Pix pode ser “futuro do dinheiro”, diz Nobel de Economia

O sistema de pagamento brasileiro entrega o que as criptomoedas prometiam, diz o economista
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Paul Krugman ganhou o Nobel de Economia em 2008 e é professor da Universidade da Cidade de Nova York. Foto: The White House/Wikimedia Commons

O vencedor do Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman, elogiou o Pix, após o sistema criado pelo Banco Central (BC) entrar na mira do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como parte das sanções contra o Brasil. Krugman elenca as vantagens do meio de pagamento no artigo “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”, publicado nesta terça-feira (22) no Substack. Veja o que o economista estadunidense falou sobre o Pix na TVT News.

Pix torna Brasil líder na inovação financeira

No artigo, Krugman defende que o Pix promove inclusão financeira e transações por um baixo custo, duas conquistas que os entusiastas de criptomoedas alegavam, erroneamente, que seria possível alcançar pela tecnologia de blockchain. O economista compara os 93% de brasileiros que utilizam o Pix, de acordo com um levantamento do Google, com os 2% de norte-americanos que usaram criptomoedas em 2024.

O Prêmio Nobel diz que o Pix é como uma forma pública do Zelle, um sistema de pagamento operado por um consórcio de bancos privados dos Estados Unidos. A diferença é que o Pix é mais fácil de usar e está rapidamente substituindo cartões de crédito e débito e dinheiro físico, diz Krugman.

O economista explica o funcionamento do Pix no artigo, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). As transações ocorrem quase que instantaneamente: um pagamento feito por Pix cai em três segundos, enquanto com cartão de débito leva até dois dias e de crédito, aumenta para 28 dias. O custo das transações feitas com Pix para pessoas jurídicas é de apenas 0,33% do valor da transação — o valor sobe para 1,13% em cartões de débito e para 2,34%, de crédito, destaca Krugman.

O economista ainda alfineta Trump e elogia o sistema judiciário do Brasil, dizendo “A maioria das pessoas provavelmente não considera o Brasil um líder em inovação financeira. Mas a economia política do Brasil é claramente muito diferente da nossa — por exemplo, eles realmente julgam presidentes que tentam derrubar eleições”, em referência ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe.

“Interesses corporativos e fantasias cripto” impedem EUA de criarem um Pix

Krugman acredita que os Estados Unidos não terão um meio de pagamento como o Pix por dois motivos. Primeiro, porque “a indústria financeira dos EUA é muito poderosa e nunca permitiria que um sistema de administração pública competisse com seus produtos — mesmo se, ou especialmente se, o sistema público fosse superior”. No caso do Brasil, o economista relembra que Trump vê o Pix como concorrência desleal para as bandeiras de cartão de crédito e débito do país.

E segundo, porque “os EUA estão firmemente comprometidos com a ideia de que o governo é sempre o problema, nunca a solução”. O economista diz que os Republicanos nunca irão admitir que um sistema de pagamento de administração pública seja mais eficiente que os privados.

A conclusão de Krugman é pessimista: “outros países podem, sim, aprender com o sucesso do Brasil em desenvolver um sistema de pagamento digital. Mas os Estados Unidos provavelmente permanecerá preso por uma combinação de interesses corporativos e fantasias cripto.”

Krugman já havia criticado tarifaço de Trump

Em 9 de julho, no mesmo dia que Trump anunciou a tarifa de 50% para o Brasil, Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008, não poupou críticas à ação do presidente dos Estados Unidos, descrevendo-a como “maligna e megalomaníaca” em seu artigo no Substack, intitulado “Programa de Proteção a Ditadores de Trump“. 

Krugman enfatizou que Trump “mal finge ter uma justificativa econômica” para as tarifas, apontando como principal razão a intenção de “punir o Brasil por colocar julgar Jair Bolsonaro” após sua orquestrada tentativa de golpe. 

O economista argumenta que a medida megalomaníaca não terá amplo impacto na economia brasileira, já que o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, exporta menos de 2% de seu PIB aos Estados Unidos. Krugman questiona a crença de Trump de que poderia intimidar uma nação tão grande e com pouca dependência do mercado norte-americano a “abandonar a democracia”.

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