A vida de José Pepe Mujica é um testemunho vivo da militância libertária, uma narrativa entrelaçada de resistência, coerência e um humanismo radical que desafia convenções. Leia o artigo completo em TVT News.
A vida de Pepe Mujica
Por Sérgio Ribeiro
A vida de José “Pepe” Mujica é um testemunho vivo da militância libertária, uma narrativa entrelaçada de resistência, coerência e um humanismo radical que desafia convenções.
Nascido em meio à pobreza rural do Uruguai, sua trajetória começou nas lutas camponesas e se transformou em símbolo global de rebeldia ética. Nos anos 1960, integrou os Tupamaros, movimento guerrilheiro que combatia a ditadura e a desigualdade social, realizando ações como assaltos a bancos para redistribuir alimentos a famílias pobres. Capturado em 1972, passou 14 anos nas prisões da ditadura, incluindo períodos de isolamento em celas subterrâneas, onde a tortura tentou quebrar seu espírito, mas só fortaleceu sua convicção de que a liberdade vale mais que a própria vida.

Após a redemocratização, surpreendeu ao trocar as armas pela política institucional, não por conformismo, mas por acreditar que a verdadeira revolução se faz com diálogo, não ódio. Fundou o Movimento de Participação Popular, braço da Frente Ampla, e em 2010 chegou à presidência sem jamais abandonar sua chácara humilde, onde cultivava crisântemos e vivia com Lucía Topolansky, sua companheira de lutas. Doava 90% do salário presidencial a projetos sociais, dirigia um Fusca velho e recusava qualquer luxo, afirmando: “Não sou pobre, sou sóbrio. O consumismo nos torna escravos de coisas que não precisamos”.
Seu governo (2010–2015) foi um laboratório de políticas libertárias: legalizou a maconha para desmontar o narcotráfico, aprovou o casamento igualitário e garantiu o direito ao aborto, declarando que “o amor não tem gênero e o Estado não deve mandar no útero das mulheres”.
Pepe Mujica reduziu a pobreza de 37% para 11%, mas seu maior legado foi filosófico: na Rio+20, questionou a obsessão pelo crescimento econômico e defendeu uma “sobriedade feliz”, ecoando anarquistas e ecologistas que veem no consumo desenfreado uma forma de opressão.
Mujica, porém, nunca caiu na armadilha do sectarismo. Mesmo após ser torturado na ditadura, governou sem revanchismo, incluindo adversários políticos em seu projeto. “Perdoar não é esquecer, é renunciar à vingança”, dizia, lembrando que a liberdade exige generosidade, não rancor.

Segue como um velho de boné e botas sujas de terra, plantando árvores e semeando ideias de onde ele estiver . “Quando eu morrer, não quero estátuas. Plantem flores onde me enterrarem”, resumindo uma vida que transformou a política em poesia e a resistência em ato de amor.
A história de Pepe Mujica não é sobre um herói, mas sobre a possibilidade de viver em contradição com o mundo sem trair seus sonhos. Como ele mesmo avisa: A liberdade não é um presente — é uma luta diária. E se um dia deixarmos de lutar, ela desaparece.

Sobre o autor
Sérgio Ribeiro
Sérgio Ribeiro é Mestre em Ciências Sociais, vice-Presidente Estadual do PT-SP e por duas vezes foi Prefeito de Carapicuíba-SP
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