A direita conservadora venceu as eleições na Alemanha. Após a votação de domingo (23), o partido União Democrata Cristã (CDU). liderado por Friedrich Merz, obteve 28,6% dos votos. Veja mais sobre a eleição na Alemanha com a TVT News.
Lula destaca relação entre Brasil e Alemanha
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimentou, nesta segunda-feira (24), o partido conservador União Democrata Cristã (CDU), da Alemanha, e seu líder, Friedrich Merz, que venceram as eleições nacionais, nesse domingo (23). Com isso, Merz está no caminho para ser o próximo chanceler do país.
“Sua eleição ocorre em momento de grande sensibilidade geopolítica e geoeconômica global, mas também em momento de grandes esperanças e oportunidades de ganhos conjuntos”, afirmou o presidente, em nota.
Lula ressaltou, ainda, o forte histórico de atuação conjunta entre Brasil e Alemanha em diversos temas da agenda global. Para o presidente brasileiro, a implementação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) no Brasil também serão “caminhos facilitadores desse processo”.
“A Alemanha é um país amigo e parceiro crucial do Brasil na defesa da democracia e do multilateralismo, na promoção do desenvolvimento sustentável e proteção dos direitos humanos”, diz a nota.
“Nossos países têm forte histórico de atuação conjunta por reformas na governança global. Estou convencido de que seguiremos trabalhando juntos para ampliar as convergências e complementaridades em prol de uma inserção internacional cada vez mais competitiva de ambos”, completou o presidente.
Recessão e crescimento da extrema direita
A votação ocorreu em meio ao avanço da extrema direita e recessão de dois anos consecutivos no país.
Após uma campanha marcada por uma série de ataques violentos e intervenções do governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o bloco conservador da CDU obteve 28,5% dos votos, seguido pelo Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita, com 20%, segundo pesquisa de boca de urna publicada pela emissora pública ZDF.
Merz tem 69 anos e não possui experiência anterior no Poder Executivo. Liberal econômico, ele prometeu exercer maior liderança do que o atual chanceler Olaf Scholz e estabelecer maior contato com os principais aliados, ampliando o protagonismo da Alemanha na Europa.
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A legenda de direita radical Alternativa para Alemanha (AfD) ficou em segundo lugar, com a votação recorde de 20,8%. A líder da AfD, Alice Weidel afirmou que foi um “resultado histórico”. O partido de Olaf Scholz, da coalizão de centro-esquerda do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD). terminou em terceiro lugar, segundo a contagem final, e os Verdes ficaram em quarto.
Alemanha foi às urnas em meio à recessão e avanço da extrema direita
Os alemães foram às urnas neste domingo (23) para eleger o novo Parlamento, de onde sairá o novo chanceler que vai governar a maior economia da Europa. A votação ocorreu em meio ao avanço da extrema-direita e recessão de dois anos consecutivos. Após cair 0,3% em 2023, o Produto Interno Bruto (PIB) alemão retraiu 0,2% no ano passado.
Entre os temas que dominaram o debate eleitoral, estavam a guerra da Ucrânia, o aumento do preço da energia, com o corte do fornecimento do gás barato russo, a imigração e o futuro da segurança da Alemanha após os Estados Unidos (EUA) anunciarem que a Europa deve se proteger com seus próprios recursos.
Crescimento da extrema direita na Alemanha
Com um perfil incomum para uma liderança da ultradireita, Weidel é casada com outra mulher, uma imigrante de Sri Lanka, com quem tem dois filhos. Além disso, é especialista em economia chinesa, tendo trabalhado seis anos na China. Ela promete ser dura contra a imigração, quer o fim da guerra na Ucrânia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
A doutora em Relações Internacionais e professora da FIA Business School, Carolina Pavese, destacou que o AfD, criado em 2013, tem capilaridade em todo o país e é forte nos distritos locais.
“Eles vêm com uma agenda extremamente nacionalista, abertamente anti-migração e contrário ao atual formato da EU. Tem muitos membros do partido que são neonazistas e que flertam com o nazismo”, informou a especialista em Europa.
O político e ativista ítalo-brasileiro José Luís Del Roio, ex-senador da Itália em 2006 e especialista em Europa, explicou que o crescimento da AfD tem relação com a crise econômica alemã e com o medo do trabalhador de perder empregos para imigrantes.
“Quem vota na extrema direita são os trabalhadores alemães menos qualificados, aterrorizados com a imigração. A relação com os imigrantes funcionava bem enquanto a economia estava indo bem. Mas a economia alemã desmoronou. Nos últimos quatro anos, a produção industrial alemã caiu de 9%. Isso é um desastre”, destacou Del Roio.
Atualmente, cerca de 18% da população que vive na Alemanha nasceu fora do país. Se considerar os filhos dos imigrantes, essa porcentagem chega a 24% dos cerca de 84 milhões de habitantes, segundo dados oficiais.
O teto de gasto alemão, que impede o governo de investir para recuperação econômica, é outro fator destacado per José Luís Del Roio para explicar a crise atual.
“Eles não gastam porque tem contenção de despesas no orçamento. É uma loucura porque eles têm dinheiro. E aí vamos para essa eleição nessa situação. Evidentemente, a Alternativa para Alemanha (AfD) é contra esse arcabouço fiscal”, comentou.
Guerra Ucrânia
O apoio dado à Guerra na Ucrânia tem reduzido a influência dos partidos tradicionais, alimentando o crescimento de legendas que defendem o fim da ajuda à Kiev, como fazem tanto a extrema direita, quando a BSW, de esquerda.
“Antes, você tinha o gás que chegava da Rússia, muito barato, fundamental para competitividade da economia alemã. Agora o gás tem que vir dos EUA. O gás chegou a custar 12 vezes mais do que custava o gás russo. Hoje se estabilizou, mas custa quatro vezes mais que o russo”, destacou José Luís Del Roio.
A professora Carolina Pavese, que atua também no Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), destacou a queda dos investimentos, o fechamento de fábricas e as demissões em massa.
“Isso pode puxar toda a UE para baixo. Boa parte da crise econômica tem sido impulsionada pelos altos gastos com energia que se acentuaram a partir da guerra da Ucrânia. Há uma relação clara entre a guerra e a crise econômica, com perda de competitividade industrial da Alemanha”, analisou a doutora pela London School of Economics.
Del Roio diz que, nesse cenário, a extrema-direita saiu na frente ao defender o fim da ajuda da Alemanha para a guerra e o retorno das relações com a Rússia, culpando a política de guerras pela onda de imigração.
“O partido AfD destaca que a culpa é das guerras de destruição da Síria, do Iraque, da Líbia, da Iugoslávia, que fizeram chegar todos esses imigrantes na Alemanha”, destacou, acrescentando que, nesse ponto, a legenda teria razão.
Leia a íntegra da nota de Lula sobre a eleição na Alemanha
Quero cumprimentar Friedrich Merz e seu partido pela vitória no pleito eleitoral de ontem. Sua eleição ocorre em momento de grande sensibilidade geopolítica e geoeconômica global, mas também em momento de grandes esperanças e oportunidades de ganhos conjuntos.
A Alemanha é um país amigo e parceiro crucial do Brasil na defesa da democracia e do multilateralismo, na promoção do desenvolvimento sustentável e proteção dos direitos humanos.
Nossos países têm forte histórico de atuação conjunta por reformas na governança global. Estou convencido de que seguiremos trabalhando juntos para ampliar as convergências e complementaridades em prol de uma inserção internacional cada vez mais competitiva de ambos.
A implementação do Acordo entre o Mercosul e a União Europeia e a realização da COP 30 no Brasil são caminhos facilitadores desse processo.
Luiz Inácio Lula da Silva,
presidente da República
Com informações da Agência Brasil