Lula e chefes de governo da Espanha e África do Sul publicam artigo sobre multilateralismo

"A confiança no multilateralismo está sob tensão; e, no entanto, nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global", escreve os presidentes
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Presidente Lula e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, durante sessão de encerramento da Cúpula de Líderes do G20 . Imagem: Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o presidente da Espanha, Pedro Sánchez, se reuniram para escrever um artigo que aponta o multilateralismo como solução política para as “desigualdades crescentes, mudanças climáticas e déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável”. O texto foi publicado originalmento no O Globo e em veículos internacionais, além das plataformas do governo federal. A TVT News reproduz o artigo de Lula e demais presidentes sobre multilateralismo para você.

Multilateralismo: “Unindo forças para superar desafios globais”

A confiança no multilateralismo está sob tensão; e, no entanto, nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global

Por Luiz Inácio Lula da Silva, Cyril Ramaphosa e Pedro Sánchez

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do Brasil
Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul
Pedro Sánchez, presidente do Governo da Espanha

O ano de 2025 será decisivo para o multilateralismo. Os desafios que se apresentam diante de nós —desigualdades crescentes, mudanças climáticas e déficit de financiamento para o desenvolvimento sustentável— são urgentes e estão interconectados. É preciso tomar ações coordenadas e corajosas para abordá-los — e não recuar ao isolamento, a ações unilaterais ou a rupturas.

Três grandes encontros oferecerão uma oportunidade única de estabelecer um caminho em direção a um mundo mais justo, inclusivo e sustentável: a 4ª Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento (FfD4), em Sevilha (Espanha); a 30ª Conferência das Partes (COP 30) da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), em Belém (Brasil); e a Cúpula do G20, em Joanesburgo (África do Sul). Essas reuniões não podem ser apenas mais do mesmo. Precisam entregar progressos reais.

Um momento multilateral que não podemos desperdiçar — A confiança no multilateralismo está sob tensão; e, no entanto, nunca houve tanta necessidade de diálogo e cooperação global. É preciso reafirmar que o multilateralismo, quando se reveste de ambição e se orienta à ação, continua sendo o veículo mais efetivo para abordar desafios compartilhados e avançar em áreas de interesse comum.

Precisamos consolidar os sucessos do multilateralismo, especialmente a Agenda 2030 e o Acordo de Paris. G20, COP30 e FfD4 devem servir como marcos de um compromisso renovado com a inclusão, o desenvolvimento sustentável e a prosperidade compartilhada. Isso exigirá forte vontade política, plena participação de todos os atores relevantes, mentalidade criativa e a habilidade de compreender os condicionantes e as prioridades de todas as economias.

Abordar a desigualdade por meio de uma arquitetura financeira renovada — As desigualdades de renda vêm aumentando — tanto no âmbito interno das nações como entre elas. Muitos países em desenvolvimento sofrem com o peso insustentável de dívidas, espaços limitados de ação fiscal e barreiras que dificultam o acesso justo ao capital.

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Presidente Lula recebe o Primeiro-Ministro (presidente de Governo) da Espanha Pedro Sánchez, durante cumprimentos aos líderes do G20. Foto: Ricardo Stuckert/PR

Serviços básicos, como saúde e educação, têm de competir com taxas de juros crescentes. Trata-se não apenas de uma falha moral, mas de um risco econômico para todos. A arquitetura financeira global precisa ser reformada a fim de dar mais voz e representatividade aos países do Sul Global, assim como acesso mais justo e previsível a recursos.

É preciso avançar nas iniciativas de alívio da dívida, promover mecanismos de financiamento inovadores e identificar e abordar as causas do alto custo do capital para a maioria dos países em desenvolvimento. O G20, sob a presidência da África do Sul, prioriza essas três áreas.

Ao mesmo tempo, a reunião do FfD4, em Sevilha, será um momento decisivo para assegurar compromissos em direção a uma cooperação financeira internacional mais robusta para o desenvolvimento sustentável, incluindo o aprimoramento da taxação da riqueza global e externalidades negativas, a melhoria das estratégias de mobilização de recursos domésticos e a canalização mais impactante e efetiva dos Direitos Especiais de Saque.

Financiar transições justas em direção a um desenvolvimento limpo com resiliência climática — Para muitos países em desenvolvimento, uma transição climática justa permanece fora de alcance devido à falta de fundos e a desafios ao desenvolvimento. Isso precisa mudar. Na COP30, em Belém, uma cúpula realizada no coração da Amazônia, será preciso assegurar que nossos compromissos de financiamento climático sejam traduzidos em ações concretas.

O sucesso da COP30 dependerá da nossa capacidade de reduzir a distância entre promessas e resultados. Sob a convenção da mudança do clima, os pilares fundamentais para a COP30 incluirão a submissão, por todas as partes, de novas e ambiciosas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e o Roteiro Baku-Belém, que estabelece o aumento do financiamento da ação climática aos países em desenvolvimento, de todas as fontes públicas e privadas, para ao menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035.

Precisamos aumentar significativamente o financiamento para a adaptação climática, alavancar os investimentos do setor privado e assegurar que os Bancos Multilaterais de Desenvolvimento assumam papel mais relevante no financiamento climático. A conferência de Sevilha complementará esses esforços, assegurando que o financiamento climático não prejudique o desenvolvimento.

Uma resposta global e inclusiva às ameaças globais — O mundo está cada vez mais fragmentado, e é exatamente por essa razão que devemos redobrar os esforços para encontrar uma base comum. Joanesburgo, Belém e Sevilha precisam servir como bastiões da cooperação multilateral, demonstrando que as nações são capazes de se unir em torno de interesses comuns.

Em Sevilha, trabalharemos no sentido de mobilizar capital público e privado para o desenvolvimento sustentável, reconhecendo a inseparável relação entre estabilidade financeira e ação climática. Em Joanesburgo, o G20 reafirmará a importância de um crescimento econômico inclusivo. E, em Belém, estaremos lado a lado para proteger nosso planeta.

Ao vislumbrarmos 2025, conclamamos todas as nações, instituições internacionais, setor privado e sociedade civil a se colocarem à altura deste momento. O multilateralismo é capaz e precisa gerar resultados— porque os riscos são muito altos para permitirmos o fracasso.

O artigo sobre multilateralismo foi escrito por: Luiz Inácio Lula da Silva é presidente do Brasil; Cyril Ramaphosa é presidente da África do Sul; Pedro Sánchez é presidente do governo da Espanha

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