O governo Lula inicia nesta semana o novo ciclo do Plano Safra 2025/2026, conjunto de políticas públicas voltadas ao financiamento da produção agropecuária no Brasil. Este plano é dividido em duas vertentes. Uma para o grande agro e outra para a agricultura familiar. Esta última, responsável por mais de 70% dos alimentos na mesa dos brasileiros. Entenda na TVT News.
Hoje (30), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncia, ao lado do Ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, o valor do Plano Safra da Agricultura Familiar, por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Já na terça-feira (1º), será a vez da agricultura empresarial. A expectativa é de um volume global superior a R$ 500 bilhões, num dos maiores pacotes já lançados pela administração federal.
Diferenças no Plano Safra
Embora muitas vezes agrupados sob a mesma designação, o Plano Safra da agricultura familiar e o voltado à agricultura empresarial têm propósitos e públicos-alvo distintos. Compreender essas diferenças é essencial para entender seus impactos diretos sobre a economia e, principalmente, sobre o preço dos alimentos no Brasil.
Criado na década de 1970, o Plano Safra é uma política anual de crédito rural que visa garantir acesso a financiamento, seguros, tecnologias e políticas agrícolas aos produtores brasileiros, com linhas específicas de crédito para custeio, investimento, comercialização e industrialização.
Ao longo do tempo, o plano se desdobrou em duas grandes vertentes. O Plano Safra da Agricultura Empresarial, voltado a médios e grandes produtores; e o Plano Safra da Agricultura Familiar, operacionalizado principalmente por meio do Pronaf, atendendo pequenos agricultores.
Ambos compartilham o objetivo de fomentar a produção rural, mas o fazem com critérios, valores e taxas de juros diferentes, levando em conta a capacidade de pagamento e o perfil de risco dos beneficiários.
Plano Safra e o Plano Safra Familiar
A principal diferença entre os dois planos está no público atendido e nas condições de crédito.
Plano Safra Empresarial
- Atende grandes e médios produtores;
- Taxas de juros mais altas, próximas a 10% ao ano ou mais;
- Valores maiores por operação;
- Foco em exportação, commodities e grandes investimentos;
- Forte presença de financiamento via mercado financeiro, como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Cédulas do Produto Rural (CPRs).
Plano Safra Familiar (Pronaf)
- Focado em agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas e povos originários;
- Taxas de juros menores: variam entre 2% e 6% ao ano, especialmente para produção de alimentos básicos e práticas agroecológicas;
- Limites menores por contrato, mas com crescimento importante nos últimos anos;
- Objetivo principal: garantir segurança alimentar, produção de alimentos básicos, fortalecimento de economias locais e práticas sustentáveis.
Segundo a secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiaveli, o Pronaf é central para a produção de arroz, feijão, mandioca, leite, hortaliças, frutas e outras proteínas consumidas no dia a dia das famílias brasileiras. Esses produtos representam a maior parte dos alimentos do dia a dia.
Política de preços e o Plano Safra
O efeito do Plano Safra no preço dos alimentos se dá por meio de três mecanismos principais. Entenda cada um deles.
Custo de produção
Os produtores utilizam as linhas de crédito para comprar sementes, insumos, fertilizantes, tratores e contratar mão de obra. Quando os juros sobem, como em 2025 com a Selic a 15%, o custo para produzir aumenta e essa elevação tende a ser repassada ao consumidor final.
Neste ciclo, o governo já confirmou alta de 1,5 a 2,5 pontos percentuais nas taxas de todas as linhas de crédito rural. Mesmo no Pronaf, o aumento pode chegar a 2 pontos percentuais.
Volume de financiamento
Quando o crédito é escasso ou chega com atraso, os produtores podem reduzir áreas plantadas ou postergar investimentos. Em 2024, o desembolso de recursos caiu 40% no primeiro bimestre da safra, o que impactou a oferta. Menor oferta tende a gerar maior preço no mercado.
Fomento à produção de alimentos básicos
A agricultura familiar, via Pronaf, é responsável por mais de 70% dos alimentos consumidos pelos brasileiros, segundo dados do próprio governo. Quando esse setor é bem financiado, a oferta de alimentos básicos cresce e isso ajuda a conter a inflação dos alimentos.
No último ciclo (2024/2025), a produção familiar bateu recordes: R$ 76 bilhões foram aplicados via Pronaf, com destaque para arroz, feijão, leite, café e hortaliças. O novo Plano, com R$ 78,2 bilhões previstos, promete ampliar ainda mais esse efeito.
Pronaf: motor do desenvolvimento local
O Plano Safra Familiar também tem papel decisivo no desenvolvimento de comunidades rurais. Em 2024, 57% dos contratos foram assinados por mulheres e houve crescimento de 73% nos financiamentos para maquinário agrícola, gerando mais autonomia e produtividade no campo.
No Nordeste, por exemplo, o ticket médio dos contratos saltou de R$ 6 mil para R$ 35 mil. Isso mostra que, além de produzir alimentos, o Pronaf é vetor de inclusão social, geração de renda e combate à pobreza rural.
Sustentabilidade
O Plano Safra 25/26 também reforça o papel da agricultura frente à emergência climática. Segundo Fernanda Machiaveli, o objetivo é financiar a adaptação dos agricultores às mudanças ambientais, com foco na agroecologia e na transição energética.
Nesse sentido, há incentivos diretos à produção sustentável, com redução de até 1 ponto percentual na taxa de juros para projetos que adotam práticas ambientalmente corretas.
Outro ponto importante é a renegociação de dívidas e o reforço do seguro rural, especialmente para estados atingidos por desastres, como o Rio Grande do Sul. O Plano prevê R$ 210 milhões em crédito extraordinário para seguros, além da ampliação de apólices com recursos federais.
Agro, Brasil e Plano Safra
O Plano Safra, em suas duas versões, é peça-chave na formação do preço dos alimentos no Brasil. Enquanto a agricultura empresarial garante o abastecimento em larga escala e as exportações, é a agricultura familiar que sustenta a mesa do brasileiro e quanto mais bem financiada, mais alimentos acessíveis e saudáveis chegam à população.
Diante de um cenário de juros altos e crises climáticas, o sucesso do Plano Safra 25/26 dependerá não apenas de valores recordes, mas de execução eficiente e compromisso com a sustentabilidade.