Lula 80 anos: o torcedor que virou presidente

TVT News relembra a paixão do líder político por futebol e outras modalidades esportivas
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Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Visita ao campo do estádio do Corinthians, Itaquera, São Paulo - SP. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Do sertão pernambucano ao Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva construiu sua história como quem disputa uma final de campeonato: com suor, estratégia e paixão. Mas antes de ser operário, sindicalista ou presidente, Lula foi, e continua sendo, torcedor. E o futebol, principalmente, para ele, não é apenas metáfora: é memória, linguagem e pertencimento. TVT News lembra a historia do Presidente Lula.

Nascido em Caetés, interior de Pernambuco, Lula chegou a São Paulo em um caminhão “pau de arara”, ainda menino. Morou na periferia, engraxou sapatos, estudou no SENAI e jogou bola nas horas vagas. Adolescente, chegou a vestir a camisa do São Caetano Futebol Clube e adorava as aulas de Educação Física. Já como metalúrgico, disputava peladas com os colegas na hora do almoço.

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Lula (agachado, circulado) participa do “time dos solteiros” em partida promovida pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em 1º de maio de 1969. Foto: Acervo SMABC

Lula faz 80 anos; no aniversário do presidente Lula, relembre a trajetória

Essa vivência moldou não apenas seu gosto pelo esporte, mas também sua forma de se comunicar. Em seus discursos, o futebol aparece como símbolo de superação, união e luta coletiva. Lula usa frequentemente expressões do mundo da bola para explicar derrotas eleitorais, estratégias políticas e conquistas sociais, transformando uma paixão em uma forma de se conectar com a população.

Como presidente, muitas vezes se apresenta mais como torcedor, do que como chefe de Estado.

“Antes de ser presidente da República, eu sou brasileiro. Antes de ser presidente da República, eu sou fanático por esporte e, dentro do esporte, o futebol.”

Lula, em discurso na cerimônia
de sanção da Lei da Timemania. Brasília-DF, 14/9/2006

Essa paixão também se refletiu em ações concretas. Durante seus primeiros mandatos, o futebol foi tratado como parte da cultura nacional e ferramenta de inclusão. Programas voltados ao esporte ganharam espaço, e o futebol passou a ocupar um lugar importante na narrativa pública do presidente, não só como diversão, mas como direito, identidade e cidadania.

A decisão de pleitear a sede da Copa do Mundo de 2014 foi um marco dessa estratégia.

Em discurso de 2006, Lula reconheceu que o Brasil não possuía, à época, nenhum estádio em condições de receber jogos da FIFA.

“Se nós estamos pleiteando a Copa do Mundo aqui, em 2014, significa que vamos ter que pensar, no mínimo, em construir 12 novos estádios neste país”, afirmou. Para ele, a responsabilidade não era apenas dos clubes ou da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mas do Estado brasileiro como um todo, incluindo o governo federal, os estados, os municípios e os bancos públicos.

A candidatura à Copa foi acompanhada por uma série de medidas voltadas à modernização do futebol nacional. Lula sancionou leis como a Timemania (2006), voltada ao financiamento das dívidas dos clubes, e a Lei de Modernização do Futebol (2003), que estabeleceu princípios de transparência, responsabilidade e profissionalização na gestão esportiva. Também foi criado o Estatuto de Defesa do Torcedor, com normas para segurança, organização e prestação de contas nos eventos esportivos.

O presidente vê no futebol não apenas um patrimônio cultural, mas uma ferramenta de inclusão social e geração de renda.

“Poucas coisas têm tanta importância para o nosso povo como o futebol”, disse ao lançar a Timemania.

Paixão pelo Corinthians

Por estar em solo paulista desde a infância, Luiz Inácio Lula da Silva logo se aproximou dos clubes locais. E foi no Corinthians, o autointitulado “Clube do Povo”, que encontrou identificação imediata. A história do Timão, marcada por raízes operárias, arquibancadas populares e resistência política, especialmente durante a Ditadura Militar com a Democracia Corinthiana — dialogava diretamente com a trajetória do operário que viria a se tornar presidente da República.

Ao longo dos anos, Lula não apenas se declarou torcedor apaixonado, como também incorporou o Corinthians à sua narrativa pública. Em discursos, usou o clube como metáfora para derrotas e vitórias políticas, e como símbolo de perseverança.

“Eu nem bem sabia o que era futebol, porque tinha
vindo de Pernambuco com 7 anos de idade, em
52; em 54 o Corinthians foi campeão e, por conta
de tudo o que aconteceu, eu morava em Itapema,
Vicente de Carvalho hoje, lá em Santos, e não virei
santista nem virei Jabaquara, virei corintiano, em 54. Bom, de lá para cá, o Corinthians faz parte
das minhas alegrias, dos meus sofrimentos. Você
não sabe Marcelinho, o quanto você me fez sofrer
quando você perdeu o pênalti contra o Palmeiras
na decisão da Libertadores. Eu estou com 60
anos, foi a única vez que eu pensei que ia ter um
enfarte, porque eu não acreditava que aquilo tinha
acontecido, mas aconteceu.”


Lula, em Discurso na inauguração do Memorial do Corinthians. São Paulo-SP, 27/1/2006.

Apesar de já ter declarado simpatia por outros clubes em diferentes contextos, como o Internacional e até o Vitória da Bahia, sua paixão pelo Corinthians é inquestionável, aos 80 anos, ele continua vivendo as alegrias e frustrações que só um torcedor do Timão conhece.

“Eu acho que se
nós tratarmos o futebol brasileiro como patrimônio
nacional, eu vou dar um exemplo aqui para o
presidente do Internacional, eu sou simpático, sou
torcedor do Internacional, no Rio Grande do Sul,
embora seja apaixonado pelo Grêmio, porque eu
vi o Grêmio fazer um jogo com o Cruzeiro em que
o Grêmio estava perdendo o jogo, eu estava com
o Tarso Genro, o que eu vi aquela torcida fazer e
o que eu vi aqueles jogadores fazerem dentro de
campo! Somente a autoestima é que leva um time
a fazer aquilo.”


Lula, em discurso na cerimônia de sanção da Lei da Timemania. Brasília-DF, 14/9/2006

Em 2009, já como presidente da República pela segunda vez, Lula recebeu em Brasília o elenco do Corinthians campeão da Copa do Brasil. Em um gesto carregado de emoção e simbolismo, abraçou Ronaldo Fenômeno, o craque do clube naquela época.

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O presidente Lula ao lado de Ronaldo com a taça da Copa do Brasil 2009 no Palácio da Alvorada. Foto: Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

Mesmo diante dos altos e baixos do Corinthians ao longo dos anos, o presidente nunca deixou de acompanhar o time de perto. Em suas falas, o Timão frequentemente aparecia como exemplo, seja para ilustrar derrotas difíceis nas eleições, ou para celebrar viradas históricas.

“Eu torço para um time no Brasil, chamado
Corinthians, que ficou 23 anos sem ser campeão,
eu sofri muito. Eu perdi, Zuma, três eleições, eu
perdi três eleições. Cada uma que eu perdia, eu
chegava em casa, minha mulher falava: “Ô Lula,
você não acha que está na hora de parar, meu
filho, não acha?”. E eu notava que os meus amigos
também gostariam que eu parasse, viu, Zuma?
Eu ficava achando que os meus companheiros
também queriam que eu parasse. Mas eu perdia
as eleições no mês de outubro, ficava lambendo
as feridas entre novembro e dezembro, e quando
chegava janeiro, eu tinha que começar a viajar o
Brasil outra vez para levantar a moral da tropa,
porque se a gente não levantar a moral o pessoal
desanima”.


Lula, durante discurso no encerramento do Fórum Empresarial Brasil-África do Sul. Johannesburgo-África
do Sul, 9/7/2010.

O chefe do Executivo também não poupa comentários sobre o desempenho dos jogadores. Quando o time vai bem, elogia com entusiasmo; quando decepciona, cobrava como qualquer torcedor apaixonado.

Lula 80 anos: o mestre das cavadinhas

Essa relação com o futebol não ficou restrita às arquibancadas. Em 2019, Lula participou de um jogo simbólico na Escola Nacional Florestan Fernandes, em Guararema (SP), ao lado de Chico Buarque e lideranças do MST. A partida, realizada no campo batizado de “Dr. Sócrates Brasileiro”, homenageou o ídolo corintiano que liderou a Democracia Corinthiana nos anos 1980. O jogo entre “Amigos do Lula e Chico” e “Veteranos do MST” foi mais que uma celebração: foi um manifesto em chuteiras.

O placar final foi 2×1 para o time de Lula e Chico. Logo no início do jogo, Lula abriu o placar com um gol de pênalti e quem fez o gol da vitória foi Chico Buarque.

Em 2025, ao comentar sua trajetória política e pessoal, Lula brincou: “Já dei muita cavadinha na vida”, como uma referência bem-humorada à jogada clássica do futebol e à sua habilidade de virar o jogo mesmo nos momentos mais difíceis.

Investimentos no esporte brasileiro

Desde o início das gestões do presidente Lula, o esporte brasileiro passou por uma revolução estrutural e social, impulsionada por políticas públicas como a Lei das Loterias, o Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte. Esses programas formaram um tripé de financiamento que garantiu mais de R$ 28 bilhões em investimentos, beneficiando milhares de atletas e projetos em todo o país.

Em maio de 2025, o governo anunciou o maior investimento da história no esporte paralímpico, reforçando o compromisso com inclusão, excelência e oportunidade, e o impacto já é expressivo: o Brasil saiu da 24ª posição em Sydney 2000 para figurar entre as dez maiores potências mundiais. Neste ano, o país fez história ao terminar o Mundial de Atletismo Paralímpico na liderança do quadro de medalhas, com 44 pódios (15 ouros, 20 pratas e 9 bronzes), superando a China pela primeira vez em 12 anos.

Além dos resultados, o governo lançou novas iniciativas estruturantes. Em agosto, Lula anunciou a criação da Universidade dos Esportes, ampliando a proposta inicial de uma faculdade de futebol para abranger todas as modalidades. A instituição visa formar profissionais e apoiar atletas em diversas áreas, como surfe, skate e ginástica.

Ainda em 2025, o Brasil lançou o portal oficial da Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2027, que será sediada no país. A página reúne informações sobre os preparativos, ações interministeriais e políticas públicas voltadas à inclusão e ao fortalecimento do futebol feminino.

Em setembro, Lula enviou ao Congresso o Projeto de Lei do Futebol Feminino, que garante igualdade de direitos e benefícios entre atletas mulheres e homens, combate o machismo e incentiva parcerias entre escolas, universidades e clubes para formação de talentos. A proposta também assegura direitos básicos às jogadoras, como proteção durante e após a gravidez, e limita o número de atletas amadoras por equipe, promovendo maior profissionalização.

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O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, recebe atletas da Seleção Brasileira de Futebol Feminino, no Palácio do Planalto. A equipe foi campeã da Copa América Feminina 2025. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Esse ciclo virtuoso de investimentos, conquistas e inclusão revela que, para Lula, o esporte não é apenas política pública — é projeto de país. Aos 80 anos, ele continua a usar o futebol como metáfora da vida coletiva: um campo onde ninguém joga sozinho, onde cada passe é construção e cada gol é conquista compartilhada.

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