Em entrevista coletiva concedida hoje (18) no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil reúne hoje condições econômicas e sociais para acabar com a escala de trabalho 6×1, modelo em que o trabalhador atua seis dias por semana e descansa apenas um. O presidente vinculou qualquer iniciativa legislativa do Executivo à apresentação formal de uma proposta construída pelo movimento sindical e por instâncias de participação social. Entenda na TVT News.
Questionado se a mudança pode avançar no Congresso já no próximo ano, Lula resgatou sua trajetória como dirigente sindical e disse que a defesa da redução da jornada de trabalho acompanha sua atuação política desde os anos 1980. Para ele, não há mais argumentos que sustentem a manutenção do modelo atual.
“Eu acho que o país está pronto e a economia está pronta para o fim da escala 6 por 1. Não existe um único argumento que possa dizer que a sociedade brasileira não está pronta”, afirmou o presidente.
Lula destacou que o debate sobre redução da jornada não é novo e lembrou que, há mais de quatro décadas, os sindicatos já defendiam a adoção da jornada semanal de 40 horas. Segundo ele, os avanços tecnológicos acumulados desde então tornaram essa transição ainda mais viável, inclusive do ponto de vista da produtividade.
Para ilustrar o argumento, o presidente citou sua experiência à frente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e comparou diferentes momentos da indústria automobilística. Segundo Lula, quando presidia o sindicato em São Bernardo do Campo, a Volkswagen mantinha cerca de 44 mil trabalhadores e produzia aproximadamente 100 mil carros por ano. Hoje, afirmou, a montadora emprega cerca de 12 mil pessoas e produz o dobro.
“Então por que não reduzir a jornada de trabalho para o trabalhador ficar mais tempo em casa, cuidar melhor da família, estudar um pouco mais?”, questionou.
Mobilização pelo fim da escala 6 x 1
Apesar de defender abertamente o fim da escala 6×1, Lula deixou claro que não pretende encaminhar, por iniciativa própria, um projeto de lei ao Congresso Nacional. De acordo com o presidente, a proposta precisa nascer da mobilização social e do diálogo entre trabalhadores, sindicatos e instâncias de representação.
“Eu não quero tomar iniciativa do Poder Executivo e mandar um projeto de lei do governo. Eu preciso ser provocado”, disse. Segundo ele, a orientação dada às lideranças sindicais é que apresentem uma proposta construída “na porta da fábrica” e também no âmbito do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o chamado “Conselhão”.
Lula aguarda proposta
Lula afirmou que, a partir do momento em que houver uma proposta formalizada nesses espaços, o governo se compromete a encaminhá-la ao Congresso. Na avaliação do presidente, tanto o comércio quanto a indústria já estariam preparados para uma mudança no regime de trabalho, justamente em razão dos ganhos de produtividade proporcionados pela tecnologia.
“O comércio está preparado, a indústria está preparada e os avanços tecnológicos permitem que a gente faça a redução da jornada de trabalho”, afirmou.
O tema da escala 6×1 vem ganhando espaço no debate público, impulsionado por reivindicações sindicais, discussões sobre saúde mental, qualidade de vida e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. No Congresso, parlamentares de diferentes espectros já apresentaram propostas relacionadas à redução da jornada, mas o tema enfrenta resistência de setores empresariais e depende de amplo consenso político para avançar.
Ao se posicionar de forma favorável ao fim da escala 6×1, Lula sinaliza que o governo vê espaço para a mudança, mas transfere à sociedade organizada o papel de liderar o processo. A estratégia indica que, mais do que uma promessa de campanha, o debate sobre a jornada de trabalho deve depender, nos próximos meses, da capacidade de articulação dos trabalhadores e de pressão sobre o Legislativo.
