Lula recebe presidente da Nigéria e assina acordos de cooperação

Brasil fortalece laços culturais e econômicos com a Nigéria em novos acordos
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A visita de Tinubu, a terceira ao Brasil em menos de um ano, destaca a prioridade para reverter o distanciamento da última década. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Nesta segunda-feira (25), Brasília recebeu a visita de Estado do presidente da Nigéria, Bola Tinubu, a convite do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A agenda de dois dias (25 e 26), que inclui reuniões e encontros com lideranças de outros poderes, marca um momento de reaproximação entre as nações que compartilham profundos laços históricos e culturais, em busca de reativar uma parceria econômica que já foi uma das mais fortes da África. Saiba mais na TVT News.

A visita de Tinubu, a terceira ao Brasil em menos de um ano, destaca a prioridade dada pelos dois governos para reverter o distanciamento da última década. “Definitivamente, a visita de Tinubu representa a volta do Brasil ao continente africano”, afirmou o presidente Lula. A última vez que um presidente nigeriano visitou Brasília foi em 2009.

Reativação do comércio e acordos estratégicos

O ponto central da visita foi a busca por impulsionar o comércio bilateral. A Nigéria foi por anos o maior parceiro comercial do Brasil na África, mas o intercâmbio caiu drasticamente de US$ 10 bilhões em 2014 para US$ 2 bilhões em 2024. O número de 2024, no entanto, já representa um crescimento de 20% em relação ao ano anterior, sinalizando um caminho certo para a recuperação da parceria.

Durante a visita, cinco novos acordos foram assinados nas áreas de cultura, serviços aéreos, ciência e tecnologia, somando-se a outros já existentes em setores como defesa e agricultura. Também foi aprovado o início de um voo direto a ser operado pela Air Peace, maior companhia aérea da Nigéria, ligando Lagos a São Paulo. A medida vai facilitar o fluxo de negócios, turismo e intercâmbio cultural.

Além disso, foram discutidas cooperações em setores-chave como agricultura e pecuária, petróleo e gás, fertilizantes e aviação. Para reforçar a segurança e o combate ao crime transnacional, foi anunciado que a Polícia Federal brasileira designará um servidor para atuar em Abuja ainda neste semestre, aprofundando a parceria com as autoridades nigerianas.

Vozes do Sul Global e reparação histórica

A visita também serviu para fortalecer posições conjuntas sobre a ordem mundial. Brasil e Nigéria, ambos defensores do multilateralismo, reafirmaram o compromisso com a construção de um mundo mais pacífico e livre de imposições hegemônicas. Os dois países compartilham a visão sobre o papel do Sul Global e a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas, onde suas regiões devem estar adequadamente representadas. A Nigéria, inclusive, conta com o apoio do Brasil em sua candidatura para se tornar um membro pleno do G20.

No que tange à questão climática, a preocupação com o meio ambiente e a preservação florestal foi um tema central. O presidente Lula convidou a Nigéria a apoiar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar durante a COP30, para remunerar países que conservam suas florestas.

Lula, em seu discurso, ainda ressaltou a dívida histórica do Brasil com o continente africano, moldada por 350 anos de escravidão. “O Brasil tem noção do que significa a nossa história, a nossa cultura, […] com 350 anos de escravidão a que o povo negro foi submetido no Brasil. A única forma da gente pagar não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade, em alinhamento político, econômico e cultural, porque o Brasil tem que ajudar a África transferindo tecnologia, transferindo conhecimento, tudo aquilo que a gente aprendeu aqui e que deu certo”, reforçou.

Veja a declaração de Lula:

Esta é a terceira viagem do presidente Tinubu ao Brasil em menos de um ano.

Ele veio ao Rio de Janeiro para as Cúpulas do G20 e do BRICS.

Hoje eu tenho a honra de recebê-lo para uma visita muito especial.

A última vez que um chefe de Estado nigeriano esteve em Brasília foi em 2009.

Por anos, a Nigéria foi nosso maior parceiro comercial na África.

Mas, na última década, o intercâmbio diminuiu drasticamente.

De 10 bilhões de dólares em 2014, passamos a 2 bilhões de dólares, em 2024.

Não foi por acaso. Nos últimos governos, o Brasil se distanciou da África.

Duas das maiores economias da América Latina e da África devem ter um intercâmbio muito maior.

Quando o presidente Tinubu e eu nos encontramos à margem da Cúpula da União Africana, em 2024, decidimos que essa situação precisava mudar.

Nos últimos meses, nossas equipes mantiveram contatos intensos.

O ministro Mauro Vieira esteve em Abuja em março.

O vice-presidente Geraldo Alckmin foi à Nigéria em junho, para reunião de Mecanismo de Diálogo Estratégico bilateral.

Dois ministros nigerianos participaram do II Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, que organizamos aqui em Brasília, em maio.

Hoje acolhemos expressiva delegação de ministros, parlamentares e empresários nigerianos.

Nesse período, já assinamos vários acordos sobre defesa, agricultura e pecuária, segurança, produção audiovisual, comércio e investimentos, turismo e energia.

Hoje estamos firmando mais cinco acordos, nas áreas cultural, de serviços aéreos, de ciência e tecnologia e de diálogo político.

Neste momento em que ressurgem o protecionismo e o unilateralismo, Nigéria e Brasil reafirmam sua aposta no livre comércio e na integração produtiva.

Seguimos empenhados na construção de um mundo de paz e livre de imposições hegemônicas.

São muitas as possibilidades de sinergias dos dois maiores países de população negra do mundo.

A agricultura e a pecuária, petróleo e gás, fertilizantes, aeronaves e maquinaria, entre outros, representam avenidas amplas de cooperação.

Aumentar as conexões diretas entre Nigéria e Brasil é outro passo essencial para aprofundar os laços entre nossas sociedades.

Aprovamos o início de um voo direto, a ser operado pela maior companhia aérea nigeriana, a Air Peace, entre Lagos e São Paulo.

Incentivar que nigerianos e brasileiros possam vivenciar o imenso patrimônio cultural e histórico que compartilhamos é chave para desenvolvermos ainda mais a parceria bilateral.

Com seus 230 milhões de habitantes, e seu imenso e rico território, a Nigéria é um parceiro do BRICS e um importante ator nos debates sobre a reforma das instituições de governança global.

A Nigéria possui todas as credenciais para se tornar membro pleno do G20. Compartilhamos posições muito parecidas a respeito do papel do Sul Global em uma ordem multipolar.

Nossas regiões precisam estar adequadamente representadas em um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado.

Reafirmamos nosso compromisso com o multilateralismo com a Organização Mundial do Comércio, dirigida pela economista nigeriana Ngozi Okonjo-Iweala.

A preocupação com o combate ao crime organizado, o terrorismo e ao tráfico internacional de drogas também esteve no centro de nossa reunião de hoje.

Uma das consequências perversas da globalização é a articulação de grupos criminosos para além das fronteiras nacionais.

Nenhum país isoladamente conseguirá debelar a criminalidade transnacional.

A criminalidade está evoluindo a uma velocidade sem precedentes, exigindo ações multilaterais urgentes e coordenadas.

Foi esta a mensagem que transmiti aos países que integram a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica, na última sexta-feira, em Bogotá.

A Nigéria foi um dos primeiros países a apoiar a vitoriosa candidatura do Brasil para a Secretaria-Geral da INTERPOL.

Ainda neste semestre, o Brasil vai designar um adido da Polícia Federal para atuar em Abuja, para aprofundar a coordenação entre nossos países.

Fortalecer a segurança pública também significa proteger a natureza.

Expus ao presidente Tinubu que meu compromisso de zerar o desmatamento ilegal até 2030 passa por atuar na repressão a todo tipo de ilícito ambiental.

A Nigéria também compartilha da urgência com que precisamos combater a mudança do clima e preservar a saúde do planeta.

A África é a região do mundo que menos emite gases do efeito estufa, mas uma das que mais sofrem as consequências perversas do aquecimento global.

Espero contar com expressiva participação de países africanos na COP30.

Os instrumentos internacionais hoje existentes são insuficientes para recompensar de forma eficaz a proteção das florestas, sua biodiversidade e os povos que vivem, cuidam e dependem desses biomas.

Por essa razão, convidei o presidente Tinubu a apoiar o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que o Brasil pretende lançar durante a COP30, para remunerar países detentores de florestas tropicais.

Meu caro presidente Tinubu, meus caros companheiros e companheiras que vieram da Nigéria para esse pequeno encontro com o governo brasileiro.

É importante que a gente diga, aos olhos da imprensa brasileira e da imprensa nigeriana, que o Brasil tem uma preocupação muito particular e peculiar com a nossa relação com a África e com todo o continente africano.

O Brasil tem noção do que significa a nossa história, a nossa cultura, o nosso jeito de ser, a nossa cor, a nossa alegria, a nossa música, com 350 anos de escravidão a que o povo negro africano foi submetido aqui no Brasil.

E a única forma da gente pagar não pode ser mensurada em dinheiro, tem que ser mensurada em solidariedade, tem que ser mensurada em alinhamento político, econômico e cultural, porque o Brasil tem que ajudar a África transferindo tecnologia, transferindo conhecimento, tudo aquilo que a gente aprendeu aqui no Brasil e que deu certo. Sobretudo na área agrícola, o Brasil tem obrigação de ajudar o continente africano a ter o mesmo desenvolvimento que nós tivemos aqui.

Nós já pensamos nisso muito tempo. E isso depois não andou, mas, agora, presidente Tinubu, pode estar certo que essa sua vinda ao Brasil, hoje, significa, definitivamente, a volta do Brasil ao continente africano.

Não como um país que quer ter relação hegemônica com ninguém, mas um país que quer ter uma relação solidária, fraterna, igualitária, pensando no crescimento do povo africano e pensando no crescimento do povo brasileiro.

Por isso, esteja certo que hoje é um dia muito importante para mim, muito importante para o meu país e, pode ter certeza, vai ser um dia muito importante para a história da Nigéria.

Muito obrigado.

Com informações da Agência Gov

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