O Censo Demográfico 2022 do IBGE revelou que 11.809.398 de pessoas vivem em Unidades de Conservação (UCs) no Brasil, o que representa 5,82% da população total do país. As Unidades de Conservação são áreas protegidas por lei, voltadas à preservação ambiental e podem ter dois tipos de manejo: uso sustentável e proteção integral. Entenda na TVT News.
A grande maioria dos moradores dessas áreas, 98,73%, ou 11.658.936 pessoas, vive em Unidades de Uso Sustentável, como Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e Reservas Extrativistas, sendo que as APAs concentram 97,10% da população total residente em UCs. Já as Unidades de Proteção Integral, com regras mais rígidas de ocupação, abrigam apenas 1,11% (131.492 pessoas).
Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (11), em evento no campus da Universidade Federal do Acre (UFAC), em Rio Branco, com transmissão ao vivo pelas redes do IBGE.
Estruturas das Unidades de Conservação
Um dos principais destaques da publicação é o acesso precário a saneamento básico: quatro em cada dez moradores (40,34%) vivem em domicílios com pelo menos uma falha em abastecimento de água, esgoto ou destinação de lixo, índice bem acima do registrado na população geral brasileira (27,28%). Em números absolutos, isso representa 4,7 milhões de pessoas.
Mais grave ainda, 856.495 moradores (7,31%) de Unidades de Conservação enfrentam simultaneamente a falta dos três serviços essenciais. Em domicílios com presença de povos tradicionais, os índices são ainda mais alarmantes: 59,94% dos indígenas e 85,94% dos quilombolas em UCs vivem com algum tipo de precariedade no saneamento.
“O acesso ao saneamento básico adequado em Unidades de conservação é um elemento fundamental da qualidade de vida e da qualidade ambiental”, afirmou Fernando Damasco, gerente do IBGE. Ele destaca os riscos de contaminação em áreas que deveriam ser referências em conservação.
Além disso, 46.239 domicílios (1,16%) nessas áreas não possuem sequer banheiro ou sanitário. O índice chega a 4,87% nas unidades de proteção integral, enquanto a média nacional é de 0,59%.
Povos tradicionais e juventude
As UCs concentram percentuais significativamente maiores de povos tradicionais em comparação à média nacional. Pessoas que se autodeclaram pardas são maioria entre os moradores (51,12%), seguidas de brancas (35,82%) e pretas (11,92%). Indígenas representam 1,12% (132.804 pessoas) e quilombolas, 2,39% (282.258 pessoas) da população residente em UCs.
O Nordeste é a região com o maior número de quilombolas em UCs, 243 mil pessoas, sendo 170,6 mil no Maranhão e 61,3 mil na Bahia os dois estados concentram 82,17% da população quilombola residente nessas áreas. Já o Amazonas lidera em número de indígenas, com 34.143 pessoas, seguido pela Bahia, com 29.908.
Chama atenção o dado de que, nas UCs, a população indígena é majoritariamente rural (51,27%), ao contrário da média nacional, em que 53,97% dos indígenas vivem em áreas urbanas. No Amapá, 100% da população indígena em UCs vive em zona rural.
Outro destaque do levantamento é a estrutura etária: as UCs têm uma população proporcionalmente mais jovem que o restante do país. Áreas como reservas extrativistas e florestas apresentam pirâmide etária semelhante à da população indígena brasileira, com grande concentração nas faixas até 30 anos.
Educação e analfabetismo
A taxa de analfabetismo nas UCs é de 8,84%, acima da média nacional de 7,00%. Ao todo, 817.383 pessoas com 15 anos ou mais não sabem ler ou escrever. Segundo o IBGE, embora a taxa de alfabetização de indígenas e quilombolas não varie significativamente entre residentes ou não em UCs, os índices são mais baixos quando considerados apenas os povos tradicionais.
Distribuição regional e tipo de gestão
As regiões Nordeste e Sudeste concentram 74% da população residente em UCs. O Nordeste lidera em números absolutos, com 4,4 milhões de pessoas, seguido do Sudeste, com 4,3 milhões. No entanto, o Centro-Oeste tem a maior proporção relativa: 9,95% da população da região vive em UCs.
O Distrito Federal é o destaque nacional, com 39,16% da população vivendo em UCs, seguido do Maranhão, com 22,96%.
Quanto à gestão, a maioria das pessoas vive em UCs estaduais (66,47%), com destaque para São Paulo, Maranhão e Bahia. As UCs federais abrigam 20,81%, e as municipais, 10,94% da população em UCs.

Dados do Censo sobre Unidades de Conservação (UCs):
- População total em UCs: 11.809.398 pessoas (5,82% da população brasileira)
- Tipo de manejo:
- Uso sustentável: 98,73% (11.658.936 pessoas)
- Proteção integral: 1,11% (131.492 pessoas)
- Composição racial:
- Pardos: 51,12%
- Brancos: 35,82%
- Pretos: 11,92%
- Indígenas: 1,12%
- Quilombolas: 2,39%
- Saneamento básico:
- 40,34% com pelo menos uma precariedade
- 7,31% com três precariedades simultâneas
- Domicílios sem banheiro/sanitário: 1,16%
- Taxa de analfabetismo: 8,84%
- Faixa etária: população mais jovem que a média nacional
- Localização:
- Urbana: 78,71%
- Rural: 21,29%
- Gestão das UCs:
- Estaduais: 66,47%
- Federais: 20,81%
- Municipais: 10,94%
- Estados com maiores populações em UCs:
- São Paulo (2,48 milhões)
- Maranhão (1,56 milhão)
- Bahia (1,35 milhão)
A pesquisa reforça o papel essencial das populações tradicionais e vulneráveis na preservação ambiental e aponta desafios urgentes na garantia de infraestrutura básica, educação e acesso à cidadania para milhões de brasileiros que vivem em áreas que deveriam ser modelo de equilíbrio entre sociedade e natureza.