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Neiva Ribeiro: ‘luta é para avançar em melhorias nas condições de trabalho e remuneração dos bancários’

Neiva Ribeiro, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, fala sobre os desafios na mesa de negociação
Divulgação/SPBancários
Apesar dos lucros bilionários, setor bancário segue fechando agências, demitindo e precarizando serviços

Nesta quarta-feira (7), o Comando Nacional dos Bancários volta a se reunir com a comissão de negociações da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), desta vez, para reivindicar aumento real nos salários, na Participação nos Lucros e Resultados (PLR) e nos vales refeição e alimentação. O encontro será pela 6ª rodada da Campanha Nacional dos Bancários para a renovação da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). Em meio à mobilização da categoria, a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região, Neiva Ribeiro, uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, falou sobre os desafios na mesa de negociação com os banqueiros e a luta por manter os direitos dos trabalhadores, em meio à ampliação tecnológica e fechamento de agências.

As negociações começaram ainda em meados de junho e seguem até o final deste mês. As reivindicações da categoria passam desde a defesa do emprego, igualdade de oportunidades até cláusulas sociais, de saúde e econômicas.

A última negociação dos bancários ocorreu ainda durante a pandemia e governo Bolsonaro, cenário bastante diferente do que estamos vivenciando atualmente, com um governo democrático. O que mudou no país para os trabalhadores?

Neiva Ribeiro: O país mudou. Para começar, já na transição do governo, os trabalhadores foram recebidos pelo atual presidente, o que não acontecia. Poder ser ouvido, com um diálogo direto sobre as pautas da classe trabalhadora, é uma decisão política importante. O trabalho volta a sua centralidade como estratégia de crescimento econômico e desenvolvimento social.

A política de valorização do salário mínimo, pauta das centrais sindicais que vigorou durante os governos Lula e Dilma, foi retomada e garante impactos na renda dos trabalhadores assalariados e dos beneficiários da previdência, promove melhores patamares para as negociações coletivas e exercer papel fundamental para fortalecimento do mercado interno. Importante ressaltar os melhores resultados no mercado de trabalho com recuo na taxa de desemprego que está em 7,1%, criação de mais de 2,5 milhões de vagas formais desde janeiro de 2023 e aumento da massa salarial. O poder de compra dos trabalhadores, com a inflação em patamares mais baixos, tem sido restabelecido. Para se ter uma ideia, a inflação, na data-base da categoria em 2022, foi de 8,83%, já a projeção para este ano é de cerca de 4%, ou seja, menos da metade.

Além disso, outros avanços sociais em curso que afetam positivamente a vida dos trabalhadores com potencial de dinamismo econômico no Governo Lula, como a correção da tabela do imposto de renda que ampliou a faixa de isenção, relançamento do programa Minha Casa, Minha Vida e formulação de um programa para renegociação de dívidas e a implementação da Lei de Igualdade Salarial que representa um grande avanço na luta contra desigualdade de gênero.

Anos depois do golpe contra a presidenta Dilma, o Brasil viveu momentos de retrocessos sociais e econômicos. E os bancos continuam lucrando. O que lemos na grande imprensa é que o lucro caiu nos últimos anos, é isso mesmo?

Neiva Ribeiro: O setor bancário permanece sendo um setor altamente lucrativo. Mesmo durante a pandemia, permaneceu com lucro o que não ocorreu em outros setores. Em 2023, o lucro dos cinco maiores bancos totalizou R$ 108,6 bilhões com alta média de 2,4% em relação ao ano de 2022. No primeiro trimestre de 2024, o lucro já contabiliza R$ 29 bilhões, alta de 15% comparando com o mesmo trimestre do ano anterior. A estimativa para este ano é otimista, por parte dos banqueiros. Mas ainda assim, seguem fechando agências bancárias, demitindo e precarizando serviços para a sociedade.

Diante desse cenário, quais as perspectivas da categoria bancária para esta Campanha?

Neiva Ribeiro: Positiva. Realizamos uma Consulta Nacional com toda a base, foram quase 47 mil respostas. A discussão é bastante abrangente e envolve diversas dimensões do trabalho. Esperamos resultados positivos em relação às garantias sobre igualdade de oportunidades e saúde dos trabalhadores. No que se refere, às cláusulas econômicas, o aumento real do salário foi apontado como a principal reivindicação da base, com 93% dos respondentes. Acreditamos que os bancos possuem condições para tanto, Assim, a luta é para cumprir a expectativa dos trabalhadores e melhorar as condições laborais.

O teletrabalho foi uma conquista da categoria durante a pandemia, após mobilização do movimento sindical. Como os bancos vão tratar esse tema daqui para a frente?

Neiva Ribeiro: Antes de tudo, importante mencionar que a categoria bancária foi pioneira na discussão da regulamentação do teletrabalho, com garantias fundamentais como equipamentos, controle de jornada, direito à desconexão e auxílio home office. Este assunto, foi tema de discussão na Mesa que tratou sobre cláusulas sociais e mantivemos nosso compromisso com a necessidade de cumprimento da CCT e melhoria no valor do auxílio. Os bancos informaram que há 143 mil trabalhadores que realizam teletrabalho e mencionaram que o retorno ao trabalho presencial é uma realidade mundial, apesar de divulgar pesquisa que afirma que o trabalho híbrido ou remoto têm sido alternativas para atrair e reter profissionais das áreas internas.

Mudou a forma de fazer campanha, com as redes sociais?

Neiva Ribeiro: A campanha está nas redes e nas ruas. Na Consulta Nacional, perguntamos como os bancários preferem ser informados sobre as atividades sindicais e a Campanha Nacional dos Bancários, 56% informam que através do site, 37% via WhatsApp, 24% via jornal do sindicato e 18% via Instagram. Assim, nossa proposta é alcançar todos os veículos de comunicação. Material visual atrativo, agilidade na atualização, folders virtuais e impressos e tuitaços. Estamos presentes nas agências, nos prédios administrativos, sem esquecer do papel relevante das redes. A Campanha segue informativa, ágil e, muitas vezes, com doses de humor para se tornar mais atrativa.

Já foram cinco rodadas de negociação, quais os temas já discutidos com os bancos e o retorno deles?

Neiva Ribeiro: As mesas de negociação seguem temas específicos. Já tratamos de emprego e terceirização; cláusulas sociais que incluiu teletrabalho e jornada de 4 dias semanais sem redução salarial; igualdade de oportunidades, focando no cumprimento da lei de igualdade salarial e políticas de inclusão para pessoas trans; mesa temática PCDs, pessoas neurodivergentes e segurança bancária; na última rodada tratamos sobre saúde dos trabalhadores, enfatizando o adoecimento da categoria relacionado à saúde mental. A cada mesa trazemos dados, comparações internacionais e a percepção dos trabalhadores, inclusive, com depoimentos. Ainda não houve nenhum retorno efetivo, mas alguns compromissos foram postos e devemos avançar em diversos temas.

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