A líder do partido de extrema direita Rassemblement National (RN), Marine Le Pen, foi condenada nesta segunda-feira (31) pelo Tribunal de Paris a cinco anos de inelegibilidade, quatro anos de prisão — dois deles em regime fechado, convertíveis para o uso de tornozeleira eletrônica — e ao pagamento de uma multa de 300 mil euros. A sentença decorre de um esquema de desvio de dinheiro público da União Europeia, no qual assistentes parlamentares contratados por Le Pen durante seu mandato como eurodeputada eram, na verdade, redirecionados para trabalhar em benefício do partido francês, sem prestar serviços efetivos ao Parlamento Europeu. Confira mais em TVT News.
O caso, que também envolve outros 27 correligionários ligados ao RN, revelou um prejuízo aos cofres públicos estimado em 2,9 milhões de euros (cerca de R$ 18 milhões). Segundo os promotores, esses recursos foram usados para financiar atividades partidárias do Rassemblement National, anteriormente conhecido como Front National, economizando gastos internos da sigla.
A defesa de Marine Le Pen argumentou que as funções de assessoramento no Parlamento Europeu não possuem definições rígidas e podem ser interpretadas de maneira ampla. No entanto, a juíza Bénédicte de Perthuis, responsável pelo caso, rejeitou essa argumentação e afirmou que Le Pen estava “no centro” do esquema fraudulento e tinha pleno conhecimento das irregularidades cometidas. Para a magistrada, ficou comprovado que os assessores contratados pelos fundos europeus estavam, na prática, realizando atividades partidárias em território francês, violando as normas de transparência e uso de verbas públicas.
Le Pen deixou o tribunal antes mesmo da leitura da sentença. Apesar da condenação, ela não perde seu atual mandato como deputada na Assembleia Nacional francesa. No entanto, a pena de inelegibilidade pode afetar suas ambições políticas futuras, especialmente em um cenário em que muitas pesquisas já a apontavam como uma das principais candidatas à Presidência da França em 2027.

A decisão judicial gerou repercussões tanto dentro quanto fora da França. Jordan Bardella, presidente do Rassemblement National e um dos nomes mais cotados para suceder Le Pen, usou sua conta na plataforma X para criticar a sentença. “A democracia francesa foi executada”, escreveu Bardella, ecoando uma narrativa amplamente difundida por aliados e simpatizantes da extrema direita.
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O Kremlin também divulgou uma nota acusando a Justiça francesa de atacar a democracia no país, enquanto Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e figura central da extrema direita europeia, classificou a decisão como injusta. Essas manifestações refletem o apoio que Marine Le Pen tem recebido de figuras conservadoras e nacionalistas ao redor do mundo, consolidando sua posição, junto ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como uma liderança global da direita populista.
Essa condenação marca mais um capítulo controverso na trajetória política de Marine Le Pen, conhecida por discursos contra a União Europeia, o euro e políticas contra imigração. Após a morte de seu pai, Jean-Marie Le Pen, Marine assumiu a liderança do partido em 2011, buscando “desdemonizá-lo” e atrair um espectro mais amplo de eleitores. Embora tenha alcançado sucesso em algumas frentes, suas três tentativas de conquistar a Presidência da França terminaram em derrota, sendo as duas últimas para Emmanuel Macron.
Apesar da possibilidade de recorrer da sentença, a decisão desta segunda-feira representa um golpe para sua imagem pública. Além disso, a pena de inelegibilidade pode inviabilizar sua participação em eleições futuras, dificultando seus planos de disputar novamente a Presidência em 2027.
O Rassemblement National, sob a liderança de Marine Le Pen, tornou-se uma força política na França, contudo, escândalos como este colocam em xeque a legitimidade do partido e expõem fragilidades. Com a ascensão de Jordan Bardella, a legenda busca renovar sua imagem, mas ainda enfrenta resistências em setores mais moderados da sociedade francesa.