Obra da Fundação Perseu Abramo resgata histórias de chacinas no campo

Chacinas e conflitos agrários: os casos de Pau D´Arco e do Quilombo de Iúna é o novo livro da série sobre conflitos agrários da Perseu Abramo
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A publicação da FPA retrata episódios de chacinas, violência no campo, ocorridas em 2017. Foto: Lilian Campello/Alepa

No próximo dia 23 de abril, a Câmara dos Deputados será palco do lançamento do livro “Chacinas e conflitos agrários: os casos de Pau D´Arco e do Quilombo de Iúna”. Trata-se do terceiro volume da coleção “Chacinas e a politização das mortes: estudo de casos”, produzida pela Fundação Perseu Abramo (FPA). Entenda na TVT News.

Chacinas: memória e reparação

O evento integra a agenda do Abril Vermelho, série de mobilizações promovidas anualmente pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em memória às vítimas do massacre de Eldorado do Carajás, ocorrido em 1996 no Pará.

A publicação da FPA, fundação ligada ao Partido dos Trabalhadores, retrata episódios de chacinas, violência no campo, ocorridas em 2017 nos estados do Pará e da Bahia, respectivamente, nos municípios de Pau D’Arco e na comunidade quilombola de Iúna. Ambas as chacinas resultaram em múltiplas mortes de trabalhadores rurais em disputa por terra e território, revelando o aprofundamento dos conflitos agrários no Brasil contemporâneo.

Com base em entrevistas aprofundadas e análise de reportagens da mídia, os pesquisadores reconstituem os contextos, os impactos e os desdobramentos desses episódios. O caso da Bahia, inclusive, inspirou o premiado romance Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, que resgatou na ficção o drama de comunidades tradicionais diante da violência fundiária.

O livro é uma iniciativa do Projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo, em parceria com a Secretaria Agrária do PT, a Comissão Pastoral da Terra, a Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas e a Fundação Cultural Palmares. O lançamento contará com a presença de representantes dos ministérios da Justiça, do Desenvolvimento Agrário e da Igualdade Racial.

Chacina de Pau D’Arco (Pará, 2017)

No dia 24 de maio de 2017, dez trabalhadores rurais sem terra foram assassinados durante uma operação policial em uma fazenda no município de Pau D’Arco, no sul do Pará. A ação conjunta das polícias Civil e Militar ocorreu durante o cumprimento de mandados de prisão contra integrantes da ocupação da Fazenda Santa Lúcia, e rapidamente foi denunciada como execução sumária. Testemunhas afirmaram que não houve confronto e que as vítimas estavam rendidas. A chacina ganhou repercussão internacional e resultou em investigações e denúncias contra mais de dez policiais. O episódio é considerado um dos maiores massacres no campo desde Eldorado do Carajás, simbolizando a permanência da impunidade e da violência fundiária na região amazônica.

Chacina do Quilombo de Iúna (Bahia, 2017)

Em agosto de 2017, seis integrantes da comunidade quilombola de Iúna, no município de Lençóis, na Chapada Diamantina (BA), foram assassinados em um intervalo de poucos dias, em uma sequência de ataques motivados por conflitos fundiários e disputas em torno do controle do território tradicional. As vítimas, que pertenciam a uma comunidade reconhecida oficialmente como quilombola, enfrentavam ameaças constantes por parte de fazendeiros e grileiros da região. O caso, que revelou o descaso do poder público com os direitos territoriais das comunidades negras rurais, inspirou Torto Arado, romance de Itamar Vieira Júnior que deu visibilidade à luta e à resistência dessas populações diante da violência estrutural no campo brasileiro.

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