ONU denuncia fome generalizada em Gaza provocada por Israel

Israel pode matar 132 mil crianças palestinas com menos de cinco anos por desnutrição aguda, sendo 41 mil já estão em estado grave
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“Fome causada pela crueldade (de Israel), justificada com vingança, habilitada pela indiferença e sustentada pela conivência” Foto: ONU

A Classificação Integrada de Fase de Segurança Alimentar (IPC), órgão internacional apoiado pela ONU e principal referência global para crises alimentares, confirmou nesta sexta-feira (22) que há fome generalizada na Faixa de Gaza. Entenda na TVT News.

Trata-se do primeiro registro oficial de fome nesse nível no Oriente Médio e, segundo o relatório, a situação foi “construída por Israel” por meio da obstrução sistemática da entrada de ajuda humanitária, do cerco militar prolongado e de ataques deliberados a infraestruturas civis.

A fome atinge com gravidade a Cidade de Gaza, a maior do enclave palestino, atualmente alvo de uma nova ofensiva terrestre israelense. De acordo com o IPC, o colapso humanitário poderá se expandir para toda a Faixa de Gaza nos próximos meses, caso não haja mudanças imediatas no bloqueio à entrada de alimentos, água e medicamentos.

“Há fome generalizada em Gaza, em pleno século 21. Uma fome promovida abertamente por alguns líderes israelenses como uma arma de guerra. A fome de Gaza é prevenível, algo que se desenvolveu sob o nosso olhar e deve nos assombrar”, declarou Tom Fletcher, subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários.

Ele classificou a crise como “fome causada pela crueldade, justificada com vingança, habilitada pela indiferença e sustentada pela conivência”. Fletcher pediu um cessar-fogo imediato e a abertura das fronteiras para a entrada de ajuda internacional.

Situação catastrófica

Segundo o relatório, 132 mil crianças palestinas com menos de cinco anos correm risco de morte por desnutrição aguda, sendo 41 mil em estado grave. Pelo menos 200 pessoas morreram de fome desde o início do conflito, em outubro de 2023. A ONU alertou que toneladas de alimentos estão retidas nas fronteiras, impedidas de entrar por Israel, enquanto hospitais e centros de assistência infantil estão sob bombardeio constante.

“O desastre da fome produzida pelo homem em Gaza não pode ficar impune”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, acrescentando que a obstrução à ajuda pode configurar crime de guerra.

O Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Türk, também declarou que mortes por inanição causadas deliberadamente são passíveis de responsabilização internacional.

Ameaça de destruição total

A divulgação do relatório coincide com a escalada da ofensiva israelense sobre Gaza, onde um milhão de pessoas residem ou buscavam refúgio. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou que o Exército “tomará controle total” da cidade para “derrotar o Hamas”, mesmo diante de oposição internacional e riscos humanitários extremos.

O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, foi ainda mais incisivo. Em publicação nas redes sociais, afirmou:

“Se o Hamas não aceitar nossas condições – entrega de armas e libertação de todos os reféns – Gaza City será transformada em Rafah e Beit Hanoun”, cidades que já foram devastadas por ataques anteriores.

A ofensiva foi autorizada após o colapso das negociações indiretas com o Hamas, mediadas por Egito e Qatar, que propunham cessar-fogo de 60 dias e liberação de parte dos reféns. Israel rejeitou o acordo e disse que só aceitará “termos aceitáveis a Israel”.

Apesar dos apelos da ONU e de organizações civis, o Exército israelense já emitiu ordens para evacuação em massa da Cidade de Gaza. A própria ONU, no entanto, alertou que a transferência forçada de civis em meio a uma crise humanitária configura violação do direito internacional. Entidades como Médicos Sem Fronteiras e Cruz Vermelha anunciaram que permanecerão no território para atender quem não puder fugir.

Contexto do conflito

O ataque israelense é resposta ao atentado de 7 de outubro de 2023, quando militantes do Hamas invadiram o sul de Israel, matando 1.200 pessoas e sequestrando 251. Desde então, a campanha militar israelense já matou mais de 62 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, números reconhecidos por agências internacionais como os mais confiáveis disponíveis.

A ONU classifica a destruição causada por Israel como “sem precedentes” e afirma que o território está se tornando “inabitável” devido ao colapso de sistemas de saneamento, saúde, alimentação e educação.


Pressão internacional aumenta

Com o novo relatório da IPC, a pressão sobre Israel cresce no Conselho de Segurança da ONU e em organismos internacionais, incluindo o Tribunal Penal Internacional, que já investiga denúncias de crimes de guerra. Grupos humanitários pedem ações imediatas de países como Estados Unidos, França e Alemanha para impedir uma catástrofe ainda maior.

O cenário, segundo analistas, representa uma ruptura sem precedentes no sistema internacional de proteção humanitária, e poderá marcar um novo capítulo na responsabilização internacional por fome como arma de guerra.

Com informações da BBC

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