O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou hoje (22) que não há qualquer evidência concreta de uma operação de espiões em larga escala no Brasil, seja de origem russa ou de outras nacionalidades. Entenda na TVT News.
A declaração foi feita durante coletiva à imprensa na abertura da 4ª Reunião da Interpol para chefes de polícia da América do Sul, em Brasília, e ocorre um dia após o jornal The New York Times (NYT) publicar uma reportagem sugerindo que espiões russos estariam utilizando o território brasileiro como base para operações de inteligência.
“Não há nada de concreto nesse sentido de que há uma ação em larga escala de espiões, sejam da Rússia, sejam de qualquer país. Nossas autoridades, tanto do setor militar quanto do setor policial, mesmo da Abin, estão atentos para isso, estão funcionando regularmente”, declarou Lewandowski.
Imaginem espiões
A reportagem do NYT aponta que agentes de inteligência russos estariam utilizando identidades falsas de cidadãos brasileiros desde pelo menos 2022, com o objetivo de utilizar os passaportes do país — reconhecidos mundialmente — para circular em outras regiões com menos vigilância. A matéria cita uma suposta “Operação Leste”, iniciada há três anos.
Para o ministro da Justiça, a divulgação de informações não confirmadas pode gerar alarme desnecessário e comprometer a credibilidade das instituições. Ele reiterou que há apenas um caso isolado sob investigação, cuja responsabilidade recai sobre o Supremo Tribunal Federal (STF) — e não sobre a Polícia Federal, neste momento. “Enquanto não houver uma ação criminosa, não é o caso da Polícia Federal ingressar na questão”, explicou.
O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, reforçou a posição do ministro. “A Polícia Federal tem sua diretoria de inteligência que faz o trabalho de investigações, inclusive essa que tem o processo em trâmite no STF sob sigilo, e por essas razões a gente não pode avançar nesse comentário”, disse.
Duplo padrão
A repercussão da matéria do New York Times reacende um debate importante sobre o papel global dos Estados Unidos na espionagem internacional. Países como o Brasil conhecem os métodos e o alcance de agências norte-americanas como a CIA, historicamente envolvida em ações de desestabilização, infiltração e monitoramento ao redor do mundo — inclusive na América Latina.
É paradoxal que um país com uma das redes de espionagem mais amplas e documentadas da história busque este tipo de acusação. Ao longo das décadas, os EUA utilizaram da CIA e de outras agências de inteligência para intervir em eleições, fomentar golpes de Estado e espionar aliados e adversários, como ficou escancarado nas revelações de Edward Snowden.
Por isso, a denúncia veiculada pela imprensa norte-americana pode soar como um exercício de hipocrisia, especialmente quando feita sem a devida comprovação dos fatos e sem considerar o contexto geopolítico de disputas por influência global.
Autoridades em alerta
O governo brasileiro reitera que acompanha de forma atenta e contínua qualquer ameaça à soberania nacional, mas destaca a importância de não se ceder a narrativas alarmistas que podem ter motivações políticas ou estratégicas externas. Enquanto isso, a expectativa é de que o STF conduza com isenção e rigor as investigações em curso — sem pressões externas e com base em provas concretas, respeitando a autodeterminação das nações.