O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) determinou a verificação das câmeras corporais utilizadas pelos policiais na chacina nos Complexos do Alemão e da Penha, que deixou 132 mortos, de acordo com a Defensoria Pública do estado. Saiba mais em TVT News.
A checagem das imagens são parte essencial da apuração sobre as mortes, disse o procurador-geral de Justiça do Estado, Antônia Campos Moreira. O MPRJ declarou que fará uma apuração independente e técnica sobre o que ocorreu.
A manifestação ocorreu durante coletiva de imprensa nesta quarta-feira (29), após o secretário da Polícia Militar do Rio de Janeiro, Marcelo Menezes, afirmar que parte das imagens das câmeras corporais pode ter se perdido por falta de bateria nos dispostivos.
Segundo o procurador-geral de Justiça do Estado, será apurado se a duração da bateria das câmeras realmente impossibilita a obtenção das imagens e se os dispositivos foram carregados o suficiente para gravar a ação. “As câmeras têm um limite de carga. Não sei se o limite foi excedido, é justamente isso que vamos apurar. Agora, as câmeras já foram solicitadas”, disse.
O fornecimento das imagens também foi solicitado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, em uma decisão que pede o esclarecimento de 18 pontos sobre a chacina. O magistrado marcou uma audiência para 3 de novembro sobre o episódio.
Além dos vídeos, o Ministério solicitou relatórios com informações sobre efetivo, armamentos e materiais apreendidos. O MPRJ também realizará oitivas e o acompanhamento das perícias e dos depoimentos de policiais e eventuais testemunhas.
“Estamos requisitando também o relatório detalhado com a especificação do efetivo utilizado por cada polícia na operação, com a determinação da função de cada policial, de cada grupo de policial, armas utilizadas, armas apreendidas, projéteis, cápsulas, projéteis recolhidos dos cadáveres, do local”, disse o procurador-geral. O MPRJ não participou do planejamento nem da execução da operação, afirmou Moreira.
Na coletiva, o procurador-geral disse que a tática “muro do Bope” também será investigada. A estratégia foi revelada pelo secretário da Polícia Militar nesta quarta. Segundo Marcelo de Menezes, policiais avançaram pela Serra da Misericórdia para encurralar pessoas e empurrá-las em direção à mata, onde equipes do Batalhão de Operações Especiais estavam.
Na manhã de quarta, familiares reuniram dezenas de corpos na praça São Lucas, no Complexo da Penha, que foram retirados de área de mata, onde a maior parte das mortes ocorreu. De acordo com o procurador-geral, a remoção dos corpos pelas famílias dificulta a perícia, mas não a inviabiliza.
Chacina no Rio foi maior do que massacre do Carandiru
A chacina realizada por forças de segurança pública nesta terça-feira (28) é a mais letal da história do estado e a maior do Brasil. A contagem de pelo menos 132 vítimas, de acordo com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro, supera a do massacre do Carandiru, quando 111 presos foram mortos em São Paulo, em 1992.
Chamada de Operação Contenção, a ação mobilizou cerca de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SESP) e o governo estadual, o objetivo era combater a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra lideranças e integrantes da facção.
Para o governador Cláudio Castro (PL), a chacina foi um “sucesso”. “Temos muita tranquilidade de defender o que foi feito ontem. De vítima, só tivemos os policiais”, disse o governador que é responsável por três das quatro operações policiais mais letais do Estado: a deste ano no Alemão e na Penha; a do Jacarezinho (2021), com 28 vítimas; e a da Vila Cruzeiro (2022), com 23 mortes.
Em entrevista ao Jornal TVT News Primeira Edição, Monica Benicio, viúva de Marielle Franco disse que “no dia seguinte [à chacina], o que vai acontecer é nada, porque de novo foi dentro de uma favela”. A ativista, nascida e criada na Favela da Maré, diz que episódios como esse passam em branco porque vitimam grupos contra os quais a violência é legitimada pela opinião pública e Estado: pessoas pretas e periféricas.
O Brasil tem um histórico de chacinas apagadas da memória coletiva do país, já que costumam vitimar minorias. Ações policias como a vista nesta terça-feira (28) não tem sucesso no combate ao crime organizado. Sem disparar nenhum tiro, em agosto, uma megaoperação da Polícia Federal contra o PCC foi realizada para desmantelar um esquema de fraudes e de lavagem de dinheiro no setor de combustíveis orquestrados pela facção.
