Massacre de Eldorado do Carajás completa 29 anos

21 trabalhadores rurais foram assassinados por policiais militares em chacina que segue sem justiça
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Sebastião Salgado acompanhou o MST durante dois anos e registrou momentos depois do massacre em Eldorado do Carajás. Foto: Sebastião Salgado/Livro Terra/MST

Há 29 anos, em 17 de abril de 1996, 21 camponeses ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foram assassinados pela polícia, em Eldorado do Carajás (PA).

Os trabalhadores rurais protestavam por transporte e alimentação na estrada PA-150 e se dirigiam à fazenda Macaxeira para exigir sua desapropriação, quando foram surpreendidos por 155 policiais militares. Entenda o que foi o Massacre de Eldorado do Carajás na TVT News.

O massacre de Eldorado do Carajás

A data se tornou um marco da luta pela democratização das terras. Um ano antes, em setembro de 1995, 3,5 mil famílias organizadas pelo MST formaram um acampamento próximo à fazenda Macaxeira, em Curionópolis, cidade vizinha a Eldorado do Carajás. Já em março de 1996, a fazenda, que era considerada improdutiva pelos trabalhadores rurais, foi ocupada para exigir sua desapropriação.

Uma nova rodada de negociações com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ocorreu e ficou acordado que 12 toneladas de alimentos e 70 caixas de remédios seriam enviadas ao acampamento. Como a promessa não foi cumprida e a desapropriação tampouco andou, cerca de 1,5 mil famílias iniciaram uma caminhada em protesto de Curionópolis rumo a Belém, no dia 10 de abril.

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Há famílias que não foram indenizadas até hoje. Foto: Sebastião Salgado/Livro Terra/MST

Em 16 de abril, as famílias bloquearam a estrada PA-150 para exigir comida e ônibus – promessas que foram feitas em troca do desbloqueio da via. No dia seguinte, porém, os trabalhadores rurais foram informados de que as negociações estavam suspensas e mais uma promessa havia sido quebrada.

Após a quebra do acordo, por volta das 16h, no dia 17 de abril, os camponeses foram brutalmente cercados pela Polícia Militar na estrada. O que se seguiu foi um banho de sangue: 21 trabalhadores rurais foram mortos e 69 ficaram feridos no que ficou conhecido como o Massacre de Eldorado do Carajás.

Durante quase duas horas, os trabalhadores rurais foram submetidos à violência extrema. Alguns foram mortos com foices e facões — seus instrumentos de trabalho —, enquanto outros foram alvejados por mais de 30 tiros. O laudo pericial divulgado em maio de 1996 constatou que os 10 mortos foram atingido por tiros à queima-roupa.

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O Jornal Sem Terra, do MST, aponta para a impunidade um dia após o massacre. Foto: Acervo MST
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10 anos depois, o Jornal Sem Terra volta a falar sobre a impunidade, que persiste até hoje. Foto: Acervo MST

29 anos depois do massacre de Eldorado do Carajás

Os conflitos no campo continuam. Os dados divulgados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre o primeiro semestre de 2024 apontam que houve menos vítimas de violência, mas o número de conflitos continua alto: foram registradas 1.056 ocorrências, sendo 872 pela terra, 125 pela água e 59 casos registrados de trabalho escravo.

A Promotoria de Justiça denunciou 155 policiais militares por envolvimento no massacre de Eldorado do Carajás. Mário Pantoja e José Maria de Oliveira, comandantes das tropas, foram condenados. Pantoja faleceu em 2020, por complicações da Covid, e Oliveira cumpre a pena de 158 anos em regime domiciliar desde 2018.

Os outros 153 policiais militares foram absolvidos. Segundo o Ministério Público, os agentes retiraram corpos do local e destruíram provas para dificultar as investigações. O então governador do Pará, Almir Gabriel, e o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, que deram a ordem para “liberar a via [PA-150] a qualquer custo” não foram sequer indiciados.

Nesses 29 anos, não houve indenização do Estado a todas as famílias das vítimas ou atendimento à saúde de todos que ficaram com sequelas. Alguns dos feridos seguem vivendo com balas alojadas no corpo.

A fazenda Macaxeira, de 40 mil hectares, foi desapropriada e recebeu o nome de assentamento 17 de Abril, onde 690 pessoas vivem. A curva do S, o trecho de estrada onde os trabalhadores rurais foram assassinados pela Polícia Militar em 1996, se transformou em um memorial em homenagem às vítimas.

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