deixarei a presidência do Mercosul sem concluir o acordo”, disse Lula. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Vladimir Putin (Moscou mai 2025; BRICS)

O episódio: Em maio de 2025 Lula teve diálogo com Putin em Moscou; desde então, a relação tem sido tratada entre diálogo econômico e tensão por causa da guerra na Ucrânia e do mandado do ICC.
Contexto: A presença ativa de Lula em fóruns dos BRICS e suas visitas à Rússia buscam manter canais com todos os polos, mesmo diante de restrições legais e políticas.
Por que marcou: sinaliza esforço brasileiro de independência estratégica; porém, a presença do mandado do ICC e a não-viagem de Putin a certas cúpulas complicam a logística diplomática.
Efeito concreto: canais de diálogo abertos, participação russa por videoconferência em alguns fóruns, debates sobre autonomia do Sul.

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Lula e Putin no jantar oferecido pelo presidente russo em maio de 2025. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Papa Francisco (Vaticano, 21 jun 2023)

O episódio: Audiência marcada por conversas sobre paz, pobreza, Amazônia e convite ao Pontífice para visitar a região. Fotografias mostraram abraço cordial.
Contexto: A interlocução com o Vaticano reforçou temas ambientais e de direitos humanos como eixos da imagem internacional do Brasil.
Por que marcou: ampliou legitimidade moral para políticas ambientais e sociais e colocou o Brasil no centro de uma conversa ética internacional.
Efeito concreto: maior visibilidade para a agenda da Amazônia na esfera religiosa internacional.

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Último encontro de Lula com o Papa Francisco em junho 2023. Foto: Ricardo Stuckert/PR

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