MST e Papa Leão XIV farão encontro no Vaticano

Papa Leão XIV realizará o primeiro encontro com movimentos populares de todo o mundo, incluindo o MST
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Papa Leão XIV, no Balcão do Vaticano Foto: Vatican News/Reprodução

Pela primeira vez, o Papa Leão XIV se reúne com o MST e outros movimentos populares para dar continuidade ao diálogo iniciado pelo Papa Francisco. Encontro está marcado para o dia 23 de outubro. Leia em TVT News.

No Vaticano, Papa Leão XIV receberá o MST e outros movimentos populares

O Papa Leão XIV realizará seu primeiro encontro com movimentos populares de todo o mundo, incluindo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em evento realizado em Roma na próxima semana.

Evento ocorre durante o V Encontro Mundial de Movimentos Populares (EMMP), seguindo a tradição do legado do Papa Francisco, que deu início ao encontro com entidades populares em 2014.

Dessa forma, o Papa Leão XIV demonstra a continuidade do diálogo com os movimentos populares no mundo, reunindo cerca de 130 representantes de entidades sociais, um chamado para que os movimentos continuem caminhando junto à Igreja na construção de um mundo mais fraterno.

Constituindo a esperança de outro mundo possível, fundado não no individualismo e sim na justiça, na solidariedade e na fraternidade”, declarou o Padre Mattia Ferrari, coordenador do encontro.

O evento pretende abordar temas como o direito à terra, teto e trabalho, além debater os desafios das questões geopolíticas como guerras, crise de representação política, crise imigratória e ambiental. Articulações de todos os continentes estão sendo convocadas para participar do evento.

Durante a agenda de outubro será realizado o encontro com os movimentos populares entre os dias 21 a 24 no Spin Time Labs, em Roma; no dia 23 às 16h está prevista uma audiência com o Papa Leão XIV, no Vaticano; e entre os dias 25 e 26 ocorre o Jubileu dos Movimentos Populares no Vaticano, incluindo uma missa na Praça de São Pedro.

A organização é impulsionado pelo Comitê Organizador dos Movimentos Populares, com o apoio do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (DISSUI), o Vicariato de Roma, e a colaboração do Pólo Cívico Esquilino e da comunidade de Spin Time Labs.

Papa Leão XIV dá continuidade do legado do Papa Francisco

Em 2024, o MST e outras organizações celebraram encontro com o Papa Francisco durante o evento Arena da Paz, no Vaticano, onde a bandeira do MST foi abençoada pelo pontífice. Na ocasião, João Pedro Stedile representou o Movimento, quando teve a oportunidade de discursar para os presentes, transmitindo a mensagem de solidariedade e lutas dos Sem Terra do Brasil, citando os versos do bispo Dom Pedro Casaldáliga: “Malditas sejam todas as cercas; malditas todas as propriedades privadas que nos impedem de viver e amar”.

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Encontro com o Papa vai tratar dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras terem acesso à terra, teto, de ter acesso a um trabalho digno, assim como reflexões mais sobre a necessidade da humanidade repensar a sua lógica de consumo, Foto: Reprodução/Instagram MST

Em 2020, o Papa Francisco já havia reconhecido os esforços dos movimentos sociais, como o MST, dedicando uma carta, onde dizia: “Se a luta contra a covid-19 é uma guerra, vocês são um verdadeiro exército invisível lutando nas perigosas trincheiras […]”. Em mensagem enviada devido às ações de solidariedade executadas durante a pandemia, período em que o Movimento Sem Terra distribuiu mais de 10 mil toneladas de alimentos para famílias em situação de vulnerabilidade.

Com este novo encontro, o novo pontífice, Papa Leão XIV, perpetua a aliança e reconhecimento da Igreja com a atuação dos movimentos populares.

“A expectativa que nós temos é de um encontro fraterno, mas ao mesmo tempo muito afirmado em compromissos concretos, diante do cenário que estamos vivendo, que é de aprofundamento das questões que nós já refletimos há 11 anos”, afirma Ayala Ferreira, da direção nacional do setor de Direitos Humanos no MST, representante do Movimento que estará diante do Papa no encontro com os movimento sociais.

Ela cita que os encontros anteriores dos segmentos populares com o papado, permitiu que a Igreja extraísse sínteses que foram colocadas nas suas várias publicações e diretrizes, e que o próximo encontro dará continuidade à essa trajetória, onde frente à um cenário global de suscetíveis crises, a Igreja se coloca disponível, em sinal de alento, assumindo um compromisso mais radical com as populações vulneráveis e com os que dedicam suas vidas lutando por justiça social e contra as desigualdades.

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Em 2020, o Papa Francisco já havia reconhecido os esforços dos movimentos sociais, como o MST. Foto: Vatican News

“Então, nós tivemos essa síntese dos três T’s, dos direitos de todos os trabalhadores e trabalhadoras terem acesso à terra, teto, de ter acesso a um trabalho digno, assim como reflexões mais sobre a necessidade da humanidade repensar a sua lógica de consumo, sua lógica de desenvolvimento capitalista, para cuidar do que o Papa Francisco mencionava da Casa Comum, da mãe terra e do direito de todos os seres vivos terem condições de existência sem ser nessa lógica desenfreada da mercantilização da vida e dos bens da natureza”, cita Ayala.

Para Frei Betto, documento do papa Leão XIV consagra a Teologia da Libertação

Em artigo publicado no ICL, o teólogo e escritor Frei Betto defende que o documento Exortação Apostólica Dilexi Te (“Eu te amei”), escrito pelo Papa Leão XIV, aproxima a Igreja Católica dos mais pobres, como pedia a Teologia da Libertação.

“A Exortação Apostólica Dilexi Te (Eu te amei), do papa Leão XIV, ressoa como sopro de esperança e significativa reafirmação do Evangelho vivido a partir dos pobres. No Brasil, onde a desigualdade social tem rosto, cor e território — o rosto das mulheres negras periféricas, o corpo exaurido dos trabalhadores informais, os povos indígenas ameaçados, os jovens de favelas mortos pela violência —, o conteúdo do documento não chega como novidade, e sim confirmação e estímulo da caminhada histórica da Teologia da Libertação e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)”, afirma Frei Betto.

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Lula e Papa Leão XIV: Diálogo sobre fé, justiça social e desafios globais. Foto: Vatican Media

“Não se trata de levar Deus aos pobres, mas de encontrá-Lo ali.” (79) . Para Frei Betto, “essa afirmação de Dilexi Te poderia ter sido escrita por Dom Hélder Camara, Pedro Casaldáliga ou irmã Dorothy Stang. Expressa o coração da espiritualidade libertadora, para qual o povo não é objeto de pastoral, mas sujeito histórico da libertação”.

“A Teologia da Libertação sempre enfatizou que o Reino de Deus é uma utopia que se concretiza na história e desemboca no outra lado da vida, e que a salvação começa aqui e agora, e a evangelização exige transformação social”, explica Frei Betto. O documento do Para Leão XIV “confirma que o amor cristão deve se traduzir em compromisso social, em ações que enfrentem as estruturas da exclusão”, conclui Frei Betto.

Dilexi Te convida a uma Igreja “em saída”, que abandone o conforto das sacristias e caminhe com o povo. No Brasil, onde a pobreza é estrutural e a fé é popular, o documento pontifício chega como reforço e confirmação da Teologia da Libertação, que nos lembra que o amor de Deus é revolucionário, rompe as cadeias da indiferença e denuncia as causas da injustiça.

Frei Betto

Com informações do MST

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