Morre Rosa Roisinblit, cofundadora das Avós da Praça de Maio, aos 106 anos

Incansável ativista, Rosa dedicou a vida à busca por seu neto e por centenas de crianças sequestradas durante a ditadura argentina
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Símbolo da incansável luta por memória e justiça, Rosa Roisinblit deixa um legado de 140 netos recuperados e a esperança de que a busca continue. Foto: Martín Rosenzveig

Faleceu na manhã do sábado (6), em Buenos Aires, a ativista Rosa Roisinblit, figura simbólica da luta pelos direitos humanos na Argentina e cofundadora das Avós da Praça de Maio. Rosa, que dedicou mais de 45 anos à busca por seu neto desaparecido e por centenas de outras crianças sequestradas durante a última ditadura militar, tinha 106 anos. Sua morte marca o fim de uma era de resistência e a consolidação de um legado de memória e justiça. Saiba mais na TVT News.

Uma história de luta

A vida de Rosa Tarlovsky de Roisinblit, nascida em Moisés Ville, na província de Santa Fé, foi marcada pela tragédia e pela resiliência. Formada em obstetrícia, ela viu sua vida se partir em 6 de outubro de 1978, quando sua filha, Patricia Julia Roisinblit, e o genro, José Manuel Pérez Rojo, militantes montoneros, foram sequestrados.

Patricia estava grávida de oito meses. Rosa, que já criava sua neta Mariana, então com 15 meses, recebeu o golpe mais duro ao saber que sua filha havia dado à luz um menino em um centro clandestino de detenção, mesmo lugar em que a criança foi roubada.

O que se seguiu foi uma busca incansável que a uniu a outras mães e avós, em um movimento silencioso, mas poderoso, que se tornaria uma das mais importantes organizações de direitos humanos do mundo. A princípio, as reuniões eram clandestinas, em cafeterias ou parques, disfarçadas de festas de aniversário para escapar dos olhos da repressão militar.

Foi nesse contexto que Rosa encontrou companheiras de luta como Chicha Mariani e Estela de Carlotto, com quem fundou a organização que viria a ser conhecida como Avós da Praça de Maio. O lema era claro: “procurar os netos sem esquecer os filhos”.

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Rosa com seus netos, Mariana e Guillermo. Foto: Télam

As Avós da Praça de Maio

Diante da inércia e da cumplicidade das instituições argentinas, a luta das Avós foi pioneira ao recorrer à ajuda internacional e à comunidade científica. Rosa Roisinblit teve um papel crucial no desenvolvimento do “índice de abuelidad”, uma técnica genética que permite determinar a filiação em ausência dos pais com 99,99% de certeza. Seus esforços foram decisivos na criação do Banco Nacional de Dados Genéticos, uma ferramenta fundamental para a identificação dos netos e netas apropriados.

A esperança se materializou em 13 de abril de 2000, quando, graças a uma denúncia anônima e ao incansável trabalho das Avós, Rosa finalmente reencontrou seu neto, Guillermo Roisinblit. Ele havia sido criado por um membro da Força Aérea. Apesar da alegria do reencontro, sua luta não cessou. Rosa seguiu ativa, participando de julgamentos por crimes contra a humanidade e defendendo a justiça para todos os desaparecidos.

Legado de Rosa Roisinblit

O impacto de Rosa Roisinblit e das Avós da Praça de Maio é incalculável. A organização já restituiu a identidade de 140 pessoas e contribuiu para que o direito à identidade fosse incluído na Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU. A vida de Rosa, marcada por uma batalha diária pela verdade e pela justiça, é um testemunho da força do amor e da solidariedade.

Seu neto, Guillermo, disse em uma emotiva mensagem que sua avó finalmente se reencontraria com a mãe e o avô, após 46 anos de busca. Rosa Roisinblit se tornou um farol para gerações futuras, ensinando que a memória e a justiça são os alicerces de uma sociedade que se recusa a esquecer.

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