O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condecorado hoje (9) pela Interpol com uma medalha de excelência pelo compromisso do Brasil no combate ao crime transnacional. O reconhecimento simbólico, entregue na sede da organização em Lyon, na França, destaca o retorno do país ao protagonismo internacional na segurança pública e na articulação de esforços multilaterais contra o crime organizado. Entenda na TVT News.
Em discurso, Lula apontou os desafios impostos por redes criminosas cada vez mais sofisticadas, impulsionadas pela tecnologia digital e pela interconexão global. “A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes. Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais. Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional”, afirmou o presidente.
Homenagem a Lula
Durante a cerimônia, Lula recebeu de Ahmed Naser Al-Raisi, presidente do Comitê Executivo da Interpol, uma medalha da instituição por sua excelência e empenho no combate ao crime transnacional. “Sua liderança no Brasil, ao longo de três décadas e vários mandatos, sempre demonstrou de maneira consistente a determinação em contribuir à segurança global, à justiça e à cooperação internacional”, frisou Al-Raisi.
Em contrapartida, Lula condecorou Valdecy Urquiza com a Ordem de Rio Branco, no grau de grande oficial. A láurea foi instituída em 1963, com o objetivo de, ao distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção.

Lula na Interpol: cooperação
Durante a cerimônia, Brasil e Interpol assinaram uma Declaração de Intenções que prevê o fortalecimento da cooperação internacional para:
- Reforçar o combate ao crime organizado transnacional;
- Desarticular redes criminosas e seus mecanismos de apoio;
- Apoiar a modernização tecnológica e institucional da segurança pública no Brasil e na América Latina;
- Promover a proteção de grupos vulneráveis e os direitos humanos na atuação policial.
A iniciativa também tem como pano de fundo o fortalecimento do papel do Brasil em ações multilaterais, reconhecendo que desafios globais exigem respostas coordenadas. “Assim como a mudança do clima e a governança do espaço digital, a segurança pública deve ser prioridade coletiva”, declarou Lula.
Cibercrime, lavagem de dinheiro e proteção de crianças
Lula destacou o papel da Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos, criada durante seu mandato, que já vem atuando em frentes prioritárias como fraudes bancárias eletrônicas e crimes de abuso sexual infantil online. Segundo ele, o enfrentamento eficaz ao crime também passa pelo estrangulamento de suas fontes de financiamento: “É preciso asfixiar seus mecanismos econômicos, especialmente a lavagem de dinheiro.”
“Empresas do crime”
O presidente alertou ainda para a crescente sofisticação e capilaridade das organizações criminosas. “O crime organizado não é mais apenas uma quadrilha. São verdadeiras empresas multinacionais. Estão infiltradas na política, no Judiciário, no futebol, em setores da cultura e da economia. Combatê-las exige inteligência, integração e cooperação internacional.”
Segurança e meio ambiente
Em seu discurso, Lula também relacionou segurança pública à agenda ambiental. Ele reafirmou o compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 e destacou as ações da Polícia Federal em defesa da Amazônia. “No ano passado, apreendemos mais de 250 milhões de dólares em bens de acusados por crimes ambientais. Proteger a natureza também é fortalecer a segurança”, afirmou.
Brasil no comando da Interpol
O evento teve ainda um caráter simbólico especial: pela primeira vez, a Interpol é presidida por um brasileiro. O delegado federal Valdecy Urquiza, atual comandante da organização, representa um marco na história da instituição e sinaliza o reconhecimento do protagonismo crescente dos países do Sul Global em temas de segurança internacional.
Ao celebrar a liderança brasileira na Interpol, Lula declarou: “É uma honra ver um brasileiro dirigindo uma das mais antigas e importantes organizações policiais do mundo. Isso mostra que o Brasil voltou a ter voz e respeito no cenário global.”
Com a assinatura da nova parceria e o prestígio internacional renovado, o governo brasileiro sinaliza que pretende seguir atuando com rigor, estratégia e cooperação para enfrentar um dos maiores desafios do século XXI: o crime organizado sem fronteiras.
Confira a íntegra do discurso de Lula
Vocês estão percebendo que a minha voz está muito rouca. Eu quero dizer ao companheiro Urquiza [Valdecy Urquiza, secretário-geral da INTERPOL] que eu ia voltar para o Brasil ontem à noite. Mas eu fui provocado pelo Andrei [Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal] e pela minha delegação, porque não é comum um presidente da República visitar a INTERPOL. Então, eu deveria fazer todo o sacrifício para estar aqui. Então eu estou aqui Valdecy.
Estou aqui porque é honroso para o Brasil, é honroso para mim, é honroso para a nossa Polícia Federal, que é um modelo de polícia que serve para muitos países no mundo, e é honroso ter um delegado brasileiro dirigindo, possivelmente, a mais antiga organização policial do mundo.
Portanto, todos nós merecemos apoio, mas você deve se sentir muito orgulhoso, porque a tua indicação é pela tua carreira, pelo teu trabalho e pelo que você conseguiu mostrar às pessoas que iam votar em você, que tipo de delegado que você é.
Parabéns, querido. Faça disso uma profissão de fé. Faça com que a INTERPOL saia mais forte quando você sair do que você a encontrou.
Que Deus te acompanhe nessa empreitada que é muito importante para você e para o Brasil.
É uma honra visitar a mais antiga organização policial do mundo, que reúne mais países-membros do que a própria Organização das Nações Unidas.
Esta é a primeira vez que um presidente brasileiro visita a sede da INTERPOL.
É motivo de grande orgulho ser recebido por outro brasileiro que chegou ao cargo mais alto da organização.
A eleição de Valdecy Urquiza como secretário-geral da INTERPOL é o reconhecimento do papel de destaque do Brasil no combate ao crime transnacional.
Esta organização atua na busca e apreensão de alguns dos criminosos mais perigosos do planeta, combate o terrorismo, resgata vítimas de tráfico e de exploração sexual, e protege o meio ambiente.
Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais.
A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas.
Cada vez mais impulsionado pela tecnologia digital e pela conectividade, o crime organizado tornou-se uma questão global.
A Declaração de Intenções que firmamos hoje ampliará nossa cooperação por meio de iniciativas que visam:
i) Reforçar a cooperação internacional para enfrentamento do crime organizado
ii) Desarticular organizações criminosas transnacionais e suas redes de apoio
iii) Apoiar a modernização tecnológica e institucional dos órgãos de segurança publica no Brasil e na América Latina
iv) Promover a proteção de grupos vulneráveis e os direitos humanos na atuação policialVárias outras medidas que tomamos recentemente vão na mesma direção para tornar o Brasil e o mundo mais seguros.
Ampliamos nossa rede de adidâncias da Polícia Federal para 34 postos nos cinco continentes.
Agora estamos presentes em todos os países da América do Sul.
A criação do Centro de Cooperação Internacional da Amazônia reúne as autoridades de segurança pública dos nove países com os quais compartilhamos esse bioma.
Na Tríplice Fronteira com a Argentina e o Paraguai, estabelecemos plataforma permanente de cooperação para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, de armas e de pessoas.
Fortalecer a segurança pública também significa proteger a natureza.
Meu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 passa por atuar na repressão a todo tipo de ilícito ambiental.
No ano passado, a polícia brasileira apreendeu mais de 250 milhões de dólares em bens de acusados de praticar crimes contra o meio ambiente.
Inutilizamos 60 milhões de dólares em maquinário de garimpos ilegais, como dragas, tratores, retroescavadeiras e aeronaves.
Com o Programa Ouro Alvo, os governos do Brasil e França estão harmonizando os esforços transfronteiriços contra a extração ilegal e as rotas de comércio ilícito de ouro e mercúrio.
Essas operações têm sido fundamentais para a desintrusão de terras indígenas e para reduzir o desmatamento.
A Diretoria de Combate a Crimes Cibernéticos, criada neste meu governo, vem tratando com prioridade os delitos de alta tecnologia, fraudes bancárias eletrônicas e, principalmente, de abuso sexual contra crianças e adolescentes pela internet.
Para combater o crime de forma efetiva é preciso asfixiar seus mecanismos de financiamento, em especial a lavagem de dinheiro.
Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional.
Assim como outros desafios da atualidade que exigem ação coletiva, como a mudança do clima e a governança do espaço digital, a cooperação policial permanecerá como prioridade da política externa brasileira.
Meu caro Valdecy, um último recado para você: o papel da polícia no mundo inteiro hoje talvez seja mais complicado do que em qualquer outro momento da história da existência de polícias.
O crime organizado você não enfrenta uma simples quadrilha. Você não enfrenta uns simples grupos. São verdadeiras empresas multinacionais que estão envolvidas dentro das empresas, estão envolvidas na política, estão envolvidas no judiciário, estão envolvidas no futebol, estão envolvidas em toda parte da cultura.
É como se fosse um polvo de muitos tentáculos tentando tomar conta de tudo o que é errado no mundo. Por isso eu estou muito, muito feliz com a tua eleição para secretário-geral da INTERPOL.
Quando o nosso querido companheiro Ahmed [Ahmed Naser Al-Raisi, presidente do Comitê Executivo da INTERPOL] foi ao Brasil conversar comigo, eu fiquei otimista, mas eu achava que era difícil um brasileiro chegar a ser o secretário-geral da INTERPOL. E a tua eleição me confirmou uma coisa em que eu acredito: não existe nada impossível quando a gente trabalha, quando a gente acredita e quando a gente quer.
Por isso, parabéns de coração à INTERPOL por ter escolhido o companheiro Valdecy como secretário-geral.
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