Pedágios do Tarcísio: governo de SP articula mais cobranças

O governador bolsonarista de SP, Tarcísio de Freitas, já implementa 9 pedágios na região de Sorocaba e articula mais de 30 próximos a Campinas
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Novos pedágios serão do tipo "free flow". Automáticos e o motorista deve correr atrás de como pagar. Foto: Tamoios

A gestão do carioca bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) como governador de São Paulo pretende privatizar 533 quilômetros de rodovias que cortam 31 municípios da região do Circuito das Águas Paulista. Isso significa, na prática, a implementação de mais de 30 novos pedágios na região. Esses novos pontos de cobrança se somarão a outros nove que já estão em implementação na região de Sorocaba. Entenda na TVT News.

Com investimento previsto de R$ 10 bilhões e prazo de concessão de 30 anos, o projeto vem com a promessa de melhorias na infraestrutura viária, mas acende um sinal de alerta: a instalação de 37 pórticos de pedágio no modelo “free flow” — sistema de cobrança automática por trecho percorrido.

Pedágio “free flow”

O plano tem sido duramente criticado por autoridades e moradores locais, que enxergam na proposta um ônus desproporcional aos usuários cotidianos das estradas — especialmente trabalhadores, comerciantes e estudantes. O modelo “free flow”, inclusive, recebe críticas pela falta de transparência.

Caso o motorista não tenha uma tarja de cobrança automática (como o Sem Parar e o ConectCar), ele deverá correr atrás para pagar em sites do governo. Caso não pague em determinado período, sofrerá multas muito mais salgadas do que o preço do pedágio.

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Novos pedágios na região do Circuito das Águas. Foto: GMaps/TVT News

A conta não fecha

Ao contrário das grandes rodovias de longa distância, onde os pedágios costumam representar um custo eventual, a realidade do Circuito das Águas é de um tráfego essencialmente regional. São trajetos curtos e frequentes entre cidades vizinhas, em que o custo acumulado pode pesar, mesmo com a tarifa de R$ 0,1477 por quilômetro em pista simples. Em rodovias duplicadas, o valor sobe para R$ 0,20/km.

“Um verdadeiro absurdo, que prejudicará imensamente os moradores da região, que, além de suportarem os altos custos, enfrentarão o aumento do frete, o que encarecerá alimentos e produtos essenciais”, definiu o deputado estadual Carlos Giannazi (Psol-SP).

“Serão 37 novos pontos de cobrança em várias rodovias que ligam nossa cidade a cidades vizinhas, principalmente no Circuito das Águas. Tem gente que hoje não paga pedágio que vai passar a pagar para fazer trajetos muito curtos. Denuncie”, criticou a vereadora Paolla Miguel, do PT de Campinas.

“É um ataque à mobilidade da nossa gente”, resumiu a vereadora Ana Bárbara Regiani Magaldi (União), presidente do Parlamento da Região do Circuito das Águas, que reúne representantes de 11 municípios. Em nota oficial, os vereadores manifestaram “indignação e repúdio” ao projeto, alertando que ele pode se transformar em uma barreira econômica e social para os habitantes da região.

Livre fluxo, mas para quem?

O sistema “free flow” é vendido como um avanço: dispensa praças físicas, calcula a tarifa com base no percurso exato e oferece desconto automático de 5% para quem tem TAG eletrônica. No entanto, na prática, favorece motoristas de passagem, em detrimento de quem depende das estradas no dia a dia para se deslocar ao trabalho, à escola ou ao comércio.

Pedágios em Sorocaba

Essa crítica ecoa em outro trecho do Estado: em Sorocaba, a forte reação popular forçou o governo a reduzir o número de pórticos anunciados, de 13 para 9. O recuo veio logo após o governador Tarcísio de Freitas afirmar que pretendia revisar os contratos em resposta às “dúvidas e discussões da população local”. O mesmo debate deverá ocorrer no Circuito das Águas, onde está marcada para 15 de maio, em Serra Negra, uma audiência pública com vereadores, prefeitos e deputados estaduais.

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Novos pedágios já em operação ou em instalação na região de Sorocaba. Fonte: GMaps/TVT News

Entre promessas e realidades

O edital da concessão ainda não foi publicado — sua divulgação está prevista para o segundo trimestre de 2025, com leilão no trimestre seguinte e assinatura de contrato em janeiro de 2026. Até lá, o governo promete duplicações de rodovias (como as SP-354, SP-360, SP-342), construção de contornos viários, sinalização, limpeza e vídeo-monitoramento.

No entanto, vale lembrar que nem toda modernização é, por si só, benéfica. A privatização de serviços públicos exige equilíbrio entre eficiência e justiça social. Uma estrutura viária mais moderna não pode significar maior exclusão para os que dela dependem.

O modelo de concessão atual, com tarifas acumuladas ao longo de trechos curtos e sem contrapartidas claras de acessibilidade ou isenção para residentes, parece ignorar a vocação regional dessas rodovias — que funcionam como artérias vitais para o cotidiano de milhares de paulistas.

A concessão, como está desenhada, pode priorizar arrecadação e fluxo rodoviário em detrimento da função social dessas vias. O Estado tem a obrigação de garantir que o desenvolvimento econômico não se transforme em um pedágio cobrado sobre o direito de ir e vir.

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