Em entrevista ao TVT News – Primeira Edição, o deputado federal Alencar Santana (PT-SP) criticou duramente o relator do (Projeto de Lei) PL Antifacção, o deputado Guilherme Derrite (PL-SP), e cobrou explicações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) sobre o papel de seu ex-secretário de Segurança Pública na elaboração do texto. Para o parlamentar, as versões anteriores do projeto “tentavam proteger a cúpula do crime organizado” ao limitar a atuação da Polícia Federal.
“Era um grande retrocesso e uma verdadeira blindagem aos líderes e seus comparsas”, afirmou Alencar. “O texto inicial impedia a Polícia Federal de participar de investigações contra o crime organizado, o que beneficiaria diretamente as facções criminosas.”
Durante a entrevista conduzida por Talita Galli, com comentários de Laura Capriglione e Eduardo Castro, Alencar Santana associou o projeto de Derrite à tentativa de esvaziar a atuação da PF e criticou o silêncio do governador paulista. “Eu queria saber onde está o governador Tarcísio. Até agora, ele não se pronunciou. Ele concordou com o texto inicial do seu secretário, que barrava a Polícia Federal? Está caladinho, deve estar escondido debaixo da mesa do Palácio, porque ninguém o vê e ele não fala nada”, ironizou.
Tentativa de restringir a PF e “pegadinhas” no PL Antifacção
O deputado afirmou que a bancada do PT ainda analisava a nova versão do projeto, apresentada após críticas públicas e recuos do relator. Segundo ele, a legenda se reúne “com cautela” para avaliar se o novo texto mantém “pegadinhas” que limitem a integração entre as forças policiais.
“O Derrite, em todas as versões anteriores, tentou blindar o crime organizado. Agora colocou ali algumas mudanças, mas o PT vai analisar com calma. Se o texto continuar com absurdos, nós não vamos avançar”, disse Alencar.
Entre as críticas, o petista citou uma tentativa anterior do relator de obrigar a Polícia Federal a comunicar os governadores dos estados antes de realizar operações contra facções criminosas. “Além das milícias e das facções que dominam territórios, a PF teria que avisar o governador? Isso é um absurdo completo”, declarou.
Recurso de facções deve financiar políticas públicas
Questionado pela comentarista Laura Capriglione sobre a destinação dos bens e recursos apreendidos de organizações criminosas — como na Operação Carbono Oculto, que apreendeu bilhões de reais em São Paulo —, Alencar defendeu que os valores sejam aplicados em políticas sociais nas periferias.
“Há quem queira que esse dinheiro vá só para a segurança pública. Mas precisamos discutir o que é segurança pública: é apenas armamento ou também políticas sociais que tragam dignidade às comunidades?”, ponderou.
O deputado afirmou que sugeriu ao relator da PEC da Segurança que o confisco de bens oriundos do crime organizado seja incluído na Constituição, ampliando a previsão já existente para o tráfico e o trabalho escravo. “O relator acatou. Precisamos garantir isso também no plano constitucional, para não haver dúvida de que o Estado pode confiscar bens de quem lucra com o crime.”
“Tentativa de golpe legislativo” e críticas à condução na Câmara
Alencar também denunciou a forma como Derrite protocolou a nova versão do PL, “de última hora”, com votação apressada em semana de sessões virtuais, quando parte dos deputados está em Belém para a COP30.
“Ele achou que, com a Câmara esvaziada, poderia empurrar contrabandos dentro de um projeto que é do governo Lula. Pegou uma proposta séria, do Executivo, e tentou transformá-la em palanque eleitoral para si próprio”, criticou.
Segundo o petista, Derrite “tomou de assalto” um projeto legítimo e o modificou sem diálogo. “Foi um golpe legislativo. Ele tenta posar de herói da segurança pública, mas seu texto é recheado de absurdos.”
“Um ataque ao Parlamento”
O deputado também criticou o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), por ter designado Derrite — que estava licenciado do mandato para chefiar a Secretaria de Segurança Pública paulista — como relator do PL Antifacção.
“É um verdadeiro ataque ao Parlamento. Derrite ficou fora por quase três anos, não fez nenhuma construção política que justificasse relatar um texto dessa importância. Isso foi um jogo combinado, com anuência do governador Tarcísio”, disse.
Para Alencar, a escolha da relatoria faz parte de uma tentativa da oposição de impedir que o PT conduza debates sobre segurança pública. “Eles têm medo de que o PT se fortaleça nesse tema, porque sabem que nossa visão é mais ampla, estruturada e responsável — não é um jogo de rede social”, afirmou.
“Tarcísio, sai da moita”
Encerrando a entrevista, o deputado reforçou as críticas ao governador paulista, cobrando que se manifeste sobre o papel de seu ex-secretário.
“O governador Tarcísio opina sobre medidas dos Estados Unidos, mas não fala nada sobre o que seu secretário fez. Tarcísio, sai da moita! O povo de São Paulo quer saber o que você pensa sobre o crime organizado e sobre a Polícia Federal”, concluiu.
