Pais de jovem morto pela PM de Tarcísio denunciam caso à ONU

Em março do ano passado, o governador foi denunciado pela escalada da letalidade policial no estado
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Família e ONG vão pedir responsabilização dos policiais envolvidos. Foto: Arquivo pessoal

Os pais de Marco Aurélio Cardenas Acosta, estudante de medicina morto pela Polícia Militar (PM) de São Paulo em novembro de 2024, apresentarão um pedido à Organização das Nações Unidas (ONU) para que o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) seja responsabilizado. O caso será denunciado nesta quinta-feira (19). Saiba mais em TVT News.

Julio Cesar Acosta Navarro, médico cardiologista, e Silvia Mônica Cardenas Prado, médica intensivista, apresentarão o apelo durante a 59ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada entre 16 de junho e 9 de julho, em Genebra. O pedido é para que o governo estadual e o Estado brasileiro sejam responsabilizados pela violência e letalidade policial. Vídeos e fotos do caso serão mostrados.

Em entrevista hoje, à Agência Brasil e à TV Brasil, o pai do estudante, o médico Julio Cesar Acosta Navarro, informou que levará uma série de fotos e documentos para mostrar que seu filho foi vítima de diversos crimes que vão do assassinato à omissão de socorro, passando pela xenofobia [o pai é de origem peruana] e o racismo.

“Este caso é uma situação de xenofobia, de racismo, de maldade e de princípios inculcados de violência sobre as pessoas que aparentemente são pobres”, disse Acosta Navarro. “Ele [Marco Aurélio] foi escolhido por uma questão de racismo, de discriminação social e de parecer pobre, apesar de estar em um bairro de classe média, como é a Vila Mariana. Ele parecia pobre porque estava sem camisa e de chinelo – essa era a personalidade dele, mas não era uma pessoa pobre”, afirmou o médico, que já está em Milão, a caminho de Genebra.

Segundo Acosta Navarro, seu testemunho sobre a violência que atingiu sua família é o mais importante a ser apresentado à ONU. “Para começar, eu tenho um testemunho vivo de como os policiais me negam essa chance [de Justiça], de como os policiais mentem na minha cara, de como os policiais criaram uma falsa imagem do meu filho, de como os policiais me intimidam portando armas”, enfatizou.

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A denúncia será feita em conjunto com a organização não governamental (ONG) Conectas Direitos Humanos. Foto: Juan Seguí Moreno/Divulgação

Relembre a morte do jovem pela PM

Marco Aurélio tinha 22 anos à época e foi morto com um tiro à queima-roupa, por volta das 2h50 do dia 20 de novembro de 2024, na escadaria de um hotel localizado na Rua Cubatão, na região da Vila Mariana, zona sul de São Paulo. O tiro partiu de um PM que participava da abordagem ao estudante. A ação foi registrada por câmeras de segurança do hotel.

As imagens mostraram uma rápida perseguição que começou quando o jovem deu um tapa no retrovisor de uma viatura policial. Desarmado, o estudante correu para o interior do hotel onde estava hospedado e foi seguido pelos policiais. Na escadaria que dava acesso aos quartos, um dos PMs deu um chute no abdômen do rapaz e caiu ao chão. Imediatamente, o outro PM atirou no estudante.

Na época, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP-SP) informou que Acosta havia golpeado a viatura policial e tentou fugir. Segundo a SSP, ao ser abordado, “investiu” contra os PMs e foi ferido.

“A versão oficial que me foi dita e escrita, quando meu filho ainda estava grave [no hospital], era que ele tinha batido na viatura, batido no policial e tentado tirar a arma [deles] e que os policiais, nessa consequência, tinham tirado a vida dele em defesa própria. Essa versão oficial foi derrubada horas depois, quando surgiu o vídeo do hotel”, disse o pai. “E as provas [que apareceram nas imagens do hotel] já eram suficientes para que os dois policiais tivessem sido presos em flagrante, no mesmo dia”, reforçou.

Não foi o que aconteceu. Acosta Navarro ressaltou que os dois PMs envolvidos no crime foram inclusive liberados para voltar ao patrulhamento – e na mesma região onde o filho foi assassinado. “Como é possível que até agora esse policial esteja sem punição? Os dois PMs foram premiados para patrulhar novamente a área onde eles trabalham, ou seja, na Vila Mariana.”

Espera por Justiça

Depois de tanta espera por Justiça no Brasil, o pai do estudante disse que decidiu ir à ONU em busca de respostas. “Essa é a pior tragédia que eu já vivi: eu perdi o meu filho. Na verdade, não o perdi, meu filho foi arrancado de mim”, disse o médico.

“De alguma maneira, a Polícia Militar, ao assassinar o meu filho, não pensava que esse rapaz de aparência humilde ia ser médico e que era filho de uma família de cientistas. Eles não pensavam que essa família não ia se calar. Muitos outros pais do Brasil, ou de São Paulo, poderiam estar na ONU também. Se eles não estão, não é porque não amam o filho. Eles não estão porque não têm condição ou porque são ameaçados”, reforçou.

Esta não é a primeira vez que a ONU recebe uma denúncia sobre a atuação da PM de São Paulo, no governo Tarcísio de Freitas. Em março do ano passado, o governador foi denunciado pela escalada da letalidade policial no estado, resultado de operações violentas desenvolvidas na Baixada Santista, que culminaram com, no mínimo, 56 mortes causadas pela PM.

Em nota encaminhada à reportagem, o governo de São Paulo disse “lamentar a morte do estudante” e reforçar “que todo e qualquer desvio de conduta por parte dos seus agentes é investigado e severamente punido”.

De acordo com o governo estadual, o inquérito policial sobre o caso, que foi instaurado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa, já foi concluído e relatado à Justiça. “O policial também foi indiciado no inquérito policial militar por homicídio doloso e permanece afastado das atividades.”

Por Elaine Patricia Cruz, repórter da Agência Brasil.

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