Lula recebe o 38° título de doutor honoris causa, diploma de todos os brasileiros

Leia o discurso do presidente Lula ao receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia
Título de Doutor Honoris Causa reforça trajetória do líder brasileiro na promoção da inclusão social, da educação e da cooperação entre países do Sul Global.
Título de Doutor Honoris Causa reforça trajetória do líder brasileiro na promoção da inclusão social, da educação e da cooperação entre países do Sul Global. Fotos: Ricardo Stuckert /PR

“Esse diploma não é do Lula. É de 215 milhões de brasileiros”, diz presidente ao receber homenagem o título de doutor honoris causa na Universidade Nacional da Malásia. Leia em TVT News.

Diploma de doutor Honoris Causa reforça trajetória de Lula no combate às desigualdades

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu neste sábado, 25 de outubro, o título de Doutor Honoris Causa em Filosofia e Desenvolvimento Internacional e Sul Global concedido pela Universidade Nacional da Malásia (UKM). A homenagem reconhece a trajetória política de Lula e sua atuação pela inclusão social, do combate à fome e da cooperação internacional.

Durante a cerimônia, uma das muitas agendas da visita do presidente à Malásia, Lula afirmou que a honraria pertence a todo o povo brasileiro.

“Recebo o título com profunda emoção e sincera gratidão. Este título é um merecido reconhecimento ao povo brasileiro. Esse diploma não é do Lula. É de 215 milhões de brasileiros”, declarou. 

Recebo o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional da Malásia não como um ponto de chegada, mas como um estímulo a continuar lutando por um mundo mais justo, sustentável e solidário”
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

Para Lula, diploma de doutor honoris causa reafima fé na educação

De acordo com o presidente Lula, a homenagem reafirma sua fé na educação como instrumento de emancipação e reforça a tese de que a política deve ser instrumento de transformação.

“A láurea em Desenvolvimento Internacional e o Sul Global que recebo confirma minha convicção de que o papel da política é enfrentar as desigualdades, dentro dos países e entre eles. A política se constrói no dia a dia das salas e dos corredores das universidades. As ideologias que pregam o racismo, o colonialismo e a misoginia não encontram respaldo no conhecimento científico. O pensamento crítico é incompatível com a miséria e com a guerra”, disse.

Lula não tem diploma universistário, mas foi o que mais criou instituições de educação

Lula destacou o papel da educação em sua trajetória e no avanço do país, e ressaltou que o conhecimento é base para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Ele lembrou que a ampliação do acesso ao ensino superior vem sendo uma das marcas essenciais de suas gestões à frente do Palácio do Planalto.

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“Esse diploma não é do Lula. É de 215 milhões de brasileiros”, diz o presidente. Fotos: Ricardo Stuckert /PR

“Tenho orgulho de ser o presidente que mais criou instituições de ensino técnico e superior, mesmo sem ter diploma universitário. E que abriu as portas das universidades aos filhos das classes trabalhadoras”, disse.

Diploma é reconhecimento da história e do legado de Lula

O vice-reitor da Universidade Nacional da Malásia, Prof. Dr. Sufian Jusoh, reiterou que a homenagem simboliza o reconhecimento internacional ao legado de Lula, e destacou a contribuição do líder brasileiro para ampliar o acesso à educação a milhares de pessoas. “Ele se tornou o primeiro presidente do Brasil sem diploma universitário, mas foi, ao mesmo tempo, o presidente que criou o maior número de universidades públicas em toda a sua história. A Universidade da Malásia está realmente honrada de outorgar o título ao presidente do Brasil”, disse.

SINERGIA – O vice-reitor pontuou ainda o potencial de maior sinergia e diálogo entre as duas nações. “Essa visita não é só um marco na nossa relação duradoura, mas um novo capítulo que esperamos nos levar a maiores intercâmbios culturais e acadêmicos nos anos que estão por vir”, afirmou.

Veja com foi a entrega do diploma de doutor honoris causa para o presidente Lula

Lula é brasileiro vivo com mais diplomas de doutor honoris causa

Ao longo de sua trajetória como líder político, Lula recebeu 38 diplomas de Doutor Honoris Causa de instituições acadêmicas brasileiras e estrangeiras. A mais recente antes dessa homenagem na Malásia ocorreu em junho, pela Universidade de Paris 8, na França.

Ao reforçar a importância desse tipo de reconhecimento, o presidente afirmou que “recebe o título não como ponto de chegada, mas como estímulo a continuar lutando por um mundo mais justo, sustentável e solidário”. 

Relações comerciais com o Sul Global

No âmbito das relações de cooperação potencializadas por essa escala no Sudeste Asiático, Lula afirmou enxergar espaço para ampliar parcerias e intercâmbios no campo acadêmico e científico. “Que o dia de hoje seja mais uma semente lançada para fortalecer os laços humanos e para inspirar as novas gerações a sonhar, a questionar e a agir. Espero que o português do Brasil possa ser ouvido nos corredores da Universidade Nacional da Malásia. E que mais professores, pesquisadores e estudantes malásios possam vivenciar as instituições de ensino brasileiras”.

SUPERAÇÃO DA POBREZA – Ao mencionar a trajetória da Malásia, o presidente apontou a importância da ação do Estado no combate à pobreza e constatou o papel dos países do Sul Global na construção de uma nova ordem internacional baseada na cooperação e no diálogo. “A Malásia também é prova de que a ação do Estado como indutor do desenvolvimento é fundamental para a superação da pobreza”, disse.

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Título de Doutor Honoris Causa reforça trajetória do líder brasileiro na promoção da inclusão social, da educação e da cooperação entre países do Sul Global. Fotos: Ricardo Stuckert /PR

Leia o discurso de Lula ao receber o diploma de doutor honoris causa

Leia a íntegra do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao receber o diploma de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia, em Kuala Lumpur, no dia 25 de outubro de 2025.

É com muita honra que recebo o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Nacional da Malásia, com profunda emoção e sincera gratidão.

A minha trajetória remete à história de superação de milhões de compatriotas.

Este título é, também, um merecido reconhecimento ao povo brasileiro.

É uma honra ser homenageado por uma instituição que representa o compromisso da Malásia com sua identidade nacional.

Aqui foram forjadas lideranças engajadas com o progresso e com a transformação social deste país, como o primeiro-ministro Anwar Ibrahim e o primeiro astronauta malaio, Sheikh Muszaphar Shukor.

A Universidade Nacional da Malásia é jovem como a grande maioria das instituições de ensino superior do Brasil. 

Em nossos países, a educação superior foi, historicamente, pensada e reservada para as classes mais abastadas.

Para elites muitas vezes mais próximas das ex-metrópoles do que do seu próprio povo.

A primeira Universidade Federal brasileira foi estabelecida em 1920, 420 anos depois da chegada dos portugueses.

Tenho muito orgulho de ser o presidente que mais criou instituições de ensino técnico e superior, mesmo sem ter diploma universitário.

E que abriu as portas das universidades aos filhos das classes trabalhadoras.

Hoje, o Brasil projeta um futuro em que o desenvolvimento não se limita ao crescimento da riqueza de poucos.

Sabemos que um amanhã próspero só chega com justiça social, dignidade e oportunidade para todos.

É com essa convicção que meu governo retirou o Brasil do Mapa da Fome da FAO e que atingimos a menor taxa de desemprego já registrada.

A Malásia também é prova de que a ação do estado como indutor do desenvolvimento é fundamental para a superação da pobreza.

Sua história também se assemelha com a brasileira em outros aspectos. 

Somos países do Sul Global, com passados coloniais e sociedades plurais.

Partilhamos valores fundamentais como a defesa do diálogo, da cooperação, do multilateralismo e da justiça social.

Desempenhamos papel ativo no cenário internacional e somos fator de estabilidade em nossas regiões.

A láurea em “Desenvolvimento Internacional e o Sul Global” que recebo hoje confirma minha convicção de que o papel da política é enfrentar as desigualdades, dentro dos países e entre eles.

A política se constrói no dia a dia das salas e dos corredores das universidades.

Nos momentos difíceis da História, professores e estudantes mantiveram viva a chama do pensamento livre, do valor da ciência e da defesa da igualdade.

A ciência não se resigna diante da mazela de doenças socialmente determinadas ou de pandemias.

As ideologias que pregam o racismo, o colonialismo e a misoginia não encontram respaldo no conhecimento científico.

O pensamento crítico é incompatível com a miséria e com a guerra.

A juventude está indignada com o fato de que 673 milhões de seres humanos ainda dormem com fome todos os dias.

E as comunidades universitárias, em todo o mundo, têm elevado suas vozes contra a brutalidade do genocídio em Gaza e contra a inércia moral que impede até hoje que o Estado Palestino seja criado.

Quase sempre são os jovens que nos recordam que a paz é o valor mais precioso da humanidade.

Ela não pode ser comprada com os 2 trilhões e setecentos bilhões de dólares que o mundo gasta anualmente com armas.

Somente a ação solidária das pessoas e das nações pode pavimentar um futuro de prosperidade compartilhada.

O Brasil trabalha para fortalecer o diálogo e a cooperação entre os países do Sul Global.

Somos amaioria da população mundial e compartilhamos do mesmo desejo de justiça e superação das desigualdades. 

Rejeitamos a lógica da guerra como continuidade da política.

Tarifas não são mecanismos de coerção.

Nações que não se dobraram ao colonialismo e à dicotomia da Guerra Fria não se intimidarão diante de ameaças irresponsáveis.

O espírito de Bandung segue vivo.

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Lula recebe diploma de doutor honoris causa em desenvolvimento internacional. Foto: Ricardo Stuckert

O BRICS é ator fundamental na luta por um mundo multipolar, menos assimétrico e mais pacífico.

A defesa de uma ordem baseada no diálogo, na diplomacia e na igualdade soberana das nações está no cerne da proposta brasileira de reforma das Nações Unidas.

Sem maior representatividade, o Conselho de Segurança seguirá inoperante e incapaz de responder aos desafios do nosso tempo.

O recrudescimento do protecionismo e a paralisia da Organização Mundial do Comércio impõem uma situação de assimetria insustentável para o Sul Global.

É hora de interromper os mecanismos que sustentam, há séculos, o financiamento do mundo desenvolvido às custas das economias emergentes e em desenvolvimento.

É inaceitável que os países ricos tenham nove vezes mais poder de voto no FMI do que o Sul Global.

A arquitetura financeira internacional deve direcionar recursos para desenvolvimento sustentável dos que mais precisam.

Não podemos vislumbrar um mundo diferente sem questionar um modelo neoliberal que aprofunda as desigualdades.

Três mil bilionários ganharam 6,5 trilhões de dólares desde 2015.

Essa cifra supera o PIB nominal anual da ASEAN e do Brasil somados. 

Na busca por lucros ilimitados, muitos se esquecem de cuidar do planeta Terra.

As mudanças climáticas podem levar até 132 milhões de pessoas a mais para a extrema pobreza até 2030.

Uma década após o Acordo de Paris, faltam recursos para a transição justa e planejada. 

Sobretudo, falta tempo para corrigir rumos.

Estamos a vinte dias da COP-30, que será realizada no coração da Amazônia.

Será a COP da verdade.

Será o momento de superar a ganância extrativista e agir com base na ciência.

Menos de 70 países apresentaram novas metas nacionalmente determinadas de redução de emissões de gases de efeito estufa (NDCs).

Dentre os maiores poluidores, apenas 14 países cumpriram com o seu dever de casa.

Os dados são alarmantes.

Tudo indica que, mesmo que as atuais NDCs sejam cumpridas, o planeta ultrapassará o limite de 1.5 grau de aumento da temperatura do planeta.

Há poucos dias, pesquisadores apontaram que a mortalidade generalizada dos recifes de corais de águas quentes pode ser o primeiro ponto de não retorno ultrapassado pela humanidade.

As florestas tropicais são um ponto de não retorno que devemos evitar a todo custo.

Na Amazônia brasileira vivem 30 milhões de pessoas que têm direito a viver com dignidade.

O Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que lançaremos na COP 30, irá remunerar os serviços ecossistêmicos prestados ao planeta.

As universidades continuarão a desempenhar papel decisivo no enfrentamento da crise climática.

Seus alertas sobre os riscos ambientais que ameaçam o planeta devem ser ouvidos com urgência. 

Magnífico Senhor Reitor, Sua Alteza o Sultão de Negeri Sembilan,

Esta homenagem reafirma minha fé na educação como instrumento de emancipação e de igualdade.

Recebo o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Nacional da Malásia não como um ponto de chegada, mas como um estímulo a continuar lutando por um mundo mais justo, sustentável e solidário.

Um mundo em que os países do Sul Global tenham voz.

Malásia e Brasil podem ser a porta de entrada para promover maior conhecimento mútuo entre a América do Sul e o Sudeste Asiático.

Que o dia de hoje seja mais uma semente lançada para fortalecer os laços humanos entre a Malásia e o Brasil e para inspirar as novas gerações a sonhar, a questionar e a agir.

Continuarei trabalhando para ampliar o intercâmbio acadêmico e científico entre nossas universidades.

Espero que o português do Brasil possa ser ouvido nos corredores da Universidade Nacional da Malásia.

E que mais professores, pesquisadores e estudantes malásios possam vivenciar as instituições de ensino brasileiras.

Eles serão embaixadores da amizade entre nossos povos e formarão um corredor de ideias e inovação.

Agradeço a Vossa Alteza Real, aos professores e estudantes desta instituição, e ao povo da Malásia pela generosidade.

Esse diploma não é do Lula. Esse diploma é de 215 milhões de brasileiros. 

Muito obrigado.

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