PM que matou jovem negro em SP foi reprovado em teste psicológico da Polícia

Fábio Anderson Pereira de Almeida prestava concurso para a Polícia Científica do Paraná em 2023, mas foi considerado inapto
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Guilherme Dias Santos Ferreira foi baleado na cabeça quando estava de costas. Foto: Reprodução/Instagram

O policial militar Fábio Anderson Pereira de Almeida, que assassinou o jovem negro Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, com um tiro na cabeça, em São Paulo, foi reprovado em um teste psicológico da Polícia Científica do Paraná em 2023, dois anos antes do caso, que ocorreu na sexta-feira (4). Entenda em TVT News.

O PM prestava concurso público para o cargo de agente auxiliar de perícia oficial da Polícia Científica do Paraná, mas foi considerado inapto quando reprovou na avaliação psicológica. Posteriormente, Fábio Anderson Pereira de Almeida recorreu ao Tribunal de Justiça do Paraná para tentar reverter a decisão e seguir na disputa pela vaga, mas o pedido foi negado em novembro de 2024.

De acordo com o teste, obtido pelo g1, o PM não atingiu os parâmetros esperados em três das dez características avaliadas: Fábio Anderson Pereira de Almeida apresentou classificação baixa nos critérios Agressividade Controlada e Equilíbrio Emocional, e muito baixa na classificação Trabalho em Equipe.

Segundo a banca avaliadora, Fábio Anderson Pereira de Almeida “não atendeu aos parâmetros exigidos para o exercício das funções do cargo”, mas “os resultados obtidos não pressupõem a existência de transtornos mentais”.

Nesta segunda-feira (7), o PM, do 12º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, foi afastado do serviço operacional. Após balear Guilherme Dias Santos Ferreira, o policial chegou a ser preso em flagrante por homicídio culposo, mas foi liberado após pagamento de R$ 6,5 mil de fiança.

É preciso repensar políticas de segurança pública, diz Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania

Em nota, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) manifestou solidariedade à família e aos amigos de Guilherme Dias Santos Ferreira, “que teve sua vida ceifada de forma brutal”. A pasta lamenta “mais uma vez, presenciamos a vida de um jovem negro ser interrompida pela violência, um cenário dolorosamente cotidiano em nossa sociedade”.

O assassinato de Guilherme Dias é “um alerta contundente de que precisamos, urgentemente, repensar as políticas de segurança pública e o papel de nossas forças policiais no combate à violência”, diz a nota. “É imperativo que a atuação policial seja pautada pelo respeito inegociável aos direitos humanos, garantindo a segurança de todos, sem jamais colocar em risco a vida de pessoas inocentes”, continua o MDHC.

A pasta cobrou uma apuração rigorosa e transparente do caso, além da responsabilização dos envolvidos. O MDHC ressaltou a necessidade de “uma formação contínua em direitos humanos pelos órgãos policiais” que inclua educação antirracista.

Leia a nota na íntegra:

“O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) manifesta sua profunda solidariedade à família e aos amigos de Guilherme Dias Santos Ferreira, um jovem marceneiro negro de 26 anos, que teve sua vida ceifada de forma brutal. Guilherme foi assassinado com um tiro na cabeça por um policial militar de folga em 4 de julho de 2025, em Parelheiros, Zona Sul de São Paulo, enquanto simplesmente voltava para casa após um dia de trabalho.

Mais uma vez, presenciamos a vida de um jovem negro ser interrompida pela violência, um cenário dolorosamente cotidiano em nossa sociedade. O que torna este caso ainda mais grave é o fato de o assassinato ter sido cometido por um agente de segurança pública, alguém que deveria zelar pela proteção da vida.

O trágico episódio envolvendo Guilherme Dias é um alerta contundente de que precisamos, urgentemente, repensar as políticas de segurança pública e o papel de nossas forças policiais no combate à violência. É imperativo que a atuação policial seja pautada pelo respeito inegociável aos direitos humanos, garantindo a segurança de todos, sem jamais colocar em risco a vida de pessoas inocentes.

Diante disso, o MDHC reitera a necessidade inadiável da adoção de uma formação contínua em direitos humanos pelos órgãos policiais, com a aplicação prática dessas diretrizes em seus protocolos operacionais. Necessariamente, essa formação deve incluir uma educação antirracista, combatendo o racismo institucional que, infelizmente, ainda permeia nossas estruturas de segurança pública e se manifesta em ações violentas e discriminatórias.

Frente à gravidade dos fatos, o MDHC exige uma apuração rigorosa, célere e transparente do caso, com a imediata responsabilização de todos os envolvidos. A justiça para Guilherme Dias e sua família é um passo fundamental para a construção de uma sociedade mais justa, onde a cor da pele não defina o risco de morte e onde a dignidade humana seja o nosso valor mais sagrado.”

Entenda o caso da morte do jovem

Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, foi morto por um policial militar na noite de sexta-feira (4), em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo. O jovem foi baleado na cabeça quando corria em direção ao ponto de ônibus, após sair do trabalho em uma fábrica de móveis. Em sua mochila, o jovem carregava apenas uma marmita, talheres, um livro e a roupa do trabalho.

Conforme o boletim de ocorrência, o PM, Fábio Anderson Pereira de Almeida, alegou que pilotava uma moto quando foi abordado por suspeitos armados que tentaram roubá-lo e reagiu com disparos. A Polícia Civil concluiu que Guilherme não tinha qualquer envolvimento na abordagem do policial, mesmo assim foi atingido. O jovem saiu do trabalho às 22h28, conforme indica o ponto eletrônico, e foi assassinado às 22h35.

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O PM Fábio Anderson Pereira de Almeida. Foto: Reprodução

O sociólogo e ex-ouvidor da Polícia, Benedito Mariano, diz que a Polícia Militar de São Paulo está gradativamente se transformando em uma milícia institucional. Esses crimes “sistematicamente ocorrem com jovens pobres e negros da periferia”, afirma.

Assim como Guilherme, outras duas pessoas foram vitimadas mesmo sem ter relação com o crime alegado pelo PM. No ponto de ônibus, uma mulher foi atingida de raspão por um disparo e Deillan Ezian da Silva Oliveira, colega de trabalho do jovem assassinado, foi algemado de bruços ao lado do corpo por suspeita de ter participado do assalto. Após prestar depoimento na delegacia, Deillan foi liberado.

“O caso foi registrado como homicídio e é investigado por meio de inquérito policial instaurado pelo Setor de Homicídio e Proteção à Pessoa (SHPP) de Guarulhos, que realiza diligências visando identificar e localizar os autores, bem como esclarecer os fatos. Demais detalhes serão preservados devido ao sigilo imposto”, diz nota da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.

O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo Mauro Caseri pediu ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa da Polícia Civil de São Paulo (DHPP) “a portaria e relatório de conclusão do inquérito policial; laudo necroscópico e respectivas representações gráficas da vítima fatal; laudos periciais do local do crime, exame balístico e exames residuográficos; imagens arrecadadas de câmeras de monitoramento da região, bem como informações sobre a distribuição judicial do feito”.

Além disso, o órgão também encaminhou ofício para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (DECRADI), para que a Polícia Civil investigue eventuais implicâncias raciais na ocorrência, já que Guilherme era negro.

Com informações de Agência Brasil.

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