Planeta 9? Não são oito os planetas do Sistema Solar? Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Até 2006, Plutão figurava nesta lista celeste. Contudo, foi rebaixado. Isso porque seu tamanho é inferior a algumas luas de gigantes gasosos e outros objetos; Ganímedes, por exemplo, lua de Júpiter, tem mais de duas vezes o tamanho de Plutão. Parecia certo, oito planetas. Contudo, interferências orbitais nos vizinhos mais externos da Terra (planetas gasosos) podem indicar uma surpresa. A existência do planeta. Desta vez, um “quase gigante”. Um “mininetuno”, na verdade. Veja em TVT News.
A expansão do conhecimento sobre o universo avança com o uso de telescópios cada vez mais potentes (vide o James Webb e as sondas Kepler e Parker Solar Probe) e simulações complexas. Há um enigma que intriga os cientistas há décadas. A existência do chamado Planeta 9. Um corpo celeste hipotético que estaria situado nos confins do Cinturão de Kuiper, a uma distância 600 vezes maior do que a que separa a Terra do Sol. Isso parece cada vez mais provável. E um estudo brasileiro pode ajudar a desvendar a questão.
Apesar de ainda não ter sido detectado diretamente, a ideia da existência desse planeta ganhou força após o estudo das órbitas de seis objetos transnetunianos, descobertos entre 2004 e 2013. As trajetórias desses corpos celestes apontam para uma influência gravitacional invisível, como se algo os estivesse puxando em uma mesma direção. A hipótese, divulgada em 2016 pelos astrônomos Konstantin Batygin e Michael E. Brown, tem sido reforçada por novas pesquisas, incluindo um estudo recente conduzido por cientistas da Unesp, em parceria com instituições dos Estados Unidos e da França.
Planeta 9 e sua órbita exótica
A equipe de pesquisadores da Unesp realizou uma simulação para testar a hipótese do Planeta 9, modelando a evolução do Sistema Solar ao longo de 4,5 bilhões de anos. O estudo, publicado na revista Icarus, investigou como esse planeta hipotético influenciaria a formação e a distribuição de cometas provenientes do Cinturão de Kuiper e da Nuvem de Oort.
Os resultados indicaram que a presença do Planeta 9 não apenas ajudaria a explicar a formação dessas regiões, mas também poderia atuar como um reservatório adicional de cometas. Em especial, a pesquisa identificou uma correlação entre quatro cometas conhecidos no Sistema Solar, todos com mais de 10 km de diâmetro e períodos orbitais inferiores a 20 anos, e os modelos simulados com a presença do Planeta 9.
“Descobrimos que houve um match, uma coincidência significativa entre nossas simulações e a realidade observada. A presença do Planeta 9 explica melhor o número e as trajetórias desses cometas”, explica Rafael Ribeiro de Sousa, pesquisador da Unesp e autor principal do estudo.

Dimensão e impacto do Planeta 9
Os resultados da simulação também permitiram refinar as estimativas sobre o tamanho do Planeta 9. Enquanto pesquisas anteriores sugeriam uma massa equivalente a 15 vezes a da Terra, o novo estudo indica que o planeta teria cerca de 7,5 massas terrestres. Para comparação, Urano, o menor dos planetas exteriores, tem pouco mais de 14 massas terrestres.
“Mininetuno” é um termo que astrônomos utilizam para classificar planetas gasosos de massa até 10 vezes a da Terra. Eles são bem comuns. Estudos da sonda Kepler já identificaram vários destes anões gasosos em sistemas alienígenas.
Outro achado relevante foi a confirmação de que objetos do Cinturão de Kuiper com periélios inferiores a 30 Unidades Astronômicas e inclinação menor que 40 graus também podem ser indícios da existência do Planeta 9. “Isso significa que, ao observarmos mais desses objetos, podemos refinar ainda mais a localização do planeta hipotético”, explica Sousa.

O futuro da busca pelo Planeta 9
Apesar das evidências crescentes, localizar diretamente o Planeta 9 continua um desafio. Devido à enorme distância e à pouca luz refletida por ele, os telescópios terrestres atuais têm dificuldade em captá-lo. Para superar essa barreira, os cientistas aguardam a inauguração do Observatório Vera Rubin, no Chile. Previsto para entrar em operação ainda este ano, o megaempreendimento promete mapear com precisão milhões de novos objetos no Sistema Solar.
Enquanto isso, os pesquisadores seguem refinando suas simulações e voltam seus olhares para os chamados cometas de longo período, que levam centenas ou até milhares de anos para completar uma volta ao redor do Sol.
A cada nova descoberta, os cientistas se aproximam da resposta definitiva sobre um dos maiores mistérios do Sistema Solar. Se o Planeta 9 de fato existir, seu encontro não será apenas uma conquista astronômica, mas também um marco na compreensão das dinâmicas gravitacionais que moldam a vizinhança cósmica terrestre.