Mulheres negras sustentam lares, acumulam cuidados e enfrentam as maiores desigualdades

Boletim especial do 20 de Novembro do Dieese revela peso do racismo e do sexismo estruturais em relação ás mulheres negras
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Na semana do Dia da Consciência Negra, o Departamento de Estudos Intersindicais (Dieese) lançou um boletim sobre mulheres negras que escancara a permanência das desigualdades. Foto: EBC

Na semana do Dia da Consciência Negra, o Departamento de Estudos Intersindicais (Dieese) lançou um boletim sobre mulheres negras que escancara a permanência das desigualdades de gênero e raça no mundo do trabalho brasileiro. O estudo, baseado nos dados da PNAD Contínua do 2º trimestre de 2025, mostra que as mulheres negras, pilares históricos da economia e das famílias brasileiras, seguem enfrentando os piores indicadores de emprego, renda e reconhecimento profissional. Confira na TVT News.

Embora sejam presença central na sustentação dos lares e da economia do cuidado, essas trabalhadoras seguem invisibilizadas e mal remuneradas. O boletim destaca que 30% dos lares brasileiros, quase 24 milhões de domicílios, são chefiados por mulheres negras, proporção maior que a verificada entre homens brancos. Ainda assim, elas enfrentam mais barreiras para acessar e permanecer em trabalhos formais, além de dedicarem muito mais tempo aos cuidados não remunerados, o que limita suas oportunidades.

Desemprego dobrado, informalidade maior e sobrecarga

A desigualdade na inserção ocupacional aparece já na comparação dos contingentes de trabalhadoras. Segundo o levantamento, 23,9 milhões de mulheres negras estão fora do mercado de trabalho, número mais que o dobro do observado entre homens brancos. A taxa de desocupação chega a 8,0% entre mulheres negras; o dobro dos 4,1% verificados entre homens brancos.

Além disso, 39% das mulheres negras trabalham na informalidade, contra 31% dos homens brancos. Quase 40% delas não contribuem para a Previdência, o que revela vulnerabilidade social reforçada pela ausência de políticas públicas de cuidado, creches, saúde e mobilidade urbana.

O peso das tarefas não remuneradas, como limpeza da casa, cuidado de crianças, idosos e pessoas doentes, recai majoritariamente sobre as mulheres. Segundo o estudo, elas dedicam 21 dias a mais por ano a esse tipo de trabalho do que os homens.

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Renda menor e concentração em ocupações desvalorizadas

Mesmo quando conseguem uma ocupação, as mulheres negras recebem salários muito inferiores aos dos homens brancos. O rendimento médio delas é 53% menor, diferença que representa R$ 30.800 a menos por ano no bolso de cada trabalhadora. Entre pessoas com ensino superior, a desigualdade se agrava: a diferença anual chega a R$ 58 mil.

A metade dessas mulheres (49%) ganha no máximo um salário mínimo, enquanto entre os homens brancos essa proporção é de 20%.

A concentração em ocupações desvalorizadas também é marcante: uma em cada seis mulheres negras trabalha no serviço doméstico ou na limpeza de edifícios, atividades essenciais, mas historicamente precarizadas. Entre as dez ocupações mais comuns para esse grupo, seis pertencem à economia do cuidado, que inclui cozinheiras, cuidadoras, trabalhadoras de limpeza e profissionais de enfermagem de nível médio. O rendimento médio dessas ocupações mal ultrapassa R$ 1.800.

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Maria Izabel Monteiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do município do Rio de Janeiro, na sede do sindicato. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mulheres negras e escolaridade

Apenas 14% das mulheres negras têm ensino superior completo, contra 24% dos homens brancos. Mas, mesmo quando têm a mesma escolaridade, a desigualdade permanece, e aumenta. Mulheres negras com ensino superior ganham menos da metade do que recebem os homens brancos com a mesma formação.

No topo da hierarquia, a disparidade é ainda mais profunda: entre homens brancos, um em cada 17 ocupados é diretor ou gerente; entre mulheres negras, apenas uma em cada 46 chega a essas posições.

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Racismo e sexismo estruturais

O boletim sustenta que essas desigualdades não são acidentais, mas resultado direto de um sistema que historicamente desvaloriza o trabalho das mulheres negras. Da escravização aos empregos mais precarizados, sua força de trabalho sempre sustentou famílias, comunidades e a economia brasileira, sem o devido reconhecimento.

A publicação ecoa o lema da Marcha Nacional das Mulheres Negras de 2025: “Pelo bem viver, contra o racismo, o sexismo e as desigualdades”, e afirma que não há democracia, justiça social ou desenvolvimento sustentável possível enquanto o trabalho dessas mulheres seguir invisibilizado e precarizado.

Principais dados apresentados pelo Dieese

  • 30% dos lares brasileiros são chefiados por mulheres negras.
  • A taxa de desocupação delas é de 8,0%, o dobro da dos homens brancos (4,1%).
  • O rendimento médio das mulheres negras é 53% menor que o dos homens brancos — diferença anual de R$ 30.800.
  • Entre pessoas com ensino superior, a diferença anual média de rendimentos chega a R$ 58 mil.
  • 49% das mulheres negras ganham até um salário mínimo.
  • 1 em cada 6 está no trabalho doméstico ou na limpeza de edifícios.
  • Apenas 1 em 46 mulheres negras ocupa cargos de direção; entre homens brancos, 1 em 17.
  • 39% das trabalhadoras negras estão na informalidade.
  • 23,9 milhões de mulheres negras estão fora da força de trabalho.

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