Lula faz 80 anos: as políticas públicas que transformaram a vida dos brasileiros

Em comemoração aos 80 do metalúrgico mais querido do Brasil, relembre como seus mandatos mudaram (e mudam!) o futuro de uma geração 
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Lula vai ao povo em cerimônia de entregas no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Ao completar 80 anos neste 27 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chega a uma marca que transcende sua trajetória política: a de ter conduzido, ao longo de seus governos, uma das mais profundas transformações sociais e econômicas da história recente do Brasil.

De operário metalúrgico a líder de um projeto de desenvolvimento voltado para a inclusão, Lula consolidou uma agenda que colocou milhões de brasileiros no mapa da cidadania e do consumo, redefinindo o papel do Estado como agente de combate à desigualdade. Relembre as políticas criadas e instituídas durante os três mandatos de Lula com a TVT News.

Da estabilidade à inclusão: o início de um novo Brasil

Quando assumiu a presidência em 2003, Lula enfrentava um país desconfiado. O mercado temia rupturas e a sociedade, cansada de promessas frustradas, esperava resultados concretos. Sua resposta veio com uma combinação inédita: responsabilidade fiscal aliada a políticas sociais de larga escala. 

Durante os dois primeiros mandatos (2003–2010), o governo quitou antecipadamente a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), acumulou reservas cambiais e garantiu estabilidade macroeconômica. A solidez das contas públicas abriu espaço para o que viria a ser a marca central de sua gestão: a inclusão social.

Lula faz 80 anos; no aniversário do presidente Lula, relembre a trajetória

Bolsa Família: o programa que mudou um país

Criado em 2003, o Bolsa Família nasceu da unificação de programas anteriores, como o Bolsa Escola, o Bolsa Alimentação, o Auxílio Gás e o Cartão Alimentação, que operavam de forma fragmentada e sob diferentes ministérios. Com o Bolsa Família, essas ações foram integradas em um único sistema de transferência de renda, administrado por meio do Cadastro Único, o que permitiu maior eficiência, transparência e foco nos grupos de menor renda.

A estrutura do programa é simples e necessária: trata-se de uma transferência de renda condicionada, voltada para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. Para receber o benefício, as famílias precisam manter as crianças na escola e cumprir compromissos básicos de saúde, como a vacinação infantil e o acompanhamento pré-natal das gestantes. Essas condicionalidades transformaram o Bolsa Família não apenas em um programa de combate à fome, mas em uma política de promoção da cidadania e de quebra do ciclo intergeracional da pobreza.

Ao longo de sua trajetória, o número de beneficiários cresceu rapidamente: de cerca de 6 milhões de famílias em 2004 para mais de 14 milhões em 2014, alcançando mais de um quinto da população brasileira. Em 2012, foi criado o Benefício de Superação da Extrema Pobreza (BSP), que complementava a renda das famílias para garantir que ultrapassassem a linha da extrema pobreza.

Após ser substituído pelo Auxílio Brasil em 2021, o programa foi retomado em 2023 com uma nova configuração. O Novo Bolsa Família estabeleceu um benefício base de R$ 600 por família, acrescido de valores adicionais de R$ 150 para crianças de até 6 anos e R$ 50 para gestantes, crianças e adolescentes de 7 a 18 anos. Essa reformulação reforçou o caráter inclusivo do programa e ampliou seu alcance, especialmente entre mulheres negras e famílias chefiadas por mães solo, grupos que historicamente concentram os maiores índices de vulnerabilidade social.

O Bolsa Família é amplamente reconhecido por sua eficiência na focalização: cerca de 70% dos recursos chegam aos 20% mais pobres da população, aponta estudos do Ipea. Essa precisão faz do programa uma das transferências de renda mais progressivas do mundo.

Em termos de resultados, os impactos são expressivos. O programa reduziu a pobreza extrema em aproximadamente 25% e contribuiu para quase 10% da queda da desigualdade de renda no país entre 2001 e 2015. Durante o período de maior expansão (2001–2006), o Bolsa Família respondeu por até 17% da redução do índice de Gini, que mede a desigualdade.

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Lula com estudantes na inauguração da nova sede da Universidade Federal Fluminense (UFF Campos). Foto: Ricardo Stuckert/PR

Educação: porta de entrada para a mobilidade social

Nenhuma política simboliza melhor o ideal de ascensão social dos governos Lula do que as iniciativas na educação. Programas como Prouni, Sisu, Fies e a Lei de Cotas abriram as portas do ensino superior para jovens de baixa renda, negros, pardos e indígenas. O número de estudantes de primeira geração nas universidades públicas cresceu exponencialmente, alterando o perfil das salas de aula no país. 

Mais recentemente, Lula ampliou o alcance dessas políticas com o Pé-de-Meia, que oferece uma poupança para estudantes do ensino médio, e o Mais Professores, que valoriza a formação docente com bolsas mensais e cria uma prova nacional de ingresso na carreira.

Programa Universidade para Todos (Prouni)

Criado em 2004, o Prouni permite que estudantes de baixa renda ingressem em universidades privadas por meio de bolsas integrais ou parciais, concedidas em troca de isenções fiscais às instituições participantes. A seleção é feita com base na nota do Enem e inclui critérios de ação afirmativa para negros, indígenas e pessoas com deficiência, tornando-se um dos mais importantes mecanismos de inclusão universitária do país.

Sistema de Seleção Unificada (Sisu)

O Sisu, lançado em 2010, reorganizou o processo de ingresso nas universidades públicas federais, utilizando as notas do Enem como critério único de seleção. O modelo centralizado garantiu maior transparência, eliminou sobreposições de vestibulares e democratizou o acesso às instituições federais, ao mesmo tempo em que fortaleceu a função do Enem como instrumento nacional de avaliação.

Fundo de Financiamento Estudantil (Fies)

Já o Fies, embora criado antes do governo Lula, foi ampliado e reformulado para oferecer crédito estudantil a alunos de instituições privadas com condições mais acessíveis de pagamento. Apesar dos avanços, o programa enfrentou desafios de inadimplência, o que levou a novas reestruturações com o objetivo de equilibrar sustentabilidade fiscal e inclusão.

Pé-de-Meia

O Pé-de-Meia, lançado em 2024, é um programa de incentivo financeiro que funciona como uma poupança educacional. No ensino médio, oferece até R$ 9.200 aos estudantes que frequentam regularmente as aulas e participam de avaliações como o Enem, buscando reduzir a evasão e incentivar a continuidade dos estudos. Sua versão voltada às licenciaturas oferece bolsa mensal de R$ 1.050 a estudantes com bom desempenho no Enem, dos quais R$ 350 ficam retidos e são liberados apenas se o graduado ingressar na rede pública de ensino após a formatura, em uma estratégia que liga incentivo financeiro à valorização da carreira docente.

Programa Mais Professores para o Brasil

Complementando essa agenda, o Mais Professores, criado em 2025, busca atrair e qualificar profissionais para a educação básica. Entre suas iniciativas, destaca-se a Prova Nacional Docente (PND), uma espécie de “Enem dos Professores”, que pode ser usada por estados e municípios como critério de seleção. O programa também oferece a Bolsa Mais Professores, de R$ 2.100 mensais, para docentes que atuam em regiões com escassez de profissionais, condicionada à realização de uma pós-graduação voltada à educação básica. Além disso, o Portal de Formação centraliza cursos, especializações e materiais pedagógicos para o aperfeiçoamento contínuo dos educadores.

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Lula com moradores que receberam unidades do Minha Casa, Minha Vida no Rio Grande do Sul. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Luz, moradia e dignidade: o Estado chega onde o mercado não

Lula também levou o Estado a regiões historicamente negligenciadas. Programas como Luz para Todos levaram energia elétrica a 16 milhões de brasileiros em áreas rurais, enquanto o Minha Casa, Minha Vida garantiu moradia para milhões de famílias de baixa renda. Já o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) buscou impulsionar obras de infraestrutura e gerar empregos, com ênfase em habitação, saneamento e transporte. 

Na saúde, o Mais Médicos e o Farmácia Popular foram decisivos para ampliar o acesso da população a serviços básicos e medicamentos. O relançamento de ambos em 2023 reforçou o compromisso com a universalização do atendimento, integrando assistência médica e distribuição gratuita de remédios para beneficiários do Bolsa Família.

Programa Luz para Todos

O Programa Luz para Todos (LPT), lançado em 2003, tinha o objetivo de universalizar o acesso à energia elétrica em áreas rurais e isoladas do país. Antes de sua criação, famílias do campo arcavam com até 85% dos custos da eletrificação, o que gerava endividamento e perpetuava a exclusão energética. Com o LPT, o Estado assumiu o investimento, garantindo um direito básico e ampliando as oportunidades de desenvolvimento econômico e social nessas regiões. Em 21 anos de existência, o programa levou energia a 17,5 milhões de brasileiros, dos quais cerca de 16 milhões saíram literalmente da escuridão. 

Minha Casa, Minha Vida

Criado em 2009, o Minha Casa, Minha Vida (MCMV) é a principal política habitacional de interesse social do país. Mais do que reduzir o déficit de moradias, o programa funciona como uma engrenagem de desenvolvimento, articulando investimento público, geração de emprego e dinamização da construção civil. Desde sua criação, o MCMV já entregou 8,4 milhões de residências em todo o território nacional, tornando-se uma das maiores iniciativas habitacionais do mundo. Em sua nova fase, relançada em 2023, o programa prioriza a retomada e conclusão de obras paralisadas, com uma meta de 2,17 milhões de unidades, sendo 1,26 milhão contratadas até o final de 2024.

Programa Mais Médicos

Instituído em 2013, o Mais Médicos foi concebido para enfrentar a carência de profissionais em áreas remotas e vulneráveis. Em seu auge, em 2014, mobilizou 18.240 médicos em mais de quatro mil municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, atendendo cerca de 48 milhões de pessoas. Após um período de enfraquecimento entre 2016 e 2022, o programa foi revitalizado a partir de 2023, ampliando sua meta para 28 mil vagas em 4.547 municípios. A nova fase reforça a atenção à saúde indígena, prisional e às regiões de difícil provimento, alcançando potencialmente 73 milhões de brasileiros. O programa também passou a contar com o Mais Médicos Especialistas, que integra formação e prática, estimulando a fixação de profissionais nas áreas mais carentes.

Farmácia Popular

Complementando o cuidado em saúde, o Farmácia Popular foi criado em 2004 com a missão de garantir acesso a medicamentos essenciais a baixo custo. Apesar de sofrer descontinuidades e cortes em gestões posteriores, o programa foi reestruturado em 2023 pelo Decreto nº 11.555, que restabeleceu sua força social. A nova fase introduziu a gratuidade total dos medicamentos para beneficiários do Bolsa Família, reforçando o princípio de que o acesso à saúde deve ser universal e gratuito.

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Lula em discurso com o público na Estação Ferroviária do Forró, em Salgueiro, no Pernambuco. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Lula 3: reconstrução e novos desafios

O retorno de Lula ao poder em 2023 marcou o início de uma fase de reconstrução nacional. O cenário político, no entanto, é mais desafiador do que vinte anos atrás: um Congresso de maioria conservadora, um orçamento mais engessado e uma economia global em transformação. Apesar das complexidades, o governo lançou programas estruturais de grande alcance, como o Desenrola Brasil, que renegociou R$ 53 bilhões em dívidas de famílias endividadas, e a Nova Indústria Brasil, voltada à reindustrialização sustentável e à transição verde. 

A Reforma Tributária, aprovada com apoio do governo, vai simplificar e unificar a tributação sobre bens e serviços, modernizando o sistema, além de devolver parte dos impostos pagos por famílias de baixa renda.

O legado de Lula: inclusão como política de Estado

Ao longo de duas décadas, Lula deixou uma marca duradoura: mostrou que crescimento econômico e justiça social não são objetivos opostos. Sob seus governos, o Brasil viu a maior redução da desigualdade de sua história, consolidando políticas públicas que sobreviveram a diferentes conjunturas e governos. 

Agora, aos 80 anos, o desafio que se impõe é transformar esse legado em um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, que seja capaz de combinar inclusão, produtividade e inovação. Lula chega a essa idade não apenas como personagem histórico, mas como símbolo de um país que volta a ter esperança. 

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